Recicla Sampa - Instituto Triângulo transforma óleo de cozinha usado em sabão
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Instituto Triângulo transforma óleo de cozinha usado em sabão

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Os brasileiros não costumam abrir mão daquele pastelzinho de feira semanal ou até mesmo de uma coxinha fresquinha no bar da esquina de casa. Todos os quitutes fritos, é claro. Como protagonista surge o óleo vegetal, utilizado, na maioria das vezes, na preparação desses alimentos. Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE) revelam que cada habitante consome 10 litros de óleo por ano. E para onde vai todo esse óleo consumido pela população?

Infelizmente, em sua grande maioria, o descarte ocorre de maneira incorreta. Ao ser despejado no ralo da pia ou no vaso sanitário, o óleo fica retido na rede de esgoto em forma de gordura. Para se ter ideia do tamanho do problema, um litro de óleo de cozinha descartado de forma errada é capaz de poluir 1 milhão de litros de água. No entanto, é possível reverter esse problema por meio de uma simples atitude: a reciclagem.

Por meio do reaproveitamento do óleo se pode produzir sabão líquido e em barra, tintas, vernizes, velas, ração animal e biodiesel.

“Em meados de 2002 eu e uns 10 amigos estávamos muito incomodados com a realidade que nos cercava e pensamos em fazer algo que melhorasse o coletivo. Foi assim que surgiu a ideia de criar uma instituição para levar às pessoas formas de incorporar atitudes sustentáveis no seu dia a dia dentro do ambiente urbano”, conta Eduardo Maki, de 48 anos, proprietário do Instituto Triângulo.

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Fabricação de Sabão, Triângulo – Santo André. Foto: Recicla Sampa

Pelo coletivo

Considerada a maior rede de coleta voluntária de óleo do Brasil, a organização conta com cerca de três mil pontos de coleta, entre residências e empresas do estado de São Paulo. O trabalho começou em Santo André, onde agentes ambientais informavam a população dos bairros sobre a importância do descarte correto do óleo de cozinha e seus impactos negativos ao meio ambiente. Logo a iniciativa conquistou os moradores e se expandiu para outros pontos da cidade. Hoje, o Triângulo é referência em sustentabilidade e foi indicado por cinco anos consecutivos como uma das principais ONGs do Brasil nesse segmento.

“Quando nos deparamos com a realidade dos óleos e gorduras residuais ficamos muito assustados. Se você pensar que existem 100 milhões de litros de óleo de cozinha que são descartados incorretamente todos os meses no país só nas residências, podemos falar em um desastre permanente”, comenta Eduardo.

Hoje, a empresa atua em 104 municípios (72 no estado e 32 fora de São Paulo), que contemplam empresas, supermercados, quitandas, farmácias, entre outros estabelecimentos. Já foi possível levar o projeto para os estados de Minas Gerais, Ceará, Bahia e Rio Grande do Sul. Cerca de 85% do óleo coletado pela empresa passa por um processo de tratamento para virar sabão líquido ou em barra. Os outros 15% são destinados para a produção de biogás, que deve ser armazenado dentro de garrafas pet para facilitar o transporte.

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São mais de 25 agentes ambientais, chamados pelo Triângulo de “eco empreendedores”, que realizam o trabalho de conscientização e mobilização da população para a abertura de novos pontos de coleta. Para cada dois litros de óleo descartados, são distribuídas duas barras de sabão.

A operadora de caixa Eva Inácio de Oliveira, de 36 anos, conheceu a iniciativa por meio da irmã e há três anos dá a destinação correta para todo o óleo utilizado nas frituras dos bifes, batatas-fritas e frangos que costuma fazer em casa.

“Eu consigo juntar dois litros de óleo a cada dois meses e levo para o supermercado para trocar por sabão. Uso para lavar louça, roupas... e acho o sabão melhor do que o normal. Limpa melhor e dá brilho”, diz.

Maria de Fátima Gonçalves, de 30 anos, é fiscal de caixa e fica encarregada de receber e trocar o óleo pelas barras de sabão do supermercado Central, um dos pontos de coleta em São Matheus, zona leste paulistana. “Todos os dias a gente recebe óleo. Vêm dona de casa a donos de restaurante”, comenta. Antes de trabalhar nesse estabelecimento ela também descartava erroneamente o óleo. “Eu jogava no ralo da pia. Sem informação as pessoas não separam. Precisamos de mais divulgação para que a população se conscientize da importância da reciclagem”, defende.

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Produção de sabão, Triângulo – Santo André. Foto: Recicla Sampa

Produção

Os comércios parceiros do Instituto Triângulo costumam disponibilizar de dois a três galões para o depósito do óleo. A cada 15 dias, um dos seis motoristas da empresa recolhe o material e envia para a chamada Usina Verde, localizada na sede do Triângulo, em Santo André. Lá começa todo o processo de transformação do óleo em sabão biodegradável.

