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Brasil atinge patamares de nível global em reciclagem de PET

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Auri Maçon

À frente da maior entidade sem fins lucrativos da indústria PET da América Latina, Auri Marçon, diretor executivo da ABIPET (Associação Brasileira da Indústria PET), atua como grande incentivador da reciclagem neste segmento. É também interlocutor de ações dentro do setor com empresários, fabricantes de embalagens, ONGs ambientais e governo. “Os últimos vinte anos têm sido dedicados intensamente ao avanço da reciclagem, principalmente no desenvolvimento de produtos que utilizam o PET reciclado como matéria-prima fundamental”, conta.

Formado em Engenharia Mecânica, com MBA em Marketing e Finanças pela Fundação Getúlio Vargas, o especialista analisa a dificuldade da redução do consumo de embalagens e ainda o desrespeito das prefeituras em relação à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). “Se os municípios estivessem de acordo com a Lei e implementassem os sistemas de coleta seletiva, o material seria recuperado em volumes muito maiores”.

Auri também enfatiza a importância da participação da população na causa. “Esperamos que os consumidores brasileiros, uma vez informados e conscientizados, façam parte do movimento e deem sua efetiva colaboração. Esse certamente será um fator importante para modificar o cenário de displicência diante dos hábitos de consumo e descarte”, diz.

Confira a entrevista na íntegra, a seguir:

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Área Industrial. Foto: TTstudio/shutterstock.com

Alguns especialistas apontam a falta de envolvimento da indústria para o desenvolvimento de embalagens menos poluentes ao meio ambiente ou que facilitem a reciclagem. De que maneira a indústria poderia colaborar mais com essa questão na sua opinião?

De fato, muitas empresas ainda não atentaram para a importância do desenvolvimento de embalagens que trazem melhoria em sua “performance” ambiental.   Porém, nos últimos 10 ou 15 anos uma avalanche de designers, técnicos, engenheiros, cientistas e inúmeras empresas vêm dedicando muitos recursos e energia na busca por uma evolução em suas embalagens, visto que não há outro futuro senão o de uma embalagem mais ‘amiga’ do meio ambiente. Em nosso setor, através da ABIPET, a indústria das embalagens de PET dá a sua colaboração, muito efetiva aliás.

Os últimos vinte anos têm sido dedicados intensamente ao avanço da reciclagem, principalmente no desenvolvimento de produtos que utilizam o PET reciclado como matéria-prima fundamental. Desse desenvolvimento surgiram produtos que hoje estão presentes no dia-a-dia das pessoas, como as fibras para utilização em roupas, carpetes e forrações para os veículos, peças para ônibus, caminhões, novas embalagens, resinas estruturais para produção de piscinas, banheiras, cerdas para vassouras e escovas, mármore sintético, entre muitos outros. Aliás, o Brasil é o país que mais desenvolveu diferentes tipos de aplicação para o PET.

Além disso, e antes mesmo de uma nova embalagem ser desenvolvida, a ABIPET possui uma espécie de guia para os desenvolvedores de embalagens. Trata-se das Diretrizes para os projetos de garrafas, que trazem dicas importantes para quem está projetando uma nova embalagem, de modo que o produto final será reciclado sem qualquer empecilho. As diretrizes são tão precisas que passaram a incorporar, há vários anos, as normas da ABNT para produção de garrafas PET.

Em outra frente, existe uma corrente que defende a diminuição do consumo como alternativa para auxiliar no gerenciamento do lixo. Como o senhor vê essa questão?

A redução do consumo de embalagem é realmente uma meta que vem sendo almejada pela sociedade, mas é difícil falar em redução de consumo para uma população de maioria carente e que gostaria, de fato, de poder consumir mais.  Para entendermos essa abordagem, precisamos de uma visão mais ampla e contemplar nessa análise o desperdício de alimentos produzidos pela lavoura ou até mesmo da água que abastece uma cidade. Em muitas regiões, o desperdício de alimentos entre a produção agrícola e o consumo nas residências chega a ser superior a 40%. A maior parte desse desperdício está vinculada a embalagens inadequadas para o transporte ou até para a comercialização desses alimentos.

As embalagens de PET, por serem leves inquebráveis e de baixo custo, permitem que alguns alimentos, como óleo comestível, água e diversos outros produtos, cheguem a populações muito distantes, protegendo o alimento ou o produto de forma muito eficiente.  É preciso entender que a embalagem é parte do produto e visa proteger o mesmo, para que chegue ao consumidor com máxima qualidade e custos adequados.

A indústria tem colaborado num ponto importante, que talvez passe despercebido para o consumidor. A redução da quantidade de material utilizado na produção de uma embalagem é um desafio que vem perseguindo constantemente. Como exemplo podemos citar que o PET reduziu o peso médio de suas embalagens em cerca de 25% nos últimos 10 anos. Isso exigiu milhões de investimentos em tecnologia e engenharia de processo.

A observação do problema de descarte pelo viés do “lixo" é um pouco mais complexo e tem muitos fatores, como a desinformação da população em geral, seja sobre o que é ou não reciclável, seja pelo ângulo da educação ambiental, que diz respeito diretamente aos hábitos de descarte. Outro fator, esse de extrema importância, é o desrespeito dos municípios à Política Nacional de Resíduos Sólidos. Não há coleta seletiva municipal na absoluta maioria dos municípios e os lixões ainda existem, embora a lei determine sua extinção, que deveria ter ocorrido em 2014.

