Frente da cooperativa Chico Mendes. Foto: Thiago Mucci
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A Cooperativa de Reciclagem Chico Mendes não tem esse nome por acaso. A história do seringueiro do Acre, que morreu a mando de fazendeiros por defender a preservação da floresta amazônica e salvaguardar o trabalho de extração da borracha, serviu de inspiração para a entidade.
A instituição teve início em 1999, quando ainda pouco se falava sobre reciclagem, na região de São Mateus, na zona Leste de São Paulo. Foi formada por um grupo de dez voluntários da comunidade católica do bairro, reunidos na Igreja Padre Ezequiel Ramin durante a Campanha da Fraternidade da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que, naquele ano tinha como tema “Sem Trabalho... Por Quê?”.
“No início do trabalho depositamos a coleta na igreja e depois numa garagem de uma senhora do bairro. Todos eram voluntários e ficamos até 2004 sem obter rendimentos”, explica a cooperada Kamila Alves da Costa, de 29 anos, que acompanhou o início da entidade desde os 8 anos.
Filha de Dulce Alves de Andrade, uma das fundadoras e mentora intelectual da Chico Mendes, Kamila lembra que os tempos eram difíceis. Além da falta de renda, a cooperativa sofreu com furtos de equipamentos e incêndios criminosos.
“Nós usamos o nome Chico Mendes por causa da força que este homem teve para lutar e fazer valer as causas em que acreditava.”
O sonho de Dulce e dos fundadores deu certo. Atualmente, com 50 cooperados, a Chico Mendes processa 90 toneladas de materiais recicláveis e consegue pagar salários que variam de R$ 974,00 a R$ 1.300,00 para cada associado.
A batalha até os dias de hoje não foi fácil. Ainda na fase da garagem em São Matheus, o material era coletado em um fusca, que puxava um carreto onde eram armazenados produtos da coleta seletiva. O carro havia sido comprado por meio de um financiamento a fundo perdido, feito pela Igreja Católica como parte da campanha da fraternidade.
Mas a garagem era insuficiente e não havia renda para tirar a cooperativa da perspectiva do voluntariado. Era preciso ter um galpão para o armazenamento dos materiais. Em 2002, a Cohab chegou a arrumar uma edificação. No entanto, antes de assumir o local, um grupo de 15 famílias invadiu o prédio e passou a morar nele.
Foi somente em 2004 que conquistaram um terreno doado pela Prefeitura, mas sem estrutura alguma. “Era uma área pelada e precisávamos arrumar um jeito de construir o galpão”, explicou Angélica Zavitoski, de 44 anos, secretária da Chico Mendes.
A saída foi conseguir dinheiro para o material de construção, cerca de R$ 10 mil, que veio com apoio da Igreja e da comunidade. A obra foi feita em mutirão com a comunidade.
Com o galpão pronto, era necessário incrementar a infraestrutura da cooperativa. Uma ONG católica espanhola, vinculada à ordem dos agostinianos, financiou a compra do primeiro caminhão baú. A partir de então, a história começaria a mudar, com aumento gradativo da coleta seletiva no bairro e, consequentemente, da receita dos cooperados.
A Chico Mendes atua, como boa parte das cooperativas visitadas pelo Recicla Sampa, com perfis de funcionários geralmente marginalizados pelo mercado de trabalho. Dos 50 cooperados, 30 são mulheres, boa parte das quais sustentam suas famílias. Também há ex-dependentes químicos e ex-presidiários.
Um deles é Paulo (nome fictício), de 24 anos. Ex-usuário de drogas, o rapaz trabalhou até os 21 anos num desmanche de veículos.
Foi preso em flagrante e pegou 2 meses de cadeia. “A Chico Mendes me salvou”, disse ele, que começou a trabalhar na cooperativa levado pelo pai, também cooperado, após deixar a prisão. Fernando conta que chegou a ganhar muito mais dinheiro no mercado ilegal. “Mas gastava tudo em balada e drogas”.
Na cooperativa, conheceu sua mulher, com quem tem um filho. “Eu prefiro estar aqui trabalhando e ajudando a limpar a cidade”, afirma. “Voltar para o crime, nunca mais.”
Aos 43 anos, Lucineide Soares Silva está há 7 na cooperativa. Antes de virar catadora, chegou a ser secretária e gerente de loja. Mas, vinda do Rio de Janeiro, ficou desempregada e agarrou a oportunidade, oferecida por uma amiga.
Durante esse período comprou um terreno, construiu uma casa e teve novas oportunidades de trabalho. Porém, preferiu não mudar de emprego. “Eu sei a importância do meu trabalho para o meio ambiente e adoro o que eu faço aqui”, explica, sobre o motivo de não ter saído.
Um outro fator pesa a favor da cooperativa: ela fica perto da residência dos cooperados, e isso, em São Mateus, não quer dizer pouca coisa. Pode significar de duas a três horas de transporte público para outros lugares em áreas centrais ou regiões de capital. “Aqui estou a dez minutos de casa e não preciso pegar ônibus lotado todo dia.”
A Cooperativa de Reciclagem Chico Mendes está localizada na Rua Cinira Polonio, 369 – São Matheus
Telefones: (11) 2752-9446 e (11) 3416-4057
Materiais reciclados: papel, plásticos (todos), vidros, metais comuns e papelão.
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