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O grande desafio do Brasil é receber material orgânico

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Paulo PIanez aponta as preocupações do Carrefour com sustentabilidade. Foto: IEA/USP

O grupo Carrefour Brasil é um exemplo no quesito sustentabilidade: a empresa já consegue dar 100% de destinação adequada aos resíduos recicláveis que gera em suas lojas. Enfrenta dificuldades, porém, com o material orgânico.

Para Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade e responsabilidade social do Grupo Carrefour Brasil, o grande problema é o despreparo da indústria. “Ainda não temos fornecedores ou parceiros que estejam de acordo e preparados para receber este tipo de material. Porque é fundamental que todas as questões ambientais estejam ‘ok’, que haja comprovação de que aquele material de fato vai virar um composto orgânico, uma ração animal ou até energia”.

De acordo com Pianez, esta é a grande diferença do Brasil para outros países em que o grupo possui lojas, como França e Itália (onde todo o material orgânico é transformado em biomassa), e um ótimo exemplo a ser seguido. “Poderia funcionar aqui sem dúvida alguma, porque seria uma fonte de geração de energia renovável, que tem um aspecto muito positivo. Porque você dá uma destinação adequada também para o resíduo orgânico, que, se não destinado adequadamente, tem alto impacto ambiental”.

Leia a entrevista na íntegra:

Atualmente, 60% da energia utilizada nas lojas do Carrefour já são provenientes de fontes alternativas (eólicas, biomassa e de pequenas hidrelétricas). Quantas lojas utilizam a biomassa (obtida através de uma variedade de recursos renováveis, como plantas, madeira, resíduos agrícolas, excrementos e até o lixo) como fonte de energia? Existem projetos de expansão nesse sentido?

Na verdade, não temos essa informação dividida porque compramos a energia no mercado livre, e uma das premissas desse mercado é a geração dessa energia por meio de fontes renováveis, que incluem biomassa, eólica, solar e até pequenas unidades de geração de hidroeletricidade.

Então, quando fazemos essa compra, a gente sabe que essas são as fontes, mas não sabemos precisar o quanto seria proveniente de geração via biomassa ou geração eólica, por exemplo. O que nós priorizamos hoje é fazer com que o máximo das nossas lojas utilize esse meio de aquisição de energia que sabemos que será proveniente de fontes renováveis.

E o que seria o “mercado livre”?

O mercado livre é um mercado de venda de excedente de geração de energias de quem produz energia de forma mais sustentável, por meio desses métodos de produção. É um mercado de compra e venda de energia que não é por meio das concessionárias. 

Desde 2016, o Carrefour conta com o programa Carrefour Re-Ciclo. São máquinas instaladas em lojas selecionadas que aceitam embalagens vazias (PET, lata, copo descartável de água e desodorante aerossol) e trocam por descontos na conta de energia elétrica, livrarias ou até por créditos no bilhete de transporte. A ideia sempre foi conscientizar o consumidor? Os clientes se engajaram na causa?

Sim, na verdade são vários os nossos projetos que tem como objetivo engajar o consumidor de um ponto de vista muito simples, que vai desde a separação dos seus resíduos em casa até que ele faça a destinação mais adequada possível. 

Como a gente sabe, a coleta seletiva ainda não abrange todos os bairros, e os supermercados que aderem a essa causa podem servir com dois objetivos. O primeiro é disponibilizar espaços adequados para que o consumidor possa trazer esses resíduos que ele separou em casa e também do aspecto da própria educação e conscientização para que ele saiba a importância de fazer a separação.

Então, dessa forma, com os Re-ciclos e também com as nossas estações de coleta – hoje coletamos lâmpadas fluorescentes, embalagens, cartuchos e toners de impressoras, óleo usado – todos esses programas têm essa dupla finalidade. Obviamente eles estão aderentes à Política Nacional de Resíduos Sólidos, no que diz respeito ao artigo 33, sobre logística reversa.

Em questão de abrangência e potencial de coleta, as estações de reciclagem têm um potencial muito maior. Até pelo tamanho e pela quantidade de material que recolhem.

