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Vai fazer uma obra? Saiba que seu entulho pode servir de matéria-prima

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Tijolo, telhas, areia, alvenaria e concreto estão entre os produtos que podem ser reinseridos diretamente na atividade. Foto: Marcelo Terraza / FreeImages

Todos os dias são produzidos no Brasil 290,5 mil toneladas de resíduos de construção civil, o equivalente a cerca de 1.050 aviões Airbus A380, o modelo de aeronave comercial mais pesado do mundo, de acordo com dados da Pesquisa Setorial da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil (ABRECON).  Considerada um dos setores econômicos mais importantes do país, a indústria da Construção Civil promove relevante contribuição ao Produto Interno Bruto (PIB) e é responsável por empregar 8% da população.

Por outro lado, esse setor é também responsável por um grande impacto ambiental, seja pelo consumo de matérias, energia e água, ou pela produção de resíduos que, quando destinados de maneira incorreta, inviabilizam a vida útil de aterros e poluem rios e mares. Com o objetivo de promover a reciclagem desses resíduos e de tornar a construção civil um setor mais sustentável, a ABRECON entende a importância da reciclagem desses resíduos em duas vertentes: ambiental e social.

“A importância é social porque gera emprego e gera renda. Hoje mais de 4 mil pessoas são empregadas diretamente por esse mercado. E é ambiental, porque a gente consegue aumentar consideravelmente a vida útil dos aterros, poupar a geração de gás carbônico porque as usinas estão mais próximas dos grandes centros, e também o consumo de recursos naturais”, explica Hewerton Bartoli, fundador e presidente da ABRECON.

Tipos de resíduos

Qualquer material utilizado em uma obra é considerado um resíduo da construção civil. Como uma forma de estabelecer a maneira adequada para que cada um deles seja reciclado, reutilizado ou descartado, a resolução nº 307 de 2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) dispõe diretrizes, critérios e procedimentos sobre a gestão e destinação dos resíduos. O objetivo é minimizar os impactos ambientais e estabelecer a classificação deles em 4 categorias: A, B, C e D.

Os resíduos de Classe A são os gerados em maior quantidade pelos empreendimentos e construções, representando de 50% a 70% de toda a massa de resíduos na construção civil. Tijolo, telhas, areia, alvenaria e concreto estão entre os produtos que podem ser reinseridos diretamente na atividade.

“Essa classe é a mais vantajosa em relação aos outros resíduos, uma vez que os materiais dessa categoria conseguem ser destinados a uma usina específica de reciclagem de entulho”, comenta Hewerton.

Já os resíduos da Classe B são aqueles passíveis de reciclagem que podem servir para outros fins, não somente para o mercado da construção. Madeira, metal, gesso, papel e plástico entram nesta classificação. Representando de 10% a 20% dos resíduos gerados em uma obra, a madeira consegue ser processada e transformada em energia e biomassa. De acordo com Hewerton, existem diversas usinas de reciclagem espalhadas pelo Brasil que são capazes de transformar a madeira em biomassa, largamente reutilizada na indústria para alimentação dos fornos.

O metal, os ferrosos e não ferrosos também são passíveis de reciclagem. Neste caso, como o produto tem valor agregado, o empreendedor consegue descartá-lo e, ao mesmo tempo, gerar receita. Os resíduos considerados simples, como o papel e o plástico, passam pelo seu processo de coleta seletiva normal e são enviados às centrais de triagem e, logo após, às cooperativas gerando renda e sendo reinseridos na indústria.

“Destes, o gesso é um dos resíduos que gera maior impacto em um empreendimento”, conta Hewerton. São dois tipos do material: o drywall, pré-fabricado que gera um desperdício menor; e o gesso liso, considerado o grande problema por representar de 10% a 20% da massa de resíduos e por ser muito comum nas obras. “Existe tecnologia para reciclar o gesso, mas não existem negócios viáveis para ela. Portanto, o empreendedor deve destiná-lo corretamente, principalmente nas estações de transbordo, que são capazes de receber esse material e enviar para indústrias cimenteiras e outros elos da cadeia, dando reuso para o produto”, explica Hewerton.

