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Cooperleste: a cooperativa da melhor idade é pau para toda obra

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Foto: Thiago Mucci

O cooperativismo de reciclagem é universo diverso e multifacetado. Enquanto em algumas cooperativas prevalecem jovens e mulheres, na Cooperleste há uma prevalência de catadores de meia e terceira idade.

Curiosamente, a Cooperleste - localizada no número 450 da estrada da Fazenda do Carmo, na divisa entre os bairros de Itaquera e São Mateus - partilha o terreno com outra cooperativa, a Casa do Catador, que é  formada por uma maioria de jovens.

No entanto, a faixa etária diferenciada não é motivo de esmorecimento. Pelo contrário. A Cooperativa de Produção, Coleta e Triagem de Material Reciclável de São Mateus (nome condensado na sigla Cooperleste) é formada por gente “pau para toda obra”.

A começar pelo presidente. Aos 59 anos, natural de Recife, Pernambuco, e desde 1974 em São Paulo, Josafá Roque de Oliveira passou por metalúrgicas, tecelagens e atuou como pedreiro antes de descobrir o mundo dos recicláveis depois de uma série de reveses.

O primeiro foi na crise do petróleo, em fins dos anos 70 do século passado, quando perdeu os empregos na indústria e passou a viver de bicos até chegar à extrema dificuldade financeira no final dos anos 90. Josafá ficou definitivamente sem emprego e chegou a quase passar fome para sustentar os seis filhos.

“Fiquei desempregado e comecei com a minha carrocinha, quando a cooperativa foi montada com auxílio da prefeitura, em 2003”, lembra. “Cheguei a viver com ajuda do bolsa-trabalho, que a Prefeitura tinha na época da Marta (ex-prefeita Marta Suplicy), até chegar aqui. No início, não tirávamos nada, mas eu acreditei e deu certo.”

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A luta contra a fome

Os momentos eram difíceis como a vida de milhões de migrantes nordestinos – aliás, presenças comuns no universo das cooperativas. Mulher de Josafá e mãe dos seus filhos, dos quais cinco já são casados, Almira Ferreira dos Santos de Oliveira, 55 anos, lembra das agruras. “Se não fosse minha sogra nos dar comida no início da cooperativa, meus filhos, o mais velho com 12 anos à época, passariam fome”.

Almira não via, no início, o trabalho do marido com bons olhos. “O que você vai fazer lá no lixo?”, costumava dizer antes de iniciar as cobranças por mais renda e um trabalho melhor. Uma década e meia depois, avalia a cooperativa como um negócio que dá chance para muita gente que não teria lugar no mercado de trabalho.

“O que nós fazemos ajuda a deixar o planeta mais limpo.”

O pronome na primeira pessoa do plural não é empregado ao acaso. Depois de implicar com o marido, Almira decidiu unir esforços e também virou uma cooperada. Ela ainda atua na esteira. Josafá, que é presidente há dois anos, começou também na coleta antes de virar encarregado de produção e conquistar a liderança de uma comunidade de 39 profissionais.

A maioria deles com mais de 40 anos. “Dois tem 65 e chegamos a ter aposentados que precisavam complementar a renda”, diz o presidente. A faixa etária predominante não impede que a Cooperleste processe e revenda, em um mês bom de trabalho, de 70 a 80 toneladas de resíduos.

Deste total, o grosso da carga vem da Ecourbis, empresa concessionária da coleta urbana e seletiva. “Mas conseguimos de 20 a 25 toneladas com nosso caminhão HR, por meio de parcerias com fóruns e empresas.”

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Josafá Roque de Oliveira, presidente da Cooperativa Cooperleste. Foto: Thiago Mucci

Ambiente familiar

O casal de cooperados também auxiliou outras pessoas ao longo da jornada. Há cerca de quatro anos, antes de virar presidente, Josafá e Almira foram abordados na porta de um supermercado por Nilzete Almeida Silva.

“Eu vi o casal de azul, achei que eles trabalhavam na varrição de rua e perguntei se tinham uma oportunidade de emprego”, recorda Nilzete, atualmente com 47 anos. Almira respondeu que sim e levou a futura amiga até a Cooperleste.

Quando chegou, tomou um susto ao ver “tanto lixo” e perguntou o que poderia fazer ali. “Mas com o tempo, vi um semblante diferente do ser humano aqui”, diz, não sem antes afirmar que tem orgulho da importância ambiental de seu trabalho.

“As pessoas são felizes, é como se fosse uma família.”

Os mais velhos da cooperativa, que compreende também uma maioria de 22 mulheres dentre os 39 membros, não são refratários à juventude. Pelo contrário. A secretária da cooperativa – cargo definido por eleição, como o presidente – tem apenas 22 anos. Ana Cristina Silva de Novaes, que é filha de Nilzete, começou aos 18, levada pela mãe. “No começo, achei estranho, mas aprendi a gostar de trabalhar na esteira antes de virar secretária”.

Ana sonha em estudar Direito e ser delegada de polícia. Teve uma vida menos sofrida que os pais e conseguiu concluir o ensino médio dentro da idade regulamentar. “Aprendi a gostar disso aqui pelo convívio com as pessoas”, diz a jovem.

Quando a mãe chegou a deixar temporariamente a cooperativa, pouco tempo atrás, ela não a acompanhou. “Não ia deixar as meninas e o trabalho que aprendi a gostar. Porque, na verdade, não trabalhamos com lixo, mas com material que tem que ser reaproveitado”.

Se de fato chegar à carreira de delegada, sentirá falta dos tempos de juventude entre senhores mais velhos que reciclavam o que para muitos desinformados é apenas lixo.


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