E também temos 102 lojas que recebem cartuchos e toners de impressoras – em uma parceria com a HP –, 100% das lojas com coletores de pilhas e baterias e mais de 80% das lojas recolhendo óleo de cozinha usado para ser transformado em biodiesel – em uma parceria com a Cargill.

A gente cumpre esse papel, também, de facilitar a vida do consumidor, tanto educando para que ele separe o lixo corretamente, como dando a alternativa. Caso ele não tenha coleta de recicláveis no bairro que mora, pode ir ao Carrefour entregar esse material.

Qual destinação o Carrefour dá aos resíduos gerados em suas lojas?

Para os recicláveis, já damos 100% de destinação adequada. A maioria vai para a reutilização desses materiais por meio da reciclagem. Aí estou falando de plástico, papelão, papel. São basicamente os plásticos e cartonados.

E também temos os resíduos úmidos. Aqui na cidade de São Paulo, já temos um bom índice de destinação. Em vez de mandar para os aterros sanitários, a gente já tem conseguido dar uma destinação entre 40% a 60%, a depender da localização da loja. E ele vai para a fabricação de ração animal, de composto orgânico.

A gente tem uma meta estabelecida no Carrefour de conseguir fazer com que cada vez mais, ano a ano, a gente aumente este percentual de destinação de reciclagem de material orgânico, que é o grande desafio.

Quais são os desafios para que esta destinação chegue a 100%?

Na verdade, ainda não temos fornecedores ou parceiros que estejam de acordo e preparados para receber este tipo de material. Porque, até por uma questão de segurança jurídica, é absolutamente fundamental que todas as questões ambientais estejam ‘ok’, que haja comprovação de que aquele material de fato vai virar um composto orgânico, uma ração animal ou até energia.

Então, esse é um outro grande desafio que a gente tem no Brasil: desenvolver a capacidade de fornecedores e de um tipo de indústria de transformar material orgânico em biomassa. O que a gente tem no Brasil hoje são parceiros aptos a produzir, a partir do óleo de cozinha, o gás biodiesel – mas não, ainda, a biomassa.

E todo o óleo produzido no Carrefour é destinado para a produção deste gás?

Sim, 100%. Tanto do que é gerado na loja quanto o que a gente recebe do consumidor nos pontos de coleta. Tudo vira biodiesel.

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80% das lojas Carrefour recolhem óleo de cozinha para ser transformado em biodiesel. Foto: Rattiya Thongdumhyu/shutterstock.com

O Carrefour conta com lojas em diversos países ao redor do mundo. Quais iniciativas para o tratamento de resíduos também poderiam funcionar no Brasil?

De tudo o que a gente faz hoje, o que ainda sentimos falta no Brasil é justamente a biomassa. Quando eu vou à França, ou mesmo à Itália, a gente vê que basicamente os parâmetros são os mesmos. Mas, por exemplo, eu diria que a maioria do material orgânico gerado na operação vai para a geração de energia via biomassa, o que não acontece no Brasil.

E poderia funcionar aqui sem dúvida alguma, porque seria uma fonte de geração de energia renovável, que tem um aspecto muito positivo. Porque você dá uma destinação adequada também para o resíduo orgânico, que, se não destinado adequadamente, tem alto impacto ambiental.

De que forma a indústria de varejo pode atuar para conscientizar e aprimorar a questão do gerenciamento dos resíduos no Brasil?

Pela quantidade de pessoas que a gente recebe nas lojas e essa capacidade que a gente tem de interagir com esse consumidor, eu acho que usando os meios de comunicação de loja – que a gente usa muito, como, por exemplo, os nossos portais e redes sociais e a nossa rádio interna –, em que a gente está sempre passando mensagens curtas para o consumidor sobre a importância de separar o lixo, de fazer a destinação adequada. E colocando o Carrefour como um lugar onde as pessoas podem levar seus resíduos, porque a gente dá a destinação adequada.

E, daqui a pouco, em parcerias até mesmo com o poder público, falar para ele (consumidor) também os bairros que têm a disponibilidade da coleta seletiva. Ou seja, eu acho que quanto mais informação você der para o consumidor, mais você vai formando para que ele tenha consciência de que é importante o papel dele, que a separação em casa é o primeiro passo de uma educação ambiental.

