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Entra o reciclável, sai crédito para o consumidor

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Estação de metrô Faria Lima, São Paulo. Foto: Marcelo Martins

Estação Faria Lima, manhã de uma segunda-feira. Horário de pico na Linha 4 Amarela do Metrô de São Paulo. Um entra e sai frenético de 46 mil pessoas que circulam por ali todos os dias. São jovens, trabalhadores, turistas, vendedores ambulantes.

Na caminhada até a plataforma de embarque de passageiros uma cena chama a atenção: enquanto aguarda a chegada do trem, um rapaz retira garrafas de plástico da mochila e as deposita em uma máquina próxima do acesso aos vagões. De longe, algumas pessoas observam com curiosidade.

O protagonista é Fernando Arruda, de 27 anos. Há duas semanas, todos os dias antes de ir para o trabalho, o gerente de contas esvazia sua mochila em troca de benefícios, como descontos na conta de luz, créditos em vale transportes, recargas de telefones pré-pagos e doações para instituições filantrópicas. A máquina, chamada de Retorna Machine, recebe diferentes tipos de resíduos, como PETs, latinhas de alumínio, copos plásticos, vidros, embalagens longa vida, entre outros.

“Não sou uma pessoa assídua na preservação do meio ambiente, mas o que eu posso fazer eu faço. Comecei a reciclar por conta da máquina”, diz Fernando, que acumula um saldo atual de 1.205 pontos.

Trata-se de um instrumento de política reversa simples e de incentivo à reciclagem e à preservação do meio ambiente. “Na casa do meu namorado eles só tomam água com garrafa pet. Compram caixas e caixas de garrafa. Eu sempre via aquele monte de embalagens e me perguntava: para onde vai isso? Eles têm que jogar no lixo. Aí pensei em transformar isso em dinheiro”, diz.

Como funciona

Usar a máquina é muito fácil. Basta criar uma conta na tela do próprio equipamento informando um endereço de e-mail, CPF e nome do usuário. Isso também pode ser feito pelo site ou por um aplicativo de telefone celular. O próximo passo é depositar as embalagens com o código de barras virado para a parte de cima do compartimento, para que o equipamento identifique facilmente o tipo de material.

Cada embalagem tem uma pontuação que varia entre 5 (longa vida e vidros), 10 (PETs) e 15 pontos (alumínio). Ao atingir um número determinado o usuário consegue trocar por uma das opções de benefícios disponibilizados.  

Para pontuar, cada pessoa deve depositar até no máximo 10 embalagens por dia. A partir da 11ª, os pontos são doados automaticamente às instituições parceiras do projeto, como a Fundação Fenômenos, a Casa do Zezinho e a Projeto ONG Arrastão. As entidades convertem o bônus em crédito de Bilhete Único para seus colaboradores ou em desconto na conta de energia.

Uma decisão democrática definida pela empresa para permitir o acesso de um número maior de pessoas.  “A gente não quer que uma pessoa esvazie uma lixeira e deposite na máquina, impedindo que outras pessoas utilizem”, explica Felipe Cury, 28 anos, sócio fundador da Tricicle, empresa proprietária da máquina no Brasil.

O sistema on-line do equipamento permite saber se a bag (saco que coleta os resíduos dentro da máquina) atingiu o limite máximo de capacidade e precisa ser esvaziada. Isso geralmente ocorre quando a Retorna Machine atinge 85% de capacidade. As máquinas comportam até 800 embalagens. Somente nas disponibilizadas nas quatro estações de Metrô – Faria Lima, Sé, Luz e República – são recolhidos por dia cerca de 400 embalagens. 

Inciativas como essa podem contribuir significativamente para o engajamento da população na preservação do meio ambiente. O consultor, Igor Brito, de 26 anos, não conhecia o equipamento. Ele usa esporadicamente o metrô para trabalhar, mas acredita que esse tipo de iniciativa pode fazer a população reciclar mais.

“Você pode trocar por um benefício próprio e acaba deixando a população ciente de como é importante reciclar. Estou com vontade de fazer o meu cadastro e já utilizar a máquina”.

A reciclagem

Os materiais coletados nas máquinas são enviados para um galpão operacional da Triciclo, localizado na zona sul de São Paulo, onde é feita a triagem e a classificação do material. Os produtos são separados em dois: metais e plásticos. Os plásticos ainda são divididos entre as cores branca e verde. “Logo após a separação é feito a parte de prensagem em que os materiais são separados em fardos.

Depois disso, uma vez por mês, uma empresa terceirizada retira o pet e lata enfardados. “O lixo no Brasil é muito valioso e não temos noção do quanto isso pode ser valioso para nós no futuro”, explica Kleber Sales Cirino, gerente operacional da Triciclo. Parte do material que não foi recolhido por recicladoras são doados às cooperativas parceiras.