 

 “A redução da quantidade de material utilizado na produção de uma embalagem é um desafio que a indústria vem perseguindo constantemente”

 

Sobre a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, instituída em 2010, quais avanços o senhor conseguiria destacar na implantação de um sistema de logística reversa nos setores ligados a embalagens plásticas?

Desde a regulamentação da lei, o setor de embalagens se uniu numa coalizão que construiu, junto ao Governo Federal através do Ministério do Meio Ambiente, um Acordo Setorial de Embalagens, que define metas de reciclagem para a indústria, comércio e usuários de embalagem. Assim, a Coalizão de Embalagens encabeça importantes investimentos. Entre eles, destaco aqueles destinados às cooperativas de catadores, que passaram a se envolver de uma maneira mais, digamos, formal com os sistemas de logística reversa que, como disse mais acima, já existiam antes da lei.

A reciclagem do PET é uma realidade há muitos anos. A lei veio para dar um direcionamento único, nacional, a uma atividade que sofreu com uma excessiva informalidade. A reciclagem do PET no Brasil atinge patamares de nível mundial, com índices superiores a 50%.

Em novembro de 2017 foi entregue ao Ministério do Meio Ambiente o relatório da Coalizão, demonstrando que as metas estabelecidas pelo governo foram alcançadas e que a Coalizão está no caminho correto. O projeto ainda está em andamento.

 

“A reciclagem do PET no Brasil atinge patamares de nível mundial, com índices superiores a 50%”

 

A falta de um bom sistema de coleta seletiva é apontada pelos especialistas como a principal vulnerabilidade da indústria da reciclagem PET no Brasil. O senhor concorda? Qual a sua opinião sobre isso?

O PET reciclado é um produto de alta demanda. Para que esse mercado seja devidamente abastecido, seria necessário que houvesse um sistema de coleta robusto, que permitisse a recuperação de quantidades realmente grandes de garrafas PET. Assim, acreditamos, de fato, que se os municípios estivessem de acordo com a Lei da PNRS e implementassem os sistemas de coleta seletiva, o material seria recuperado em volumes muito maiores e com melhor qualidade (mais limpos), garantindo suprimento de matéria-prima de forma constante e regular. Isso ofereceria a segurança de abastecimento. Vale ressaltar que a ausência dessa coleta robusta foi e ainda é motivo para que várias empresas engavetassem seus projetos de investimento, tanto em processos de reciclagem, como em projetos de produtos que usassem o material reciclado para sua fabricação.  

Pesquisas internacionais apontam o plástico como um dos principais problemas de acúmulo de lixo no mundo, principalmente nos oceanos. Na sua opinião como seria possível amenizar ou modificar esse cenário?

Já que o mundo e a natureza precisam estar em equilíbrio, também para as embalagens entendemos que a produção, o consumo e o descarte precisam estar em equilíbrio.  É óbvio que os setores empresariais, produtores, comerciantes têm sua parcela de contribuição para o que está acontecendo, mas certamente o problema não pode ser atribuído à molécula do material da embalagem. Temos que levar em consideração a maneira como ele é utilizado e descartado. É importante observar que o consumidor também é citado na Lei da PNRS e ele precisa, urgentemente, ser conscientizado sobre seu papel - que é fundamental - para a coleta dos materiais.

Também é importante dizer que não é apenas plástico, ou embalagens, que é alvo da Lei. Todo tipo de resíduo ou material descartado - de bituca de cigarro, a sofás e automóveis - deve ser devidamente encaminhado pelo consumidor ao seu destino final. Quando alguém compra algo, aquilo torna-se sua propriedade e é de sua responsabilidade a destinação do produto ao fim da vida útil. Seja essa vida alguns minutos ou décadas.

Hoje já notamos um bom empenho de escolas, mestres, mídias e vários outros atores no que podemos chamar de educação ambiental, mas isso pode levar algum tempo. A Coalizão tem planos de comunicação que serão implementados conforme o projeto avance.

Esperamos que os consumidores brasileiros, uma vez informados e conscientizados, façam parte do movimento e deem sua efetiva colaboração. Esse certamente será um fator importante para modificar o cenário de displicência diante dos hábitos de consumo e descarte.

Achamos que há um certo exagero de certas mídias que enfatizam o impacto visual de descartes inadequados em ruas, rios, mares, lagos, etc. As embalagens existem para evitar impactos ainda maiores ao meio ambiente, que seriam aqueles oriundos do desperdício de alimentos e outros produtos - justamente devido à falta de embalagens. A diferença é que tais impactos não são tão visíveis quanto embalagens boiando. 

 “Quando alguém compra algo, aquilo torna-se sua propriedade e é de sua responsabilidade a destinação do produto ao final de sua vida útil”

Formado em Engenharia Mecânica com MBA em Marketing e Finanças pela Fundação Getúlio Vargas. É Certified Quality Engineer pela ASQC – American Society for Quality Control.Desenvolveu carreira nas atividades de Poliéster da Rhodia e da M&G, onde dirigiu várias unidades de negócios. Atualmente é presidente da ABIPET – Associação Brasileira da Indústria do PET e Diretor Geral da CCP Composites, empresa do Grupo Petrolífero Francês Total.


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