Foto: cgdeaw/shutterstock.com
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"Ter um contato real e individual com o nosso próprio lixo é o primeiro passo para uma transformação na nossa relação com o descarte em uma escala maior". A fala é de Peri Pane ou simplesmente Homem Refluxo, nome que o artista deu à sua performance como forma de conscientizar as pessoas sobre a produção de lixo. Restos de papel, fraldas, jornal, embalagens de alimentos e plástico, muito plástico, são alguns dos itens que Peri carrega durante uma semana em seu próprio corpo.
Com um sobretudo de plástico tranparente com diversos bolsos, material que se assemelha bastante a uma capa de chuva, o artista transita durante sete dias armazenando todo lixo que gera.
A ideia surgiu quando, em 2003, ele começou a separar seus materiais recicláveis em casa para a coleta seletiva, que acabava de ser implantada em São Paulo. “Notei que, quando estava na rua, jogava os materiais nos cestos destinados aos lixos comuns. A partir desta constatação, tive a ideia de uma performance em que alguém guardasse seu lixo pessoal durante sete dias em uma roupa de plástico transparente”, conta o artista. O objetivo é proporcionar uma experiência inusitada a partir da ação corriqueira que é jogar alguma coisa fora. “Com o passar dos dias, a performance revela o volume, o peso e o cheiro daquilo que consumimos”, completa.
Mesmo após 15 anos de sua estreia, a ação permanece atual. Isso porque, de acordo com o artista, quase nada foi feito para diminuir a produção dos descartáveis. Estima-se que cada brasileiro produza 378 quilos no ano, o que significa mais de 1 quilo por habitante por dia, de acordo com a 15ª edição do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, realizado pelaAssociação Brasileira Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
“Cerca de 50% da população do Brasil não tem rede de esgoto. O rejeito sempre fica em último lugar na lista das prioridades”, explica Peri.
No início, os 6 quilos que davam forma à capa transparente eram repletos principalmente de bitucas de cigarro e latas de cerveja, que passaram a dar espaço para as fraldas de seu filho Martim, de apenas 1 ano e 5 meses. O artista conta que, na sua última apresentação, em 2018, chegou a carregar cerca de 8 quilos de resíduos, sendo que 30% eram de fraldas. “Voltei a usar algumas de pano durante o dia para diminuir o impacto das descartáveis, mas ainda assim é pouco”, diz.
Para o artista, a diminuição na produção de lixo é uma luta constante. Com seus hábitos totalmente modificados após a performance, ele acredita que quanto menos produtos industrializados forem consumidos, menor é a geração de lixo no transporte e também na produção.
“Acredito que parar de comprar em grandes supermercados e experimentar outras relações de troca direto com produtores locais pode ser um começo”.
Uma das novas medidas tomadas pelo artista foi a de dar atenção aos materiais orgânicos, que hoje são levados por ele para uma composteira coletiva do projeto Spiralixo, do coletivo Roots Ativa, de Belo Horizonte.
A apresentação, que já foi realizada por ele em outros países, como Itália e Espanha, não determina locais para ocorrer. O importante é que ela se desenvolva, sem interrupção, por sete dias. A ideia é tirar a capa apenas para comer, dormir e tomar banho. Peri costuma incluir em seu roteiro lugares de maior circulação a fim de impactar um número maior de pessoas. Foi o caso da sua apresentação no Instituto de Arte Contemporânea e Jardim Botânico Inhotim, em Minas Gerais, onde vive atualmente. O lixo acumulado por ele tem dois destinos: o material reciclável fica nas próprias capas que o artista guarda em casa e o orgânico é levado à compostagem.
Desenhada pela artista plástica Marina Reis, a capa, chamada de parangolixoluxo, permite que Peri separe seus resíduos de forma que o público possa visualizá-lo facilmente. O desgin da roupa teve inspiração nos Parangolés, cojunto de obra de Hélio Oiticica, considerado um dos maiores artistas da história da arte brasileira. Já a palavra refluxo, que dá nome à performance, foi escolhida para traduzir a ideia de uma direção contrária ao fluxo intermitente do consumo e do descarte na sociedade.
“As pessoas esquecem que uma sociedade consumista gera lixo na mesma ou em maior proporção que bens de consumo. Mas só nos lembramos disso quando alguma barragem estoura”, completa o artista.
Texto produzido em 01/02/2019
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