04 de Dezembro de 2019,12h30
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Toda semana a publicitária Maya Tanizaki concilia a ida ao trabalho com a tarefa de dar destino correto aos recicláveis que consome. Isso porque o número 3.477 da Avenida Brigadeiro Faria Lima, um dos endereços mais nobres da capital paulista, reúne, além de grandes empresas, um depósito de coleta seletiva. Conhecido como Pátio Victor Malzoni, o condomínio foi inaugurado em 2012 e fica cravado no centro empresarial da capital. Aliando tecnologia e sustentabilidade, tornou-se alternativa de descarte de resíduos para muitos funcionários que ali trabalham. É o caso de Maya, gerente de contas do Google, que por não contar com a coleta seletiva no prédio em que mora, leva os resíduos ao Malzoni.
Além da arquitetura diferenciada, com duas torres que se conectam por um pórtico de 30 metros de altura por 45 metros de largura, o condomínio abriga em seu terreno a Casa Bandeirista do Itaim, construção do século 18 que chegou a atuar como sanatório entre as décadas de 1920 e 1980. Com 20 andares e 6 subsolos, o edifício se tornou referência em práticas sustentáveis e chegou a receber a certificação Leed Core & Shell Prata, principal selo de construção sustentável.
Além disso, o projeto EcoMalzoni, nascido em outubro de 2015, conferiu ao condomíonio uma menção honrosa no 11º Prêmio Fiesp de Conservação e Reuso de Água. A iniciativa visa a gerenciar de maneira adequada os resíduos ali produzidos por cerca de 3.500 usuários, evitando entre outras coisas o desperdício.
"A implementação serviu para disseminar práticas sustentáveis junto à sociedade e contribuir para que as pessoas tenham maior consciência de sua responsabilidade e do seu papel com o meio ambiente", explica Adriana Lobo, gerente de marketing e sustentabilidade do condomínio.
Atualmente, o empreedimento gera 40 toneladas de resíduos por mês, sendo que cerca de 55% são destinados para algum tipo de reaproveitamento. Tendo como lema "transformar espaços e pessoas", o projeto tem como premissa o envolvimento dos usuários do condomínio na questão da reciclagem. Portanto, o processo de recolhimento e separação começa dentro das empresas ali instaladas, onde cada um deve destinar corretamente para os pontos de coletas espalhados pelo condomínio o resíduo produzido.
“Após essa primeira separação, a equipe responsável pela gestão destes resíduos prepara os fardos prensados com cada tipo de material e dá destino a eles tendo em vista o correto reaproveitamento por meio de cooperativas e de empresas especializadas”, informa Adriana. Já no caso das sobras de alimentos, o reaproveitamento é de praticamente 100%.
Isso se dá graças ao sistema de compostagem instalado no prédio que conta com duas composteiras de diferentes soluções: uma para atender os resíduos orgânicos sem proteína, que resulta em 80%, e outra para atender as proteínas, cerca de 20%.
“Optamos por dois diferentes modelos porque no prédio tivemos que lidar com o problema do odor, devido ao local para armazenagem dos resíduos", explica Rui Signori, engenheiro agrônomo à frente do projeto.
Na primeira, as sobras de alimentos são moídas, misturadas à serragem e às enzimas que aceleram e facilitam a decomposição do material orgânico. "Após esta etapa, o composto é levado para o processo de secagem e, em seguida, é peneirado e ensacado para finalmente ser utilizado em jardins e hortas", explica a gerente de sustentabilidade.
O adubo, colocado em sacos de 2kg ou 10 kg, é doado para funcionários que trabalham em empresas instaladas no condomínio e para as diversas parcerias firmadas pelo empreedimento. Maya é também uma das beneficiadas pelo serviço. “Sempre pego vários sacos de adubos. Uma vez peguei umas 15 sacolas para levar para um sítio e usamos para adubar o pomar”, conta.
Já o sistema responsável pelo recebimento das proteínas é o biodigestor LFC (Liquid Food Composter), da empresa Ecocircuito, responsável por transformar os resíduos em um líquido que é descartado automaticamente no sistema de esgoto. O processamento contínuo acontece em um prazo de 24 horas e é livre de produtos químicos ou nocivos ao meio ambiente.
Temperos como hortelã, manjericão, alecrim, tomilho e hortaliças são a cereja do bolo do projeto. "Lixo é recurso e a horta é resultado disso", reforça o engenheiro agrônomo. Estruturado com caixas de supermercado e paletes, a horta subterrânea depende basicamente do composto orgânico gerado na composteira do próprio condomínio.
"Ela serve como conscientização para as pessoas que podem ver no resultado a importância da correta destinação do lixo", reforça Adriana.
Instalada no 1º subsolo, é a primera horta subterrânea da cidade de São Paulo e seu processo de funcionamento depende apenas de uma iluminação específica feita por lâmpadas de LED próprias para esta finalidade e de irrigação na quatidade certa, realizada por meio de um relógio que liga e desliga a irrigação nos horários programados. Os serviços manuais de virar as plantas para receberem a mesma quantidade de luz são feitos pela equipe de jardinagem do prédio com o acompanhamento de um agrônomo especializado.
A colheita da horta é realizada semanalmente e qualquer usuário do prédio pode retirar os produtos que são gerados ali. “Mas, para tal, é necessário que deixem no Ecoponto em troca algum material reciclável trazido de casa ou mesmo do próprio escritório. Essa é uma maneira de incentivar as pessoas a sempre darem a destinação correta para os resíduos que produzem”, conta Adriana.
Além de produtos frescos oferecidos à população que frequenta o condomínio, a horta funciona como um instrumento de conscientização ambiental e um bom exemplo para outros empreendimentos. Os projetos sustentáveis podem ser visitados mediamente agendamento prévio através do e-mail [email protected].
O condomínio também conta com visitas técnicas educativas. Para Lívia Ribeiro, engenheira ambiental e diretora da Reconectta, negócio social com foco no dssenvolvimento de ações para levar a cultura da sustentabilidade para as escolas, a visitação funciona como uma saída pedagógica para os alunos.
“Muitas vezes o trabalho com a questão da sustentabilidade fica limitado ao universo da escola. Levar as crianças para espaços diferentes reforça que é possível fazer bastante coisa em um contexto totalmente diferente do que eles conhecem. Isso é muito importante e enriquece muito o trabalho, além de inspirar os alunos a desenvolverem projetos com a questão da sustentabilidade”, afirma Lívia.
Texto produzido em 29/01/2019
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