Vocês também possuem campanhas internas para funcionários e fornecedores?

A gente tem não só campanhas, como um processo de engajamento grande. Todos esses projetos que eu te falei, foram desenvolvidos em parceria com os fornecedores (Tetrapak, Mondelez, HP, etc.). São essas parcerias, tanto do ponto de vista de conscientização do consumidor tanto propriamente de desenvolver soluções destinadas a este mesmo consumidor.

Sobre os funcionários, todos os novos que entram – como os que já estão aqui – passam por módulos de educação ambiental.

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Em São Paulo, nas unidades que aderiram ao programa, o número de sacolas caiu em mais de 90%. Foto: Gansstock/shutterstock.com

Dados mostram que pelo menos oito milhões de toneladas de plástico vão para os oceanos todos os anos. Em 2012, as sacolas foram banidas dos supermercados de alguns municípios paulistas, mas voltaram em questão de poucos meses. Por que a indústria não resolveu banir de vez o uso das sacolas, já que são tão prejudiciais ao meio ambiente?

Infelizmente, esse assunto no Brasil deixou de ser tratado como ambiental e entrou numa seara de judicialização, onde, em várias cidades, a interpretação foi de que a sacola plástica era um direito adquirido do consumidor. Com esse direito há 30 anos, nós não poderíamos retirar dele o uso da sacola plástica em detrimento ao direito difuso que seria a retirada das sacolas plásticas porque teria um impacto ambiental muito positivo.

Então, na verdade, isso que acabou comprometendo a continuidade do projeto em 2012, que era conduzida pela APAS - Associação Paulista de Supermercados com adesão de praticamente 100% dos supermercados no estado de São Paulo inteiro. E, enquanto o programa durou, foi um sucesso.

Por sorte, no município de São Paulo, a legislação que foi aprovada permitiu que as sacolas plásticas, dentro dos supermercados, teriam que ser com preço implícito – porque a sacola não é distribuída gratuitamente, na verdade o consumidor paga por ela, mas ele não sabe que está pagando, não tem clareza disso.

A gente julga que o mecanismo mais eficiente não é o que a gente chama de “banimento” da sacola, mas o preço implícito dela. Então, se você vai no supermercado e por algum motivo quer a sacola, você paga por ela. Se eu vou ao supermercado e não quero a sacola, não pago por ela porque estou levando a minha.

Em São Paulo, nas redes que aderiram ao programa, o número de sacolas caiu em mais de 90%. No Brasil, a gente usa mais de 17 bilhões de sacolinhas por ano. É um número monumental. E é verdade que uma parte delas é reaproveitada, como sacolinha de lixo em casa e tudo o mais. Mas não é a maior parte, e a sacola de lixo tem uma baixa taxa de reciclabilidade e, não à toa, é um dos principais poluentes tanto urbano, quanto do meio ambiente em geral.

O Brasil é o maior produtor de lixo eletrônico da América Latina, de acordo com o estudo “E-Waste” de 2015. O Carrefour conta com pontos de coleta para celulares e cartuchos de impressoras. Pretendem aumentar a gama de materiais?

Sim, na verdade estamos agora no âmbito de discussão do acordo setorial de eletroeletrônicos da logística reversa. Estamos trabalhando junto com a indústria e a gente pretende, rapidamente – a exemplo do que aconteceu com medicamentos, embalagens e lâmpadas fluorescentes – fechar um acordo setorial em que seja viabilizada a logística reversa para eletrônicos em geral. Tanto aqueles de pequeno porte, como pequenos computadores e equipamentos, quanto os de grande porte, como fogões, geladeiras, máquinas de lavar, etc.

Como a indústria de varejo pode avançar nesse sentido?

Com a mobilização, de fato, dessa logística reversa. Fazendo com que todos os elos estejam trabalhando conjuntamente. Ou seja, a exemplo do que aconteceu com a lâmpada fluorescente, construindo uma agência que irá fazer com que haja a implementação desse acordo de logística reversa.


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