17 de Setembro de 2024,12h00
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O Brasil enfrenta um paradoxo ambiental preocupante e enquanto aumenta a importação de lixo reciclável, reaproveita apenas 4% dos materiais descartados pela sua população.
De 2019 a 2022, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), houve um crescimento expressivo nas compras de resíduos como papel e vidro, com 109,4% e 73,3%, respectivamente. Já a importação de plástico cresceu 7,2% no mesmo período.
A escalada nas importações se deve, em parte, ao fato de o governo anterior ter zerado a alíquota de importação de resíduos recicláveis, medida que incentivou a prática.
Embora o atual governo tenha elevado a taxa para 18%, o ritmo de importação continua a crescer, motivado pelo custo mais baixo em comparação com a reciclagem local.
Isso tem consequências diretas para os catadores, cujas condições de trabalho se deterioram à medida que o valor do material reciclado diminui.
Gerente de Sustentabilidade da SIG na América do Sul, Isabela de Marchi critica a estratégia para o setor e destaca como principal problema a falta de desenvolvimento da cadeia brasileira de reciclagem.
Ela argumenta que é necessário intensificar os incentivos fiscais para utilizar materiais recicláveis nacionais, considerando também os direitos dos trabalhadores envolvidos na coleta.
"Não faz sentido não aproveitarmos o que geramos. Se você facilita a importação, não desenvolve a cadeia aqui, retirando recursos que iriam para ajudar catadores a terem uma vida melhor”, avalia Isabela, em entrevista para a repórter Mariana Sgarioni no UOL.
Já Patrícia Iglecias, professora e superintendente de gestão ambiental da USP, reforça que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) prioriza a inserção e a profissionalização das cooperativas de catadores.
Ela alerta que a importação de resíduos não só desrespeita os princípios de ecoeficiência, mas também ignora os impactos ambientais adicionais, como emissões de carbono e riscos associados ao transporte.
"Os resíduos devem ser geradores de renda e cidadania. Ao não usar o trabalho dos catadores, você não atende à ecoeficiência que está na lei”, informa Iglecias.
Em resumo, o uso de produtos rotulados como "reciclados" pela indústria brasileira pode ocultar a verdadeira origem e o processo de reaproveitamento desses materiais, contribuindo para a potencial entrada de lixo tóxico no Brasil.
Essa é uma situação que chama a atenção das autoridades e levanta a necessidade urgente de endurecimento da legislação, com medidas mais rigorosas.
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