Recicla Sampa - No local correto, reciclável gera valor; no errado, vira despesa
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No local correto, reciclável gera valor; no errado, vira despesa

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José Renato de Lima. Foto: Acervo pessoal

Diariamente a cidade de São Paulo gera 12 mil toneladas de lixo domiciliar por dia. E os números não param de crescer. A população precisa se conscientizar de que esse problema começa dentro de casa. É preciso que as pessoas acreditem que a reciclagem traz benefícios. Essas observações são de José Renato de Lima, professor do Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo da Escola Politécnica da USP, pós-graduado em reciclagem de resíduos. “Isso pode ser feito, por exemplo, havendo uma pequena taxa por uma embalagem reciclável. Quando essa pessoa devolve essa embalagem, ela recebe seu dinheiro de volta”, explica.

O especialista também acredita que a educação e a cultura são as políticas públicas iniciais a serem adotadas para alertar a sociedade sobre a importância da reciclagem.  “Simplesmente colocar isso em termos genéricos não tem apelo suficiente para as pessoas. Todo mundo sabe que não é para jogar lixo pela janela do carro, mas as pessoas continuam fazendo isso. Como é que você consegue mudar essa situação?”, questiona.

Com mais de 30 anos de experiência e doutorado pelo centro de pesquisa Julius Kruttschnitt Mineral Research Centre (JKMRC), na Austrália, o pesquisador ainda indica que o aumento do valor agregado ao material reciclado vendido pode contribuir para a economia do Brasil. “ A reciclagem em si é uma operação de baixo valor, principalmente porque para a população de baixa renda e de baixa escolaridade ainda é uma fonte de emprego. Mas na verdade isso é muito mais para o país. Deixamos de gastar num futuro com armazenagem e destinação de lixo, porque lixo é aquilo que não serve. Material reciclável é aquilo que pode dar lucro”.

O Recicla Sampa fez uma entrevista exclusiva com o professor José Renato de Lima. Confira:

Por que o senhor, que atua no departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo, da escola Politécnica da USP, resolveu entrar na área de reciclagem?

O engenheiro de minas, no tratamento da área de minérios, tem uma boa visão da área de manuseio e separação de fases. E a separação de fases nos minérios ou no lixo é similar. Ela é feita de forma barata, porque é um material de baixo valor. Eu gosto muito dessa área, sou apaixonado por essa área. Acho que é de uma importância capital e ainda não se deu a devida importância a esse assunto.

A questão da reciclagem no Brasil ainda caminha a passos lentos, mas por outro lado os números mostram que já houve um avanço em relação ao tema. O que o senhor apontaria como o principal ponto a ser trabalhado para possibilitar o aumento da reciclagem no país?

Eu entendo que a reciclagem tem dois aspectos fundamentais. O primeiro é a educação. Você dá cultura para que as pessoas entendam a importância da reciclagem. O segundo é tornar a reciclagem um bom negócio para as pessoas que a fazem. Isso pode ser feito, por exemplo, havendo uma pequena taxa por uma embalagem reciclável. Quando essa pessoa devolve essa embalagem, ela recebe seu dinheiro de volta. Para aparelhos de longo uso, mas que têm vida útil, como o celular, tem uma coisa similar, um bônus para quem devolve o equipamento obsoleto para trocar por um novo. Com isso, você estimula as pessoas a entregarem nos postos de recolhimento os materiais recicláveis.

O senhor deu declarações afirmando que o principal problema da reciclagem é a separação dos materiais, principalmente aqueles que têm alto valor agregado como alumínio, sucata e papel. Quais as políticas públicas que poderiam ser adotadas para viabilizar a separação correta do lixo?

O principal é que as pessoas tenham consciência de que esse serviço é importante. No passado, a prefeitura de São Paulo fez um trabalho de conscientização das pessoas, depois elas descobriram que o lixo separado e coletado era jogado fora junto com o lixo comum. Foi um completo desestímulo a qualquer política de reciclagem. Para mim, o primeiro critério é educação e cultura, ou seja, alertar as pessoas da importância da reciclagem. Isso é fundamental. E o segundo é dispor meios para que isso aconteça. Fazer realmente coletas seletivas efetivas e mostrar à população os benefícios.

