23 de Maio de 2019,12h00
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A quantidade de plástico no mar está prejudicando a vida marinha e causando a morte ou sérios acidentes aos animais aquáticos. Todo ano, 25 milhões de toneladas de lixo vão parar no oceano, de acordo com estudo divulgado em 2018 pela Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA). Deste montante, o Brasil colabora com 2 milhões de resíduos. Segundo a ONU, de 60% a 80% de todo esse material no mar é plástico. Até 2050 é previsto que haja mais resíduos plásticos no mar do que peixes, se o consumo não for contido.
As mortes de animais causadas pelo lixo no mar têm ocorrido a apenas 80 km da capital paulista, nas praias da Baixada Santista. Em dezembro de 2018, uma toninha, espécie de golfinho comum no litoral da região sudeste, morreu por estar com um lacre de garrafa preso na boca. O caso aconteceu na Praia Grande, litoral paulista, e causou comoção nacional. O animal também possuía grande quantidade de microplásticos no estômago.
O veterinário Rodrigo Valle, do Instituto Biopesca, que tentou salvar a toninha, disse que é cada vez mais comum o lixo ter relação com os casos de animais encontrados mortos na água ou encalhados na praia. Contando com o caso da toninha, o Biopesca registrou mais de 13 mortes dessa espécie nas praias da Baixada Santista nos últimos três anos. “Encontradas desde o Espírito Santo até a costa da Argentina, o desaparecimento das toninhas em razão dos resíduos tem contribuído para a extinção desse tipo de golfinho”, explica Valle.
As tartarugas marinhas também estão entre as que mais sofrem com a ingestão de plásticos no mar. Exames realizados com as espécies que ficaram encalhadas já sem vida no litoral sul de São Paulo e foram resgatadas pelo Instituto Biopesca mostraram que cerca de 98% dos intestinos de 516 tartarugas marinhas continham algum tipo de resíduo plástico.
Não muito longe do Instituto Biopesca, a cidade do Guarujá é sede de outra ONG de resgate a animais marinhos, o Gremar. O local cuida dos animais que encalham nas areias da Baixada Santista. A equipe atua 24h por dia com o objetivo de atender o mais rápido possível ocorrências envolvendo animais feridos, encalhados ou em óbito.
“Quanto mais ágeis nós formos no atendimento, mais chances a espécie tem de sobreviver. Porém, quando falecem, posso afirmar que 90% das mortes são causadas pela interação desses animais com o plástico. Está muito difícil hoje em dia constatar falecimento por causas naturais”, explica a bióloga responsável pelo instituto, Rosane Farah.
Rosane conta que na autópsia já foram retirados dos animais objetos como: sacolas plásticas, canudos, papéis de bala, tampinhas de garrafa pet, sapatos de boneca, bitucas de cigarro e resquícios de redes de pesca.
O nome pesca fantasma é dado às redes de pesca que são abandonadas em alto mar por pescadores e que continuam “pescando sozinhas” os animais. Como estão boiando pelo oceano, esses apetrechos são um problema grave que acarretam na morte de espécies aquáticas.
A veterinária Rosane Farah relembra que foi acionada para o resgate de uma tartaruga-marinha, na cidade de Itanhaém, que estava com um pedaço de rede enroscado na nadadeira, causando séria lesão. Além disso, parte do artefato havia sido ingerido. Apesar de muita machucada, a tartaruga teve um final feliz. Depois de meses se recuperando, o animal foi devolvido ao oceano.
Um albatroz, porém, não teve a mesma sorte e teve a vida interrompida por conta de um acidente com uma rede de pesca fantasma. Após resgatá-lo, Rosane acionou a equipe do Animal Avengers, grupo de voluntários que faz próteses para animais feridos com impressoras 3D. O bico do animal, que foi partido pela rede, seria substituído por um implante, mas a ave não resistiu ao estresse do contato humano e faleceu. “Albatrozes são animais oceânicos que não têm contato nenhum com o homem e em 48 horas ele teve uma parada cardíaca”, explica Rosane.
Cansados de vivenciar casos de animais que falecem em razão da prática da pesca fantasma, uma família de Ilhabela, cidade localizada no litoral norte de São Paulo, criou uma ecobag feita de rede de pesca retirada do mar. O produto se chama Sea Bag Paz em Gaia. Eles garantem que o produto é o primeiro feito de rede de pesca no país.
Para conseguir o material, a família fez uma parceria com pescadores locais e convenceu os trabalhadores a recolherem o material que ficava boiando em alto mar. Curiosamente, a sacolinha vem dentro de um estojo feito de vela de barco, material também encontrado na água e que pode machucar animais marinhos. “Moramos em frente à praia e quando o problema acontece no nosso quintal, literalmente, nos sentimos mais motivados a ajudar e manter o ecossistema funcionando”, explica Marcio Gennari, criador da ecobag.
O oceanógrafo Alexandre Turra, referência no Brasil em pesquisas em lixo no mar, confirma que 20% dos itens encontrados no oceano são redes de pesca fantasma e que cerca de 80% dos materiais são provenientes de atividades na terra. A má gestão pública dos resíduos sólidos e o hábito de jogar o lixo fora da lixeira contribuem com esse cenário alarmante. “O descarte incorreto do lixo tem grandes possibilidades de terminar no mar, por isso que vemos tartarugas com cotonetes ou canudos enroscados pelo corpo”, explica Turra.
O especialista afirma que a simples atitude de jogar o lixo na lixeira já ajuda muito para a sobrevivência dos animais marinhos. Ao ir à praia, leve um saquinho para guardar o próprio resíduo e, se possível, troque os canudos plásticos, por opções mais sustentáveis, como os biodegradáveis ou de vidro, alumínio e bambu.
“O mundo ideal seria que todo o lixo gerado, seja na praia ou qualquer outro lugar, fosse reciclado e não parasse no mar. O caminho da reciclagem é o que devemos seguir”, conclui o oceanógrafo.
Texto produzido em 16/01/2019
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