03 de Janeiro de 2020,12h00
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Por muitos séculos a moda tem contado a história da humanidade por meio de suas tendências e cultura. Ultimamente, o assunto que tem dado o que falar é a moda sustentável, na qual o processo de produção das roupas busca utilizar matérias-primas que causam menos impacto ao meio ambiente.
É muito difícil resistir às mais variadas coleções de moda, pois por ano são lançadas mais de 20 tendências, sem contar as liquidações das lojas, com preços mais acessíveis e atrativos. Mesmo com esse cenário de consumismo e facilidades, já existem diversos grupos de pessoas no país que aderiram ao combo moda e sustentabilidade. O movimento é resultado da conscientização envolvendo o excesso de consumo e da descoberta de métodos que facilitam a procura de peças ambientalmente corretas. Um desses projetos é o Gaveta, das amigas Giovanna Nader e Raquel Vitti Lino.
O projeto surgiu da ideia do clothing swap, feira de troca de roupas que já acontece na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, desde 2013, as amigas promovem esse evento para que haja o compartilhamento de peças, minimizando a necessidade de novas aquisições.
As peças enviadas para o projeto passam por uma curadoria de moda e as selecionadas são expostas, já as demais são doadas para Ongs.
“Confesso que começamos como um projeto de troca de roupas e, consequentemente, nos tornamos um manifesto de uma moda consciente. Além de fazer a troca, nós ajudamos alguém que deseja encontrar o próprio estilo aliado à sustentabilidade”, explica a consultora de moda Giovanna Nader.
Para conferir e acompanhar os locais dos encontros, basta seguir o @projetogaveta nas redes sociais.
Práticas como essa são urgentes e essenciais para a desaceleração do fast fashion, conceito que significa literalmente que as roupas são fabricadas, consumidas e descartadas para a chegada de uma nova tendência. Para se ter uma ideia do impacto disso, a indústria têxtil no Brasil produz mais de 5,9 bilhões de peças, entre vestuário, meias e acessórios de cama, mesa e banho, de acordo com dados recentes da ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção).
A maioria dessas roupas é produzida com material sintético, apontado por especialistas como poluente e de impacto negativo para o meio ambiente, tanto no seu processo de fabricação como em sua fase final de decomposição, quando é descartado. Alguns pesquisadores chegam a afirmar que algumas roupas são mais prejudiciais do que o petróleo.
De acordo com a ABIT, o Brasil gera por ano 175 mil toneladas de resíduos têxteis. Do total, menos de 10% são reaproveitados. O dado reforça a necessidade de adesão a uma moda mais sustentável e um novo olhar sobre o consumo.
O excesso de roupas trouxe à tona um conceito denominado “armário-cápsula”, método de organização que consiste em escolher 15, 30, 45 ou 50 peças preferidas e versáteis e ir combinando no dia a dia. De acordo com a consultora de moda, Deisi Remus, muitos consumidores têm se conscientizado de que é preciso cada vez mais deixar de lado o consumismo exagerado e adotar o conceito “menos é mais”.
De acordo com a especialista, muitas peças ocupam espaço que são mal aproveitados no armário e, na maior arte das vezes, escondem o real potencial de formar um estilo próprio e deixam uma sensação de culpa e desconforto por não saber o que vestir.
“Poucas peças estimulam a criatividade, garantem um estilo único e reforçam a conscientização em relação ao consumo exagerado”, explica a consultora.
Ao reformular o guarda-roupa, o restante das peças pode ser doado. O armário-cápsula não é uma novidade. Surgiu nos anos 70 e se tratava de uma coleção de peças básicas e atemporais que, aliadas a outras mais fashions e da estação, deixariam a pessoa sempre bem vestida e atual. “Somente em 1985 que esse conceito se difundiu. Foi quando a estilista Donna Karan lançou uma coleção com apenas sete peças que se complementavam”, conta Deisi.
A consultora de moda garante que essa é uma tendência que vem crescendo e quem prova isso são os leitores de seu blog de moda que conta com mais de 115 mil seguidores nas redes sociais.
“Acho que tem aumentado o número de pessoas que estão se conscientizando e não comprando apenas por compulsão”, diz.
É o caso da jornalista Camila Doretto, que tinha roupas que nunca havia usado no guarda-roupa, algumas, inclusive, com etiquetas. “Confesso que tinha compulsão por comprar roupas”.
Tudo mudou quando a paulistana se mudou a trabalho por um ano para Tefé, cidade do interior do Amazonas, e necessitou levar poucas peças para o local. Com um estilo de vida simples, ela percebeu que não precisava de tantas roupas e acessórios em seu dia a dia.
De volta à São Paulo, Camila pesquisou na internet e colocou em prática a limpeza do armário priorizando as peças mais versáteis e que mais usava. Ela conta que não seguiu à risca o que determinam os consultores de moda sobre o conceito armário-cápsula. Conseguiu reduzir um guarda-roupas abarrotado de uma vida de consumo para 80 peças.
“Arrumei o armário-cápsula em 2016 e faz um bom tempo que não compro roupas por compulsão e, se compro, geralmente é algo que realmente não tenho e sempre opto por produtores artesanais e independentes, pois assim tenho certeza que o meio de produção foi saudável e não agrediu ninguém”, revela.
A revisão do guarda-roupas ataca, para além da questão ambiental, aspectos sociais, já que na medida em que muitas peças podem ser doadas para quem precisa.
Confira os locais para compartilhar suas roupas com quem precisa na capital:
Por Deisi Remus, consultora de moda e influenciadora digital
1. Conheça seu estilo: é importante conhecer as roupas que mais gosta de usar. Você faz o estilo moderninha ou despojada? Leve essas informações em consideração quando selecionar suas peças.
2. Defina um esquema de cores: neutras combinam melhor entre si. Cores como preto, branco, marrom, cinza ou azul marinho combinam com tudo. Depois de escolher as peças básicas, coloque alguns itens de tons mais vibrantes.
3. Prefira padrões e formas clássicas: sempre vai existir uma estampa da moda, porém algumas se mantêm como clássicas e atemporais. Essas são as que devem ser priorizadas na hora de montar o armário cápsula.
Além desses conceitos, existem algumas ideias menos radicais que propõem a criação de pequenas cápsulas dentro do guarda-roupa, de acordo com os espaços em que você mais transita. Por exemplo:
- O guarda-roupa de uma executiva deve ter muitas roupas para trabalho, mas talvez não tantas “de ficar em casa”. Porém, ela pode gostar de se aventurar no campo ou praticar esportes radicais quando possível. Já são duas cápsulas.
- Uma professora de crianças pequenas precisa de um guarda-roupa que leve em consideração o fato de que ela precisará se curvar e se agachar com frequência, mas ela pode gostar de ir a baladas aos fins de semana, então também precisará de uma cápsula que contemple esse aspecto.
Desta forma, cada guarda-roupa cápsula deve estar de acordo com a personalidade de sua dona e com as atividades que ela pratica. Aliás, é recomendável que cada peça do guarda-roupas combine com algo entre duas a cinco outras peças, para render boas composições (quanto mais peças combináveis, melhor).
Texto produzido em 21/04/2019
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