Um dos projetos de extensão curricular feito pelo senhor é focado na relação das cooperativas e centrais de triagem para aumento do valor agregado do material reciclado vendido. De que forma o senhor acha que esse tipo de trabalho pode contribuir para modificar a economia do país?

A reciclagem em si é uma operação de baixo valor, principalmente porque, para a população de baixa renda e de baixa escolaridade, ainda é uma fonte de emprego. Mas na verdade isso é muito mais para o país. Deixamos de gastar num futuro com armazenagem e destinação de lixo, porque lixo é aquilo que não serve. Material reciclável é aquilo que pode dar lucro. Um material reciclável colocado em local correto gera valor; colocado no lugar errado, gera despesa. O balanço não é quanto o material reciclado gera de valor, mas, principalmente, o quanto ele deixa de dar de despesa quando é colocado no lugar incorreto.

“O primeiro critério é educação e cultura, ou seja, alertar as pessoas da importância da reciclagem. Isso é fundamental”

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Lixo acumulado em aterro. Foto: novak.elcic/shutterstock.com

Qual seria a solução para o tratamento do lixo que não pode ser reaproveitado?

Não tem solução única. Tem várias soluções possíveis e elas precisam ser adotadas de maneira adequada. Por exemplo: os resíduos perigosos não deveriam ser aterrados, eles deveriam ser incinerados. E os resíduos orgânicos? Esses deveriam ser reaproveitados. Resíduos que não têm nenhum tipo de aproveitamento possível, aí sim, seria o caso de levar para os aterros. E o volume seria muito menor.

“Todo mundo sabe que não é para jogar lixo pela janela do carro, mas as pessoas continuam fazendo isso. Como é que você consegue mudar essa situação? Tornando esse material reciclável valioso”

Em suas declarações o senhor afirma que o problema do lixo começa com a educação e a conscientização das pessoas em relação ao tema. Como informar a população de maneira eficiente para tentar amenizar o problema do lixo no Brasil?

O principal critério é fazer com que as pessoas acreditem que a reciclagem traz algum tipo de benefício para ela. Todo mundo sabe que não é para jogar lixo pela janela do carro, mas as pessoas continuam fazendo isso. Como é que você consegue mudar essa situação? Tornando esse material reciclável valioso. A pessoa que devolver o material reciclável no local correto recebe um “bônus” por isso, parte da devolução daquele valor que ele pagou por aquele bem, por exemplo. Aí você cria efetivamente uma consciência de que aquele material é valoroso e aí as pessoas começam a ter mais consciência dessa importância.

O que o senhor apontaria como o principal fator a ser melhorado na coleta de lixo reciclável na cidade de São Paulo?

A coleta eu entendo que é feita com uma frequência até alta em algumas regiões. Não precisaria ser tão alta. Precisaria ser feito um melhor acondicionamento do lixo, seja o lixo reciclável ou não reciclável. Em segundo lugar, fazer a coleta dos recicláveis de forma correta e não mostrar às pessoas que elas estão perdendo tempo de separar o material, que depois vai ser juntado e jogado num mesmo lixão. Isso é um desserviço completo para qualquer política e a gente sabe que o mau exemplo marca muito mais que o bom exemplo. Quando isso acontece é um tremendo desserviço dos órgãos públicos. Então, se tiver que haver alguma melhora na parte de coleta, tem que se deixar muito claro os dias de coleta. Nem precisa ser diário, duas vezes por semana... mas que fique claro que o lixo reciclável separado traz benefício para as pessoas.

 

“Todo mundo sabe que não é para jogar lixo pela janela do carro, mas as pessoas continuam fazendo isso. Como é que você consegue mudar essa situação?”

 

José Renato Baptista de Lima – Graduado em Engenharia de Minas (1985), com mestrado em Engenharia Mineral (1989), doutorado em Engenharia Mineral (1991) pela Universidade de São Paulo, e pós-doutorado no Julius Kruttschnitt Mineral Research Centre (JKMRC), da Universidade de Queensland, na Austrália (1995-1997). Professor Associado do Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo da Universidade de São Paulo, ministra disciplinas de tratamento de minérios e economia mineral. Suas atividades de extensão e pesquisa abordam os temas: classificação, cominuição, separação de minerais e reciclagem de resíduos sólidos.


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