“Todos os materiais coletados nas estações de Metrô, por exemplo, são destinados para a cooperativa Vira Lata. Eles fazem um trabalho superbacana de reaproveitamento dessa matéria-prima inserindo-a novamente na cadeia de consumo”, comenta Felipe.

Parcerias

Hoje são 32 máquinas espalhadas em vários pontos do Brasil: estações de metrô, shoppings, supermercados, entre outros locais de grande circulação de pessoas, sendo 29 delas no estado de São Paulo, uma no Rio de Janeiro, uma em Recife e uma em Manaus.

As máquinas são adquiridas por meio de parcerias, que acontecem de diferentes formas. Os recicladores e cooperativas, por exemplo, são considerados parceiros, uma vez que captam o material e dão o destino final adequado.

“Temos também o parceiro que é o nosso cliente, como no caso o supermercado que instala essa máquina no seu ponto de venda e permite que seus consumidores venham com os resíduos e descartem. E os parceiros de benefício, como os responsáveis pelo Bilhete Único, pelo cartão Bom, a Eletropaulo e a Saraiva, que possibilitam a troca de pontos Triciclo. Eles são de suma importância para que toda engrenagem gire perfeitamente. Isso faz com que o consumidor tenha interesse em utilizar a máquina”, esclarece Felipe.

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Retorna Machine no Tenda Atacado, São Paulo. Foto: Marcelo Martins

Adriano Morais é gerente do Tenda Atacado, uma loja parceira da Triciclo de venda de produtos em atacado, que participa do projeto há três meses. Ele acredita ser fundamental a disponibilidade de uma máquina como essa em estabelecimentos comerciais que trabalham com vários tipos de produtos recicláveis, como PETs, latas, papelões, entre outros, uma vez que ajuda o meio ambiente e retira a sujeira das ruas.

“Um dos clientes da loja, seu José, descartava lixo nas ruas e hoje quando vem fazer compras ele traz sacos cheio de latinhas e recicla junto com a gente. Isso é muito bom”. A máquina está em fase de testes em outras três lojas do grupo.

O estabelecimento possui ainda um departamento de sustentabilidade que desenvolve outros projetos, como o de reciclagem de óleo em parceria com uma empresa de produção e processamento de alimentos, que em três anos já coletou 160 mil litros de óleo reciclável. A cada litro de óleo de cozinha enviado para a reciclagem, o cliente tem 60 centavos de desconto na compra de qualquer produto no mercado. “Cada litro de óleo contamina 25 mil litros de água. Nós conseguimos preservar mais de 3 bilhões de litros de água. É um projeto de uma importância gigantesca”, diz a coordenadora da área de sustentabilidade do grupo Tenda Atacado, Maria Isabel Rego.

Os clientes que frequentam o local também contam com a opção de PEVs (Ponto de Entrega Voluntária), cujos produtos recolhidos são encaminhados à uma cooperativa parceira encarregada da retirada e da reciclagem do material. 

Outras campanhas já foram realizadas em parceria com empresas como a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) - no Campeonato Copa Verde - onde os pontos foram trocados por ingressos de futebol, e uma campanha de Natal com a Bauducco, em que os pontos foram convertidos em panetones da marca.   

Retorna Machine em números

32 máquinas em dois anos e meio de projeto

Atuação em 4 estados brasileiros: 29 São Paulo, 1 Rio de Janeiro, 1 Recife e 1 Manaus

58.763 usuários

2.351.936 embalagens recolhidas

24.593.500 toneladas de material recolhido

A ideia

Após realizar viagens internacionais a países da Europa, como a Alemanha, referência em reciclagem de lixo, Felipe Cury decidiu se unir aos seus primos Christian Cury e Maurício Zarzur para empreender na área de sustentabilidade. Foi assim que tiveram a ideia de trazer para o país a Retorna Machine. 

“Fomos até a China, Pequim, onde tem mais de três mil máquinas instaladas, para ver como eles faziam toda a operação, como era o engajamento da sociedade e o que isso dava de retorno para o público em termos de volume de material. Foi aí que realmente decidimos investir e trazer essa tecnologia para o Brasil”.

A primeira máquina começou a operar em caráter experimental em setembro de 2015, na estação Sé do metrô. Após dois meses de teste, em dezembro do mesmo ano, começou a funcionar em definitivo.

Iniciativas como essa impactam de maneira positiva quem conhece a máquina pela primeira vez. A aposentada Brigitte Fernandes, de 70 anos, estava de passagem na linha 4 do metrô e adorou o equipamento. Descendente de alemães, tem o hábito de reciclar há mais de 30 anos e ajudou o marido a implementar a coleta seletiva no prédio em que residem antes mesmo da implementação do processo na cidade.

“Acredito que seja possível criar essa cultura desde a escola. As crianças aprendem se alguém estiver disposto a ensinar”, diz Brigitte.


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