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Lixo de feiras vira adubo para praças e jardins em São Paulo

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Feira na Lapa: frutas, verduras e legumes viram fertilizante natural. Foto: Marcelo Martins

“Duas couves por dez! Só dez reais, minha senhora! A bacia de tomate também está linda, só cinco!”. É fácil imaginar a origem de frases assim. As feiras livres, responsáveis por concentrar um grande número de pessoas e de comercializar alimentos de diversos tipos, também são consideradas grandes geradores de resíduos.

Para se ter ideia, do total descartado nesses locais, estima-se que de 60% a 90% sejam orgânicos. Isso significa que mais da metade do lixo encontrado ali pode ser reaproveitado. Nesse quesito, a chamada compostagem, ou seja, a reciclagem de sobras de alimentos, cascas de frutas e legumes, tem papel fundamental.

Se por um lado o potencial de reaproveitamento é grande, por outro a realidade contrasta: o descarte dos restos de alimentos se une ao lixo comum e tem como destino o aterro sanitário ou lixão.

Em São Paulo, cidade que abriga cerca de 900 feiras, essa realidade começou a mudar a partir de uma iniciativa da Prefeitura que transforma os resíduos orgânicos das feiras livres em adubo natural para praças e jardins.

Projeto

Denominado de Feiras e Jardins Sustentáveis, o projeto abarca as regiões da Lapa, Pinheiros, Casa Verde, Pirituba, Jaraguá, Freguesia do Ó e Brasilândia, totalizando 52 das 388 feiras que funcionam nesses bairros da cidade.

O trabalho consiste na coleta e compostagem de restos de frutas, verduras e legumes, principalmente folhas pouco utilizadas na alimentação, como as de beterraba, cenoura e couve-flor. Os resíduos são separados em sacos e levados ao Pátio de Compostagem da Lapa, onde viram adubo e fertilizante para plantas. O recolhimento e transporte são realizados pela Inova, empresa responsável pela varrição das ruas nessas áreas.

Adesão

A participação dos feirantes é essencial para o sucesso do projeto, já que eles ficam com a tarefa de separar os resíduos em sacos plásticos. “Em qualquer tipo de reciclagem, seja de secos ou orgânicos, a participação de quem produz o resíduo é muito importante, porque essa segregação precisa ser feita na origem. Por isso, nossos agentes ambientais distribuem folhetos e mostram como segregar os alimentos”, explica Eugenia Gaspar, gerente operacional da Inova e responsável pelo gerenciamento do Pátio.

A ação acabou transformando mais do que restos de comida em adubo. Gerou também consciência ambiental entre os comerciantes, que passaram a cuidar melhor do espaço das barracas e dos resíduos gerados.

“Antes, a gente jogava tudo no chão, era uma bagunça. Agora, a gente ensaca tudo. É até mais bonito, não só para quem trabalha na barraca, mas para quem vem comprar, que vê tudo arrumadinho”, avalia Gisele Camargo, dona de uma barraca de legumes em Perdizes, bairro da zona oeste da capital.

Afonso dos Santos faz coro à fala da vizinha e reconhece que a informação foi determinante para a mudança de comportamento. “Antes a gente não sabia como esse processo funcionava. Mas quando o pessoal (agentes) começou a passar avisando, explicando como tem que separar, a gente começou a fazer. O importante é separar, porque se você misturar tudo, se você pegar o feijão e misturar com pedra, não vai dar certo. Um desmancha na terra, o outro não”, detalha.

Semanalmente, a iniciativa é responsável por arrecadar cerca de 60 toneladas de resíduos reaproveitáveis que são encaminhados para compostagem. Número que pode crescer ainda mais com a entrada de novas feiras e a adesão de mais comerciantes.

Transformação

O processo de compostagem pode ser definido como a reciclagem da matéria orgânica. Ele acontece por meio de micro-organismos (também chamados de “bactérias do bem”), que decompõem o material orgânico, absorvem e liberam substâncias químicas no solo. O resultado é um adubo rico em nutrientes para as plantas.

O Pátio de Compostagem da Lapa tem aproximadamente 3.000 m². O que foi recolhido nas feiras é depositado em um local específico dentro do pátio, onde ocorre uma triagem. Um agente ambiental separa tudo o que não for orgânico, inclusive os sacos em que os rejeitos foram armazenados. Posteriormente, uma espécie de trator encaminha os resíduos até uma das 9 leiras (grandes canteiros com ventilação natural), onde as sobras são depositadas.

A compostagem realizada no Pátio da Lapa trabalha com o sistema chamado "termofílico" (por meio de calor), no qual bactérias e fungos aumentam a temperatura do local e aceleram a decomposição. O trabalho acontece com camadas alternadas entre folhas secas, podas picadas, palha e material orgânico, provenientes das feiras (sobras de frutas, legumes e verduras, por exemplo).

Então, os agentes ambientais – com a ajuda de uma espécie de rastelo – retiram a palha e a poda picada que ficam por cima do material orgânico e as movem para as laterais das leiras. A palha permite a passagem de oxigênio e evita que haja mau odor. Internamente, a temperatura varia de 55 a 70 graus célsius. Essa alta temperatura higieniza o processo e acelera em torno de 50 vezes a decomposição.

Quem explica a técnica é Júlio Maestri, engenheiro agrônomo do Cepagro (Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo), que atua junto com a Inova no projeto. “Somos um exemplo e quebramos esse paradigma ruim de que o resíduo orgânico tem mau cheiro ou atrai vetores”.

Após 120 dias, o trabalho é finalizado e os resíduos se transformam em adubo e fertilizante utilizados em praças e jardins da região da Lapa. A própria horta orgânica e a estufa do Pátio ganham o reforço dos ingredientes naturais, além, é claro, dos feirantes, que contribuíram com o processo.

Para todos

Qualquer um pode ter acesso ao produto natural gratuitamente. Para isso basta comparecer ao local, preencher um cadastro simples e pegar até dois sacos do material. A retirada deve ser feita de segunda à sexta-feira, das 14h às 17h, na Avenida José Maria de Faria, 487 – Lapa de Baixo.


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