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A história do museu que recicla eletroeletrônicos

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Tudo começou em fins de 2007, num café entre amigos com a ideia de fazer um museu para expor equipamentos de informática e eletrodomésticos, que contasse a evolução da história brasileira a partir da tecnologia usada no dia a dia. Em 11 anos, o que era para ser um espaço cultural virou a primeira e única cooperativa do País especializada em reciclagem de resíduos elétricos e eletrônicos.

A Coopermiti é uma das principais referências brasileiras na área da logística reversa no setor. Uma área pouco conhecida e das mais perigosas, uma vez que os equipamentos eletrônicos e elétricos, como placas de computadores ou televisores e geladeiras, poluem mais que o chamado reciclável (plástico, vidro e papel), pois contêm metais pesados como cádmio, níquel e mercúrio, substâncias cancerígenas ou altamente lesivas aos seres humanos e animais.

“Fomos a primeira cooperativa brasileira a ter licenciamento ambiental da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) para fazer a consolidação (recepção) dos equipamentos e o desmonte deste material para a reciclagem”, explica Alex Luiz Pereira, presidente e idealizador da Coopermiti. “Tem que ser assim porque mexer nestes equipamentos ou abandoná-los em qualquer lugar é extremamente danoso ao meio ambiente. É crime ambiental.”

Pereira, um homem de 47 anos que começou como técnico em eletrônica e se formou em ciências da computação, não sabia que pararia na reciclagem ao tomar um café em fins de 2007 com José Carlos Valle, curador do Museu do Computador.

Naquele tempo, ele era sócio de uma empresa taiwanesa que importava placas de vídeo para computadores. Tinha uma renda de executivo classe média alta, apartamento em bairro nobre da zona sul de São Paulo. E a obstinação de fazer um museu.

Depois de inúmeras reuniões com amigos, não chegava a um acordo de como montaria o negócio. “Até que meu contador me sugeriu que fizéssemos o museu a partir de uma cooperativa.”

Nascia, então, em 2008, o Museu da Informática e da Tecnologia da Informação (Miti), cuja sigla inicial compõe o nome da cooperativa (hoje, o termo Coopermiti virou um nome fantasia sem relação com a palavra museu). Papelada assinada, cooperativa montada, era preciso coletar o acervo, composto de televisores velhos, videogames de primeira geração, vitrolas e tudo o que representasse tecnologia que um dia tivesse feito parte do cotidiano nacional.

“Daí percebi que a reciclagem poderia ser um mercado para os aparelhos que não servissem para o museu”, recorda-se Pereira, que no início acumulou o trabalho na cooperativa com seu antigo emprego. Depois, veio a crise de 2008, com o estouro da bolha imobiliária norte-americana, e a decisão de mudar radicalmente de vida. “Caiu meu padrão, mas minha filha mais nova, ainda pequena, me disse: papai, você vai ser mais feliz na cooperativa.”

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Acervo Coopermiti. Foto: Thiago Mucci

Diferenças e semelhanças

De lá para cá, foram idas e vindas, vitórias e percalços. Deve-se dizer que a Coopermiti tem uma realidade econômica diferenciada das demais 23 cooperativas de reciclagem de São Paulo vinculadas à Prefeitura – todas dedicadas aos recicláveis.

Para começar, os salários não são iguais, como na maioria delas, mas são pagos de acordo com as funções. “Procuramos pagar a média do mercado, que pode aumentar se tivermos lucros”, explica Alex Pereira. O mínimo que se paga é R$ 1.450,00, mas os salários vão aumentando até o teto de R$ 5 mil – ao todo, são 29 cooperados.

Outro diferencial é que, de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, os eletroeletrônicos são uma responsabilidade da indústria. “Os resíduos secos são dos municípios.”

Apesar disso, Alex Pereira recebe apoio da Amlurb e do governo municipal, que paga o aluguel do prédio da cooperativa, localizada na Casa Verde. O município também auxilia com alguns dos 44 pontos de coleta de aparelhos que a Coopermiti mantém na cidade – a única a usar este expediente por deter exclusividade no mercado.