Funciona assim: os óleos são pesados e retirados das garrafas pets. Posteriormente, são depositados em tonéis, por onde passam por um processo de aquecimento. Isso é importante para separar as impurezas contidas no óleo e deixá-lo 100% limpo. Na sequência, o material é transferido para outro tanque, onde são adicionados componentes químicos até virar uma massa, que será depositada em caixotes para o processo de secagem, por 24 horas.

No dia seguinte, o sabão é cortado e passa por uma máquina “extrusora”, que mói e depois prensa o sabão em moldes para serem cortados no formato de barras. São mais 24 horas de secagem até o processo de embalagens em pacotes com duas unidades cada.

“A confecção do sabão líquido é semelhante. Depois da moagem, ele é colocado em um liquidificador industrial onde são adicionados cinco litros de água para cada quilo de sabão”, explica César Pereira, de 31 anos, coordenador de usina do Triângulo.

São produzidos 900 quilos de sabão em pedra por semana e 600 quilos líquido por mês. 

 

Impactos ambientais

O óleo é considerado hoje um dos principais vilões de rios e mares do país. Estima-se que são cerca 200 milhões de litros que mensalmente contaminam o meio ambiente, segundo a Associação Brasileira para Sensibilização, Coleta, Reaproveitamento e Reciclagem de Resíduos de Óleo Comestível (ECÓLEO). Somente na cidade de São Paulo a instituição recolhe por mês 1,6 milhão de litros de óleo. No estado o número é ainda maior: 2,7 milhões de litros mensalmente.

“A natureza devolve o que você fez de mal para ela e o impacto é visto a olho nu. Quando as pessoas se conscientizarem sobre o caminho errado do óleo, irão parar de jogar em lugar errado e passarão a separar e mandar para a reciclagem”, diz Célia Marcondes, fundadora e presidente da ECÓLEO.

A instituição acredita que a reciclagem de óleo só tem impactos positivos, uma vez que protege a água e o meio ambiente e gera renda para milhares de pessoas.

“No estado de São Paulo, 2 mil pessoas vivem da coleta de óleo”, explica.

Marcos Goya, de 38 anos, é dono do Varejão Goya, localizado no bairro Vila Alto Santo André, outro parceiro do Triângulo no projeto. A cada 15 dias são retirados dos galões 45 quilos de óleo, depositados por moradores, donos de padarias e lanchonetes do bairro. Uma via de mão dupla, que beneficia o meio ambiente e os proprietários dos estabelecimentos. “Muitas pessoas conheceram nosso comércio por conta do óleo. Isso atrai mais clientes, que acabam adquirindo nossos produtos”, conta.

O que fazer

Para quem não quer descartar o óleo em postos de coleta, outra opção é reciclar em casa. A aposentada, Edna Feriati Campos, de 68 anos, já faz o processo há mais de 10 anos. Uma tradição de família desde a época em que morava no campo com a mãe e os irmãos, no interior do Paraná. Foi lá que aprendeu com a mãe a reciclar o óleo. “Na roça é diferente da cidade, a gente cozinhava com banha de porco. Minha mãe utilizava o que sobrava e fazia sabão. Dava muito brilho nas panelas’, relembra.

Hoje, o óleo utilizado nas frituras de torresmos, linguiças, bifes à milanesa e batatas fritas é armazenado em galões, até que atingem cinco litros, quantidade suficiente para a confecção de sabões em barra.

“Demoro em média cinco meses para juntar essa quantidade e uso para lavar louça, roupa, pano de chão. Como rende muito, o que sobra eu dou para os vizinhos”.

 

Como fazer

A receita é simples. Basta misturar cinco litros de óleo de cozinha, com um litro de soda, meio litro de desinfetante e um litro de detergente ou um copo de sabão em pó. Mexa durante 40 minutos até dar o ponto da massa. Espere secar um pouco e corte no mesmo dia, para evitar rachaduras no sabão. “O óleo tem que passar pelo coador para tirar as impurezas, para depois misturar com os outros ingredientes”, relata dona Edna. A sobra do óleo, ela entrega para a vizinha, que leva a um dos postos de coleta do Triângulo, na zona leste da cidade.

Edna Feriati também separa o lixo de casa, além de realizar compostagem com sobras de cascas de ovo, pó de café, cascas de legumes e frutas. “Parte da mistura eu levo para uma praça aqui próxima para adubar o jardim ou coloco nos vasos de plantas aqui de casa”, diz. O restante é doado para a horta da Unidade Básica de Saúde Vila Renato, próxima de sua residência.  

Segundo o Instituto Triângulo, com a reciclagem do óleo já foi possível reaproveitar, até o final de 2017, 134,3 milhões de metros cúbicos de água, o equivalente a 53 mil piscinas olímpicas de água preservada, além de reduzir a emissão do CO2 equivalente a 193 mil veículos populares. Reciclar óleo é simples, fácil e fundamental para a preservação do meio ambiente.

 

Saiba como armazenar o óleo para a reciclagem:


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