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Em evento, especialistas apontam soluções para reciclagem no país

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Especialistas debatem sobre reciclagem e logística reversa em evento na Fiesp. Foto: Atelier de Imagem

Roger Koeppl, 30 anos, deixou a carreira como executivo em multinacionais para abrir um modelo de negócio que fizesse a diferença no mundo: uma cooperativa de reciclagem. O estalo para deixar a vida dentro do escritório e empreender no ramo dos resíduos sólidos aconteceu depois de participar como voluntário em um programa da Cruz Vermelha. Usando seu conhecimento corporativo, nasceu a Yougreen, no bairro do Tremembé, na zona Norte de São Paulo.

Tratar o resíduo como negócio e valorizar o trabalho do catador foram uma das bases para o avanço da empresa de reciclagem. “Geralmente, o cooperado no mercado consegue retirar 660 reais na venda dos materiais, na nossa cooperativa ele consegue em torno de 1.800”, contou Roger à uma plateia atenta.

Hoje, a Yougreen encontra-se na região da Lapa, zona Oeste da capital, e faz a gestão dos resíduos de grandes empresas como a rede atacadista Makro e a marca de café Três Corações.

Exemplo de case de sucesso na reciclagem, Roger e outros profissionais relacionados à área de resíduos sólidos tiveram a oportunidade de contar suas trajetórias na 21ª Semana do Meio Ambiente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), realizada na Avenida Paulista.

O evento ambiental é um dos mais tradicionais da entidade e aconteceu durante três dias, de 4 a 6 de junho. “Todo ano, debatemos o assunto ecológico mais urgente. Nessa edição, escolhemos falar sobre os resíduos sólidos”, explica Anícia Pio, gerente de desenvolvimento sustentável da Fiesp.

O primeiro dia de debates foi marcado pela discussão em torno das políticas públicas para os resíduos sólidos e a cadeia de produção, consumo e descarte de um material.

Em 5 de junho, segundo dia e também data escolhida para lembrar mundialmente o meio ambiente, foi dedicado aos problemas e soluções para a reciclagem e a logística reversa do país. Durante o seminário, empreendedores, especialistas e entidades falaram sobre os desafios brasileiros para transformar o ato da coleta seletiva e da reciclagem em uma atitude que faça parte do cotidiano das pessoas.

Para atingir essa prática, Assunta Napolitano Camilo, presidente do Instituto de Embalagens, acredita que a indústria deve facilitar a comunicação na embalagem para o consumidor.  Ela trouxe exemplos de produtos europeus e dos Estados Unidos para mostrar as instruções que eles dão para o descarte.

“Uma marca internacional de peixes congelados usa uma caixa de plástico acoplada com outra de papel para embalar a mercadoria. Na hora de descartar, o cliente só desacopla os materiais antes de jogar na lixeira dos recicláveis. Isso está explicado de maneira simples no produto”, disse.

Já Luiz Gonzaga Alves Pereira, presidente da ABETRE (Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos e Efluentes), que também participou do debate, foi enérgico em seu discurso e disse que a falta de iniciativas políticas claras atrapalha o desenvolvimento da reciclagem no Brasil. Ele indica algumas práticas, como acolher as cooperativas com profissionalismo e investir na economia circular, aquela que une fabricação de produtos sustentáveis com empreendedorismo sem poluir o meio ambiente.

É o que já está acontecendo na Gerdau, empresa siderúrgica brasileira e maior recicladora da América Latina. “Cerca de 80% do material da multinacional vem da reciclagem de carros, principalmente modelos mais antigos, que são mais poluentes”, conta Lucas Rando, gerente comercial da companhia.

Luís Fernando Chaves da Silva apoia a iniciativa da Gerdau. O conselheiro do Cosema/Fiesp (Conselho Superior de Meio Ambiente da Fiesp) acredita que reciclar carros velhos é a melhor solução para melhorar a saúde pública do país, pois se eles ainda circulam pelas ruas emitem monóxido de carbono pelos escapamentos em maior quantidade. 

Esse gás tóxico é altamente venenoso para o corpo. Em alta concentração na atmosfera pode causar dores de cabeça, tonturas, confusão mental e outros sintomas. Há 25 anos, o governo brasileiro obriga a indústria automobilística a usar filtros em todos os carros. Sem essa iniciativa, o ar das cidades brasileiras seria irrespirável, pois atualmente há mais de 43 milhões de veículos circulando pelo país, de acordo com o Sindipeças, entidade que reúne os fabricantes de autopeças.

Os pátios com carros velhos apreendidos no estado de São Paulo é uma grande preocupação para Luís Fernando. Como estão estacionados por muitos anos no espaço, eles podem ser vetores de doenças, como dengue e outras. Ele cita que um local como esse existe na cidade de Araçariguama, no interior, e está super lotado. “Ironicamente, o lugar fica a poucos quilômetros de uma usina de reciclagem de veículos da Gerdau que poderia transformar os automóveis em aço novo”, conta.

Enquanto a Gerdau recicla veículos, Klaus Curt Müller reaproveita os pneus dos automóveis. Presidente executivo da Reciclanip, órgão criado pelas indústrias de pneu para atuar na reciclagem do material, ele enfatiza que a maior dificuldade que enfrenta no setor é o custo logístico para conseguir atender todas as regiões do Brasil. “A isenção tributária para o setor seria uma das saídas para aumentar a operação da logística reversa e ampliar a rede de coleta no país”, conta.

Mesmo com as adversidades logísticas, Klaus explicou que os trabalhos da Reciclanip tornaram o Brasil um dos maiores recicladores de pneus do mundo.  Diariamente, cerca de 90 caminhões circulam pelo país, retirando mais de 1.200 toneladas do produto armazenados em pontos de coletas.

A maior parte do material é utilizado como combustível em fornos da indústria de cimento, gerando energia para a fabricação de clínquer, principal matéria-prima para produção cimenteira. Outra parte dos pneus é usada para fabricar novos produtos como gramados sintéticos, tapetes de automóveis e solas de sapato.

A união de indústrias de um setor fazendo a logística reversa de seu produto, como acontece com a Reciclanip, para Paulo Roberto Leite, presidente do Conselho de Logística Reversa do Brasil, é a melhor solução para ampliar a reciclagem no país. “Não há espaço para amadorismo nesse ramo. Quanto mais parcerias entre empresas, visando à lucratividade, mais conseguiremos melhorar a logística reversa e diminuir a quantidade de materiais que lotam os aterros sanitários”, disse.

Para Eduardo San Martin, presidente do Conselho Superior de Meio Ambiente da Fiesp (Cosema/Fiesp), resíduo mal aproveitado é dinheiro jogado fora. “Temos que entender que reciclar é gerar renda. Temos materiais recicláveis de valor comercial sendo enterrados nos aterros ou lixões do país”, concluiu. Para ele, isso só vai deixar de acontecer quando a sociedade pressionar todas as esferas públicas e privadas para que haja maior índice de reciclagem no Brasil.

Texto produzido em 07/06/2019

 

 


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