Ostenta ainda o título de ser a única cooperativa a ter, além do licenciamento ambiental, as certificações ISO 9000 e 14000 por gestão de qualidade e gestão ambiental, respectivamente.

Tudo isso dá à Coopermint a capacidade de processar 100 toneladas por mês de resíduos – atualmente, somente 40 estão indo para a linha de finalização, o que indica uma demanda não aproveitada por falta de informação.

Este é um dos fatos que demonstram que, apesar de ser um modelo, a entidade enfrenta dificuldades. “O que vendemos não paga nossos custos, porque não temos escala”, diz o presidente, referindo-se à questão dos preços e atravessadores.

A solução para o problema? “No caso dos eletroeletrônicos, a indústria tinha que pagar pelo que faço”, explica. “É o que está escrito na Política Nacional de Resíduos Sólidos, mas que ainda não foi regulamentado.”

Estudo nacional

A Coopermiti ajudou no que deverá ser a regulamentação. Por ser pioneira, participou de um estudo financiado pela Japan International Cooperation Agency (Jica), órgão do governo japonês, em parceria com o Governo Federal e apoio da Fecomercio e Prefeitura de São Paulo.

No projeto, chamado Descarte ON, a Coopermiti serviu de “piloto” para que a Jica mensurasse quanto custaria o processo de logística reversa de eletroeletrônicos no País.

Do estudo, realizado em 2016, surgiu um relatório. Os preços de custos são mantidos em sigilo porque deverão ser incluídos no acordo setorial que as indústrias terão que assinar com o governo para prever o valor de remuneração por item de reciclagem.

Quando isso acontecer será o consumidor quem pagará a conta quando comprar o produto. “O que se discute hoje é se isso será feito de maneira implícita ou se se divulgará o que está sendo pago”, explica Alex, que não revela os valores dos custos previstos no relatório. “Assinamos acordo de confidencialidade.”

Pereira explica que o faturamento da cooperativa cresceria de 15% a 20%, o que aliviaria as contas da cooperativa, que fecham meses em equilíbrio e meses no vermelho.

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Aquário feito com televisão. Foto: Thiago Mucci

Inclusão social

À primeira vista tida como a prima rica das cooperativas, a Coopermiti tem trabalhos de inclusão social semelhantes às demais. “Já abrigamos ex-presidiários e até um imigrante da África do Sul que havia sido condenado por tráfico internacional”, diz Pereira. “No fundo, o papel das cooperativas na logística reversa é a inclusão social.”

Educação como pedra angular

A Coopermiti mantém um sistema de gestão focado na evolução do cooperado. É por isso que, para além do trabalho, eles são incentivados a participar de oficinas.

Numa delas, aprendem a confeccionar obras de arte a partir de placas de computador e outras peças eletrônicas. Há também oficinas de eletrônica básica e cursos de gestão. Além disso, uma plataforma online com cursos, oficinas e jogos pedagógicos para alunos e professores são disponibilizados gratuitamente com foco na reciclagem, educação ambiental e história da tecnologia.

A educação é um dos principais focos da Coopermiti. Logo na chegada, todo o visitante é convencido a assistir a um vídeo de cinco minutos que conta a história da cooperativa e a importância da reciclagem. Claro, e da educação.

“Foi aqui que a Samsung e o Instituto Paulo Freire começaram um programa de alfabetização de cooperados que acabou estendido para outas cooperativas”, conta sobre o Alfabetização Cidadã.

No prédio de três pavimentos onde está instalada, reina a organização. A divisão das atividades permitiu que as oficinas e as áreas de desmonte não ocupassem todo o espaço, sobrando lugar para o antigo sonho de um museu tecnológico, que conta hoje com um acervo de 2 mil peças, que reúne desde televisores e videogames vintage a instrumentos musicais. Vale a pena visita-lo.

Serviço

A Coopermiti fica na Rua João Rudge, 366 - Casa Verde

Agendamentos de coletas podem ser feitos pelo telefone 11 3666-0849 ou pelo site http://www.coopermiti.com.br/agendamento/


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