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As soluções tecnológicas para a reciclagem dos resíduos de construção civil variam de acordo com o tipo. Foto: Mabel Amber / Pixabay

Os resíduos da categoria Classe C são os não passíveis de reciclagem, seja porque não existe a tecnologia ou porque a condição do resíduo faz com que o processo de segregação e triagem não justifique o valor agregado do resíduo. De acordo com a ABRECON, isso acontece porque muitas vezes a obra não possui um espaço físico para separar o resíduo e acaba por contaminá-lo com outros materiais, ou porque não tem recursos para fazer a segregação de maneira correta.

Na Classe D se encaixam os resíduos perigosos, como óleos, tintas e solventes. Esses materiais exigem cuidados especiais no seu manejo, como uso de equipamentos específicos. O transporte desses itens também requer registros da empresa e habilitação por parte do motorista. Além disso, seu destino final deve ser o aterro Classe 1, capaz de dar tratamento dedicado a esses produtos.

Como é feita a reciclagem

As soluções tecnológicas para a reciclagem dos resíduos de construção civil variam de acordo com o tipo. "O nosso maior foco hoje é o resíduo de Classe A, que é o inerte. Ele é nossa maior aposta, principalmente por ser gerado em maior quantidade e por ser reabsorvido pelo setor", explica Hewerton.

O processo de reciclagem desses resíduos acontece nas Usinas de Reciclagem de Resíduos de Construção Civil. De acordo com a ABRECON, existem dois modelos: as usinas fixas e as móveis. O funcionamento consiste em receber o resíduo, fazer a inscrição e a avaliação da qualidade do material, que passa por um processo de trituração e, logo após, de granulagem, que permite a separação das frações, dando uma destinação adequada aos novos materiais. Os resíduos são classificados em areia, brita, pedrisco ou bica corrida e poderão ser comercializados como matéria-prima secundária dentro do próprio setor da construção.

Além da possibilidade externa de reciclagem, os resíduos de Classe A podem ser processados dentro da própria obra.

“Os britadores móveis conseguem transformar todas as sobras de concreto e alvenaria em produtos que podem ser reutilizados para preenchimento de valas e até mesmo para pavimentação”, conta Hewerton.

Um mundo de possibilidades

“Esse lixo pode ser muito bem reaproveitado. Dá para fazer bloco, tampa de bueiro, boca de lobo, sarjeta, guia e, inclusive, moradias”, conta a engenheira civil Reginalda Cajá, responsável por um projeto que idealiza a construção de um imóvel totalmente sustentável, produzido a partir dos resíduos de outras construções.

No imóvel, os blocos são feitos de agregados finos e grossos no lugar da areia e da brita, e a mistura desses materiais dá origem aos tijolos.

“Não vai mais poluir os rios ou entupir os bueiros. É uma consciência sustentável e que vai livrar o meio ambiente de muito entulho, com certeza”, reforça a profissional.

Levando o nome de Casa popular construída com resíduos da construção civil - Lixo que vira um luxo, o projeto da engenheira civil Reginalda Cajá visa à construção de um imóvel composto por dois quartos, sala, cozinha, banheiro e garagem com um custo que gira em torno de R$ 60 mil reais. "A expectativa é uma diminuição no défict de moradia, porque o imóvel no valor estimado é muito barato para que seja entregue pronto, totalmente finalizado, para uma família", explica o advogado Oriovaldo Pereira, também idealizador do projeto.

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A melhor maneira de contribuir corretamente no descarte desses resíduos é descartar de forma consciente. Foto: Pixabay

Você é responsável por aquilo que gera

De acordo com dados da Pesquisa Setorial da ABRECON, publicado em novembro de 2018, o pequeno gerador, ou seja, aquele que faz uma pequena reforma em sua casa gerando 1m³ de resíduo por dia, representa cerca de 60% a 70% da massa total de resíduos da construção civil. Desta maneira, o maior volume de resíduos acaba sendo gerado pelas pequenas obras e não pelas grandes.

É aí que entra o papel do cidadão, que tem por obrigação destinar corretamente o seu entulho de duas maneiras: levando o material até o Ecoponto mais próximo ou contratando uma transportadora privada para recolhê-lo. “A melhor maneira de contribuir é descartar corretamente, seja de maneira voluntária e gratuita ou contratando uma empresa de caçamba. Lembrando que ela deve estar cadastrada na Prefeitura e possuir o Controle de Transporte e Resíduo, certificado que garante que o material terá uma destinação segura”, finaliza Hewerton.

Texto produzido em 22/04/2019


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