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Reciclagem de Vidas

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Por trás das 12 mil toneladas de lixo domiciliar coletadas todos os dias na cidade de São Paulo uma fábrica opera silenciosa. O gerenciamento do lixo na maior cidade da América Latina reúne, para além de uma megaoperação logística, centenas de pessoas que foram desacreditadas e esquecidas pela sociedade. 

O processo que transforma lixo em material reaproveitável também dá conta da vida de uma porção de gente que encontrou nesses resíduos uma forma de reciclar a própria história. O fio condutor dessa narrativa atende pelo nome de Cooperativa e carrega consigo lágrimas, abandono, descrença, mas sobretudo, transformação. “Eu era um lixo humano na Terra. Hoje eu fui reciclada e estou aqui, podendo ajudar outras pessoas”, conta Maria de Fátima Libério dos Santos, ex-garota de programa, ex-moradora de rua e ex-dependente química, que atua hoje na Cooperativa Rainha da Reciclagem. 

Fundada pela ex-traficante de drogas e ex-presidiária Elinéia de Jesus, a Cooperativa alia seu foco na reciclagem de resíduos ao propósito de custear o atendimento de 89 dependentes químicos e 150 famílias da periferia da zona Leste de São Paulo. Vinda do sertão da Bahia, Elinéia foi garota de programa e virou a maior traficante de drogas de Campinas.

“Fui traficante, fui assaltante, e decidi mudar minha história, porque eu tinha um sonho de ser alguém na vida”, explica a presidente.

Ao contrário do que se imagina, o trajeto do lixo não se encerra na calçada de casa. Ao contrário. É lá que se deflagra uma operação que envolve 72 caminhões, centenas de profissionais e um alto investimento público responsável por dar destino a toneladas de resíduos descartados todos os dias na cidade. A Rainha da Reciclagem, por exemplo, possui atualmente uma receita de cerca de R$ 18 mil mensais e processa aproximadamente 50 toneladas de resíduos provenientes da Ecourbis, uma das concessionárias que atuam no recolhimento de lixo da cidade de São Paulo.

Com a verba, a presidente da cooperativa paga os 12 cooperados, que ganham cerca de R$ 800,00, e ainda custeia as despesas de duas casas de acolhimento para dependentes químicos, uma para mulheres e outra para homens.  “E ainda conseguimos donativos de comida para ajudar 150 famílias carentes da (comunidade) Pantanal”, comenta a presidente.

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Esses centros, que funcionam na periferia da capital paulista, promovem revoluções discretas aos olhos da população, mas de extrema importância para centenas de pessoas que têm neles uma oportunidade de recomeço. Mais do que colocar materiais de volta à cadeia produtiva, esses locais reinserem pessoas à sociedade. “Através do lixo eu consegui me formar, fazer uma faculdade. Consegui ter meu apartamento e proporcionar para o meu filho uma faculdade”, conta emocionado Teniles Basílio do Nascimento Jr., presidente da Coopercaps, mais conhecido como Carioca.

Comandando 190 cooperados que recebem uma renda média de R$ 1.108,00, cifra acima da média do cooperativismo paulistano, Carioca vê a Cooperativa como um empreendimento. Localizada na zona Sul de São Paulo, o local recebe atualmente 250 toneladas mensais, todas provenientes de coleta própria e de 23 pontos de arrecadação montados em parceria com a rede Pão de Açúcar de supermercados.

As pilhas de materiais descartados dão contorno e significado a vida de quem pela primeira vez teve a chance de um emprego. Conferem o orgulho do próprio sustento e ajudam a desenhar um futuro mais digno para as novas gerações. Remunerada também pela sua atuação em uma central de triagem mantida pela Ecourbis, a Coopercaps oferece oportunidade de trabalho para idosos, dependentes químicos e ex-presidiários. A maior parte deles, cerca de 70%, é formada por mulheres que desempenham em casa o papel de pai e mãe e sustentam, sozinhas, seus lares. "A gente sonha com muita coisa, mas uma que eu gostaria mesmo de ver é minhas filhas e meu filho formados. Dar o que não tive quando eu tinha a idade deles", conta Ede Carlos Almeida, cooperado da Coopercaps.

“Eu só pude perceber o divisor de águas que a cooperativa se transformou na minha vida quando entrei aqui. Foi quando comecei a me descobrir. A descobrir que o resíduo sólido era minha paixão e que a gestão de pessoas era muito mais importante do que a própria reciclagem de lixo”, relata emocionado o presidente.

As 24 cooperativas, cadastradas pela Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb) e que atuam hoje na capital, são responsáveis por separar os resíduos por tipo (papel, plástico, vidro), o que garante sobrevida a materiais que inicialmente eram tidos como lixo e que, após a operação de reciclagem, ganham valor e retornam ao mercado. Mas não são apenas eles que renascem nesses locais. “A cooperativa é uma família, na verdade. Ela une pessoas que estavam exclusas, que estavam em dificuldades. Ela te dá uma nova identidade e faz com que você volte a sonhar”, explica o cooperado.

"As cooperativas têm um grande papel de inclusão social. Elas recebem o lixo que a gente coleta, o lixo reciclável, e acabam fazendo um trabalho social na separação, na venda. Com isso, distribuem recursos para seus associados. A função social da cooperativa é muito importante", diz o presidente da Amlurb, Edson Tomaz.

O resgate da cidadania é a missão principal da Cooperativa de Reciclagem Chico Mendes. Localizada em São Mateus, zona Leste de São Paulo, o centro foi formado por um grupo de dez voluntários da comunidade católica do bairro. A cooperativa processa atualmente 90 toneladas de materiais recicláveis e conta com 50 cooperados, com perfis geralmente marginalizados pelo mercado de trabalho, como ex-dependentes químicos e ex-presidiários. “A Chico Mendes me salvou”, diz Paulo (nome fictício), de 24 anos, que luta contra a dependência de drogas e que viu na instituição uma salvação para o próprio destino. “Eu prefiro estar aqui trabalhando e ajudando a limpar a cidade”, diz. “Voltar para o crime, nunca mais”.

Se para muita gente o lixo provoca reações de repulsa, para tantas outras confere orgulho por uma profissão e restabelece dignidade. "Hoje, em qualquer lugar que eu chego, sou respeitado por ser um ex-catador de rua e um membro de uma cooperativa, um cooperado. Isso, para nós, é privilégio. Nós estamos conquistando nosso espaço, aos poucos a gente chega lá", diz Ede Carlos Almeida, da Coopercaps.

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Coopercaps. Foto: Thiago Mucci

O papel que essas cooperativas desempenham para a cidade e para a sociedade passa ainda pela tarefa fundamental de recuperar materiais que poderiam ser enviados aos aterros sanitários, sem possibilidade de serem reutilizados. Essa tarefa, muitas vezes invisível dentro de uma cadeia complexa e cara que envolve o gerenciamento de lixo na capital paulista, evita impactos extremamente nefastos ao meio ambiente e, em contrapartida, transforma vidas e resgata a dignidade das pessoas. Mas de todas as ações e revoluções que acontecem nesses centros, talvez nenhuma seja mais bonita do que o trabalho de devolver às pessoas a capacidade de sonhar.

"Tenho orgulho de trabalhar na cooperativa, de ver essas pessoas se dizerem profissionais. Acho que a missão principal da cooperativa é justamente essa: o resgate da cidadania. Transformar pessoas, transformar vidas.  Isso aí não tem preço que pague”, finaliza Carioca.


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