27 de Julho de 2021,14h00
Veja outros artigos relacionados a seguir
Em entrevista à repórter Isabela Stanga da Agência Escola da UFPR (Universidade Federal do Paraná), dois alunos da instituição, Gislaine Lau e Felipe de Carvalho Ishiy, comentaram sobre o processo de desenvolvimento de um material ecológico e biodegradável semelhante ao couro.
O biofilme foi criado para o Trabalho de Conclusão de Curso de Design de Produto em forma de uma poltrona e conquistou o iF Design Talent Award 2021, um dos prêmios mais importantes do mundo para estudantes. O projeto foi o único da América Latina a receber o prêmio.
A iniciativa consiste na criação de bactérias que fermentam um substrato, material que organismos vivos utilizam como meio de crescimento e, então, geram o biofilme. O substrato para a cultura bacteriana desenvolvido por Gislaine e Felipe é produzido a partir da kombucha, uma bebida à base de chá, açúcar e resíduos orgânicos.
Os estudantes seguiram as linhas de pesquisa do Biodesign e do Design Ativismo. O Biodesign é a integração do design com sistemas biológicos, utilizando organismos e ecossistemas na idealização de produtos.
Já o Design Ativismo é um movimento mundial, que chegou no Brasil há alguns anos. Seu objetivo é fomentar a criação e a distribuição de arte e de informação livres das amarras do mercado.
Orientadora do trabalho, a professora Elisa Strobel tem uma perspectiva promissora com relação ao biofilme. Segundo ela, o material possui alta resistência à tração, relativo baixo custo e estabilidade térmica. Além disso, ele pode ser aplicado nas mais diversas circunstâncias, tais como móveis, embalagens e jóias.
Isabela Quais foram suas ideias iniciais para o projeto?
Gislaine Para escolher o tema do nosso TCC, pensamos em como o design contribui para a exploração dos animais, fenômeno que afeta principalmente a indústria do couro e de pele. Então, pensamos em produzir um material que não promovesse a crueldade animal e que substituísse o couro.
Felipe O nosso produto é um projeto conceito, com objetivo de trazer uma reflexão. Ao criar a poltrona, queremos carregar a ideia de que um móvel, por vezes, é planejado totalmente a partir do couro. Com um assento feito com o biofilme, buscamos mostrar que não é preciso ferir um animal para ter um produto bonito e inovador.
Isabela Como vocês chegaram ao produto final?
Gislaine Pesquisamos sobre os biomateriais, chegamos ao biofilme feito com kombucha e começamos a testá-lo. Realizamos várias experimentações de textura e de coloração, mas como fizemos nosso trabalho em meio à pandemia, todos os testes foram feitos em casa e não em um laboratório. Ao final do projeto, decidimos aplicar esse material em uma poltrona, produto que usualmente é feito de couro, a fim de mostrar que a matéria animal pode ser substituída por um material sustentável.
Felipe Ficamos um ano e meio trabalhando com testes, verificando os métodos que davam ou não certo. Assim, observando os resultados, fomos desenvolvendo nosso próprio processo de produção do biofilme.
Isabela O que é a kombucha e por que vocês decidiram usá-la no trabalho?
Gislaine A kombucha é uma bebida fermentada que normalmente é feita de chá e açúcar. Por causa de sua fermentação, ela forma um biofilme em sua superfície e é esse material que nós utilizamos. Como não fazemos a bebida para consumo e sim especificamente para o biofilme, o processo é diferente: colocamos mais ingredientes, deixamos mais tempo fermentando e usamos também outros resíduos, como borro de café. Queríamos tentar desenvolver o nosso próprio material, porém seria muito complexo para nosso TCC, então optamos pela kombucha. O que fizemos mesmo foi testar suas variações e adequá-la ao nosso projeto.
Felipe Nessa etapa informacional, nós percebemos que esse material tinha muitos problemas. Um deles é que absorvia muita água, o que não é o ideal para nenhum produto, pois o faz estragar mais rápido. Então, nós desenvolvemos um processo específico para que o biofilme fosse hidrofóbico [característica de material ou substância que não absorve a água]. O maior problema de nossa pesquisa foi justamente desenvolver esse novo processo, porque queríamos um método limpo, que não carregasse produtos químicos, apenas materiais ecológicos e veganos.
Isabela Quais as aplicações possíveis para o biofilme, para além da proposta apresentada no concurso?
Gislaine Para o nosso Trabalho de Conclusão de Curso, quisemos fazer um móvel, mas estamos tentando fazer carteiras e já produzimos uma bolsa para teste. Esse material pode ser usado basicamente em tudo que é de couro, com o cuidado de não molhar.
Felipe Estamos pensando em como escalonar a produção do biofilme, porque queremos mostrar que conseguimos substituir o couro em praticamente todas as suas aplicações.
Isabela Existe uma certa visão de que o design não é considerado pesquisa científica, qual a importância da pesquisa nessa área?
Felipe Inseridos no meio do design, nós entendemos que existe a visão de que somos profissionais que vão deixar um produto bonito, focando em sua estética. Porém, a própria palavra design significa projetar, isto é, entender o processo e todos os aspectos da produção de um produto. Em nosso projeto, por exemplo, documentamos todo o andamento da pesquisa. A diferença é que, como estamos em uma pandemia, nós não tivemos acesso a um laboratório. Assim, adotamos alguns dados científicos de outros artigos de pesquisa, mas ainda pretendemos fazer testes para buscar esses levantamentos, como o teste de resistência e de durabilidade. O design não é apenas deixar um produto estético, ele é todo o processo de produção.
Texto produzido em 27/07/2021
Certificação coroa engajamento ambiental de alunos e professores da escola da zona leste
Prática afeta diretamente os catadores, cujas condições de trabalho se deterioram
Inserção permitirá que organizações do setor operem com menos burocracia
Iniciativa busca conscientizar crianças sobre gestão adequada deste tipo de resíduo