28 de Janeiro de 2020,12h00
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E se os produtos de hoje se tornassem os recursos de amanhã? Essa é a pergunta que a Economia Circular procura responder. Imagine a lâmpada que oferece luz na sua casa: ela passa por um processo de produção, depois de consumo e, por fim, é descartada em um aterro sanitário, seguindo a lógica da Economia Linear. A proposta desse novo modelo econômico é de que essa lâmpada retorne ao seu produtor e que seja reaproveitada de alguma maneira, evitando assim a geração de resíduos.
O conceito de Economia Circular surgiu com a velejadora Ellen MacArthur. Durante um dos seus desafios no mar, a britânica percorreu mais de 50 mil quilômetros durante 3 meses para realizar uma viagem marítima em torno do globo. Além de lhe trazer o recorde mundial de circum-navegação mais rápida, a aventura também proporcionou um novo olhar sobre os recursos do planeta: se não utilizados de maneira inteligente, vão se esgotar. O resultado desses pensamentos deu origem à Fundação Ellen MacArthur, que naceu com a missão de acelerar a transição do planeta rumo a uma economia circular, inserindo-a na agenda de tomadores de decisão de empresas e governos.
Na Economia Circular, o ciclo de atividade permite a preservação dos recursos naturais, já que tem como base a restauração do capital natural e social, garantindo a sobrevivência dos negócios.
“Ela não surge para resolver problemas, mas muda o sistema e evita as consequências”, explica a engenheira Beatriz Luz, fundadora da Exchange4Change Brasil, plataforma especializada em impulsionar o modelo econômico no país, e do Núcleo de Economia Circular (NEC).
Embora a reciclagem seja o último estágio da cadeia de geração de valor da Economia Circular, que tem seu processo produtivo redesenhado para não gerar resíduos, o seu papel é de extrema importância no fechamento do ciclo, pois ela permite a transformação dos resíduos em matéria-prima. Thais Varella, engenheira ambiental e multiplicadora que também faz parte do NEC, explica que a etapa de separação dos resíduos é fundamental, já que garante que os itens que podem ser reutilizados voltem para a cadeia como matéria-prima.
“Nessa etapa, nós podemos evitar que os produtos sejam destinados direto para um aterro sanitário ou mesmo para um lixão a céu aberto, pois aplicamos a reutilização, reciclagem e recuperação dos materiais”, comenta.
No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, implantada em 2010, atribui responsabilidade a alguns setores por meio da exigência da operação reversa e dos acordos setoriais. As medidas obrigam a adaptação de empresas na sua cadeia de produção. Para Celina Ramalho, professora de economia da Fadisp, o conceito está bem desenvolvido no Brasil visto que a indústria, o comércio e os serviços seguem regras de emissão de poluentes e de descarte de resíduos sólidos.
“Há ações muito importantes na agricultura, desde a preservação do solo para o processo de plantio ou criação de animais, até a dispensa dos recipientes em que os insumos agrícolas são armazenados. Nas cidades, o descarte dos resíduos sólidos segue protocolos nas usinas de reciclagem e empresas de saneamento”, explica.
No entanto, o funcionamento desse sistema não depende apenas das empresas. “A Economia Circular é um caminho a ser seguido e, assim como a sustentabilidade, não tem linha de chegada. Para aplicá-la na nossa vida pessoal, precisamos constantemente refletir sobre o nosso estilo de vida e interação com nosso entorno”, afirma a engenheira ambiental. Para ela, tudo o que puder ser feito para quebrar o fluxo linear de comprar-consumir-descartar contribuirá para uma rotina mais circular.
Em uma cidade como São Paulo, por exemplo, o conceito de compartilhamento, uma das premissas da Economia Circular, já vem sendo aplicado em prédios e condomínios. Espaços comuns, como lavanderias e academias, oferecem aos moradores a oportunidade de uso sem a necessidade de aquisição de seus equipamentos. O mesmo pode se dizer sobre modelos de apartamentos mobiliados disponíveis para aluguel ou espaços compartilhados de trabalho, como coworkings.
Para a engenheira ambiental Thais, o ideal é optar pela compra ou aluguel de serviços ao invés de produtos.
“Apoiar a retenção de valor dos produtos com reutilização, reciclagem e recuperação de materiais e utilizar plataformas de compartilhamento, por exemplo, são escolhas que inserem o conceito de Economia Circular na nossa rotina”.
A jovem, que atualmente mora na Holanda, alega que um dos maiores impactos desse modelo é a própria economia. Conhecendo mais sobre o tema, ela adaptou toda sua rotina de trabalho e vida pessoal: passou a trabalhar em um coworking, morar em um apartamento alugado já com os móveis e a utilizar transporte público ou aplicativos que compartilham corridas. “Eu não sou contra grandes redes, mas essas também precisam se reinventar e criar novas formas de se relacionar com o consumidor, assim com nós com os produtos”, afirma.
Texto produzido em 24/01/2019
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