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Muito mais que formada por meros acessórios, a decoração de um determinado ambiente é a responsável por boa parte das sensações e impressões que sua atmosfera oferece. Preparar um cenário para teatro, novelas ou exposições pode reunir um enorme número de materiais em sua composição e já existem alguns cenógrafos ou diretores de arte que estão substituindo objetos novos por utensílios reciclados. Além de ser uma forma de educar e informar sobre as possibilidades de uso de um resíduo, a ação confere um outro significado para esses apetrechos.
O planejamento do designer Fabian Alonso é um exemplo disso. Há mais de 20 anos trabalhando como cenografista, o profissional procura priorizar o reúso dos materiais em suas paisagens. Para formar as casas de uma novela com tema colonial, por exemplo, ele utilizou peças de uma exposição sobre o Egito. “Por fora eram casas antigas portuguesas e por dentro tinham hieróglifos egípcios”, brinca. Atualmente, Alonso produz o cenário de uma série da Netflix chamada “O Escolhido”. Como o contexto da obra pedia uma abordagem rústica, o cenógrafo montou ambientes repletos de madeira de reflorestamento e portões pesados de ferro.
“Fui pesquisar materiais em diversos ferros velhos paulistanos”, relembra.
O profissional também explica que os cenógrafos devem atuar na construção de um cenário tentando não contaminar os materiais, misturando, por exemplo, madeira com plástico. “É mais difícil reaproveitar peças misturadas com outros materiais. Não fica sustentável se tiver que lavar ou usar solvente para tirar tinta da madeira”, explica. Para garantir materiais usados em bom estado e que podem ser reaproveitados, Alonso participa de um grupo nas redes sociais de cenógrafos com 222 profissionais. O ECO POINT, como é chamado, reúne a localização de peças usadas compartilhada pelos integrantes.
Em agosto de 2018, por exemplo, o próprio Alonso publicou nesse grupo materiais feito com madeiras que poderiam ser usadas pelos amigos que atuam na mesma área. Ao optar por peças reutilizáveis, um cenógrafo pode economizar cerca de 30% na compra, além de atuar pelo bem do meio ambiente.
Fabian Alonso atuou também na instalação de um espaço cultural em uma antiga área abandonada no coração da capital paulista. O terreno, na região da Santa Ifigênia, área conhecida como “Cracolândia”, ganhou em 2016 uma intervenção artística.
Conhecido como Teatro de Contêineres, o local, que pertence à Cia de Teatro Mungunzá, abriga atividades culturais e é administrado por um grupo de artistas. “Foi lindo participar desse projeto. Trouxemos barris de metal de uma exposição que acabou no Sesc Vila Mariana para ficar permanentemente aqui”, explica o designer que também participou da construção do lugar.
Por oito anos, a Cia de Teatro arrecadou fundos para chegar aos R$ 300 mil e construir um espaço artístico para ajudar na revitalização da região.
“Quando chegamos no valor final, pensamos em unir o público de fora e o meio ambiente. Então, vimos que a sustentabilidade era o caminho para atingir essa sinergia. Por isso, optamos por construir o espaço com contêineres”, conta o sócio fundador da Cia, Marcos Felipe de Oliveira.
A infraestrutura ficou pronta em três meses. O espaço conta com 1.500 m2, sendo que 500 são destinados a uma horta pública e um playground. “Já recebemos mais de 150 mil pessoas depois que construímos dessa forma. Ficamos muito satisfeitos em sermos uma intervenção artística dentro e fora do palco de teatro”, diz Oliveira.
O artista Rodrigo Machado trabalha com intervenções artísticas desde 1996. Ele começou com cenários de TVs e a grande quantidade de materiais usados inutilizados sempre o incomodou. “Tinham alguns projetos que chegavam a ter 100% de resíduos sem reaproveitamento”, relembra.
A vida profissional de Machado mudou dez anos depois, quando ele fundou a própria empresa e começou a participar com outros amigos de um projeto chamado Urban Trash, que prioriza o uso de materiais usados. O artista considera o episódio um marco em sua trajetória. De lá pra cá ele passou a desenvolver projetos com peças recicláveis na composição da cena, como o Circo do Seu Lé, uma atração da TV Cultura que contava com portas usadas, tampinhas de garrafas, papelão e outros materiais.
A partir de 2009, Machado foi convidado para produzir intervenções artísticas recicláveis nas Viradas Culturais de São Paulo, até que foi chamado para fazer uma cenografia de um festival de Música de Toronto, no Canadá. “Em dois dias, recolhemos os resíduos que estavam pelas ruas da cidade e fizemos o cenário do festival com cadeiras, ventiladores, cones de trânsito e outros materiais. Foi inesquecível”, relembra.
Hoje, Rodrigo faz intervenções artísticas nas ruas de São Paulo, construindo casas para os pássaros com sobras de madeira de marcenaria. Ele deixa a arte em árvores, praças e espaços fáceis que possam abrigar as aves.
“Eu comecei com 30 casinhas voluntariamente e recebi um pedido de trabalho para fazer 150. Acredito que as pessoas, no geral, estão muito mais abertas para cenários com arte reciclada”, finaliza o artista.
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