Absorventes. Foto: Wiktory/shutterstock.com
15 de Marco de 2019,12h00
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O movimento de ações mais sustentáveis envolvendo o consumo e o próprio descarte de resíduos vem ganhando cada vez mais força em todo mundo. Muitas vezes, no entanto, determinados tipos de lixo acabam não tendo a opção da reciclagem.
Um deles é o absorvente íntimo. O produto, utilizado pela maioria das mulheres durante o período menstrual, demora muito para se decompor e vai direto ao aterro sanitário após o descarte. Ele é feito basicamente de polietileno, propileno, adesivo termoplásticos, papel siliconado, polímero superabsorvente e um agente controlador de odor. Resumindo, é tudo dominado pelo plástico! A substância demora mais de 400 anos para se dissolver no planeta.
O único país que começou a reciclar absorventes íntimos, assim como fraldas, foi o Reino Unido. Por meio de uma “usina de reciclagem” chamada Knowaste, a empresa transforma os apetrechos femininos em madeiras ou telhas plásticas. Por ano, a companhia trata 36 mil toneladas de lixo higiênico (fraldas de bebê, adultos e absorventes). Consequentemente, isso poupa a retirada de recursos naturais para produzir novos plásticos. A empresa calcula que 36 mil toneladas de carbono deixam de ser emitidas em razão da reciclagem. É o equivalente a tirar 7.500 carros da estrada.
Enquanto isso, no Brasil, ainda não se consegue reciclar absorventes íntimos e para falar a verdade, o produto se acumula aos montes nos aterros sanitários do país. Em média, cada brasileira joga 3 kg de absorvente no lixo por ano. Levando em conta que uma mulher tem um ciclo menstrual dos 11 aos 54 anos, em toda a sua vida gastará mais de 130 quilos de absorventes.
Para tentar solucionar essa questão algumas empresas vêm desenvolvendo alternativas mais sustentáveis para substituir o produto, como o coletor menstrual que há algum tempo vem sendo utilizado por adeptas do movimento “lixo zero”, aquele em que pessoas se adaptam para gerar a menor quantidade possível de resíduos.
O coletor é um copinho dobrável de silicone que não causa alergia. Ele se adapta à anatomia do corpo da mulher e pode ser introduzido na entrada do canal vaginal. O copo armazena o sangue durante 12 horas, o que evita a troca dos absorventes a cada 2 horas (em caso de fluxo intenso) e pode ser lavado para ser reutilizado. O tempo de duração do coletor é de dez anos.
“Qualquer mulher pode usar”, explica a ginecologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Teresa Embiruçu. As únicas que não devem utilizar são aquelas que estão no pós-parto, pois o sangramento é muito abundante e o coletor pode não dar conta.
A médica conta também que recebe algumas meninas no consultório interessadas e curiosas sobre o uso do coletor menstrual. Geralmente, elas já contam com certo engajamento a ações de sustentabilidade e meio ambiente.
É o caso da psicóloga Lívia Estrella, que usa coletor desde 2015. Ela faz parte de um grupo feminino e também se considera uma pessoa preocupada em gerar menos lixo.
“A consciência ambiental aliada ao cuidado com meu corpo foi a soma que me motivou a comprar o coletor”, conta.
Com o uso do objeto Lívia conseguiu diminuir drasticamente a quantidade de absorvente e de papel higiênico usado no período menstrual. “Eu passo 12 horas com ele, até esqueço que estou usando. E o melhor de tudo é que ele não dá alergia”, conta.
Trata-se de uma ótima opção para o público feminino que ainda é alérgico aos plásticos do absorvente. Como no caso da profissional de relações públicas, Lilian Cunha, que há um ano utiliza o produto. “Eu costumo dizer que existe uma vida antes e depois do coletor, pois minha pele sofria muito por causa da alergia”.
A gerente de relações públicas de uma das empresas brasileiras que fabricam o produto, Martina Borrat, conta que o incentivo de disseminar essa cultura veio dos Estados Unidos. “Lá já é bastante avançado o uso do coletor e pensamos: ‘por que não tentar no Brasil?’”. Os números mostram que a tentativa deu certo. Já são 200 mil usuárias desde 2015, ano de lançamento no mercado, sendo que cerca de 40% estão no estado de São Paulo.
“Nós queremos continuar a quebrar o tabu da mulher com o próprio sangue. Com o coletor, podemos conhecer o próprio corpo. Por exemplo, o nosso sangue não tem odor. O coletor não tem contato com o oxigênio, então quando se tira, percebemos que não tem cheiro”, explica.
A naturóloga Jacqueline Silva conheceu o produto em Londres e decidiu trazer a novidade para o Brasil. Ela acredita que ainda existem muitas mulheres que não sabem da existência do coletor menstrual como uma opção mais ambientalmente saudável e confortável para a mulher. “Mudança requer um pouco de ousadia. O resultado disso? Você se sente orgulhosa da decisão que tomou, do impacto na sua vida social, na sua saúde e no meio ambiente”.
Conheça as principais dúvidas em relação ao uso do coletor menstrual.
Precisa tirar para fazer xixi?
Não, os canais são diferentes.
Mulheres virgens podem utilizar?
De acordo com a ginecologista da Unifesp, Teresa Embiruçu, meninas já podem usar a partir do primeiro fluxo menstrual. Ele não rompe o hímen.
É possível dormir com o coletor menstrual?
Sim. Como não há riscos de vazamento, não é preciso se preocupar em manchar a lingerie, o lençol ou o pijama.
Se eu não me adaptar ao coletor e, mesmo assim, não quiser gerar mais lixo o que posso fazer?
Uma opção são os absorventes de panos que são laváveis e reutilizáveis. Outra opção são calcinhas especiais que absorvem a menstruação. É só lavar e esperar secar que dá para usar de novo.
Posso entrar na água do mar ou da piscina utilizando o coletor?
Sim. Não há riscos de vazamentos.
Quais as marcas mais confiáveis para adquirir o produto?
A Fleurity, que é produzida no Rio Grande do Sul, e a Holy Cup, produto alemão que pode ser comprado online.
Qual é o preço médio?
Aproximadamente 45 reais.
Para qualquer uma das dúvidas é muito importante consultar um ginecologista de sua confiança.
Texto produzido em 30/10/2018
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