Cápsulas de medicamentos. Foto de freestocks.org / Unsplash
15 de Maio de 2019,12h00
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Descartar corretamente o lixo é muito mais do que uma preocupação com o meio ambiente, é, principalmente, uma questão de saúde pública. No caso de resíduos hospitalares e dos remédios dentro de casa, esse alerta deve ser redobrado.
Agulhas, seringas, gases, algodão, luvas, materiais cortantes, cateteres e muitos outros materiais utilizados em unidades de saúde devem ser descartados em caixinhas amarelas que vemos em farmácias, hospitais, ambulatórios, pronto-socorro, já que podem estar infectados com sangue, urina, fezes, ou com restos de medicação, substâncias tóxicas, radioativas e até inflamáveis.
Já em casa, as sobras de remédios não utilizados em tratamentos, sejam drágeas, pílulas ou líquidos e as medicações com prazo de validade vencidas, também precisam de cuidados especiais. O descarte irregular pode comprometer a saúde da população e contaminar a água e o solo.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), determina regras para armazenar, transportar e destinar corretamente esses resíduos. Para entender melhor como esse lixo é tratado, o Recicla Sampa visitou a Estação de Tratamento de Resíduos de Saúde da Silcon Ambiental, localizada em Mauá, cidade da região metropolitana de São Paulo, que atua há 20 anos no tratamento de resíduos de saúde.
A visita fez parte da programação da “Semana Lixo Zero”, um evento que quer conscientizar a população sobre a importância do descarte correto do lixo na cidade. Geralmente, essas estações de lixo de saúde são particulares e contratadas por estabelecimentos que lidam com o lixo hospitalar contaminado. Nas áreas próximas de São Paulo, existem em torno de quatro locais semelhantes à Silcon e que costumam atuar de duas formas: incinerando ou esterilizando o material descartado.
Segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública), no último ano, 4.518 municípios do país (o Brasil tem 5.570) declararam à Anvisa que coletaram e trataram mais de 256 mil toneladas de resíduos de saúde. As outras 1.052 cidades não declararam a forma como destinaram seus lixos hospitalares, o que contraria as normas vigentes e apresenta riscos à saúde pública, ao meio ambiente e aos trabalhadores da área.
A incineração é a ação mais executada no Brasil para resíduos químicos como remédios, antibióticos e vacinas e a ação corresponde a quase 59% do destino final, de acordo com dados da Abrelpe. Esse processo na Silcon Ambiental começa com a retirada do lixo dentro dos estabelecimentos de saúde. Diferentemente do lixo doméstico, eles não podem ficar expostos nas calçadas ou em qualquer lugar a céu aberto, e não são recolhidos pelos caminhões de coleta de lixo comum. Os estabelecimentos devem contratar uma empresa especializada no recolhimento desses resíduos que oferecem riscos à saúde e ao meio ambiente.
Os sacos que armazenam os resíduos de saúde recebem um selo de identificação da Silcon e são colocados em caminhões baú para garantir que sejam descartados corretamente. Ao chegarem na sede da empresa, os sacos são abertos e o material é contabilizado para informar ao gestor de resíduos do estabelecimento que contratou o serviço, o número total de resíduos descartados, possibilitando o controle do consumo dos materiais. Em seguida, o lixo é colocado manualmente em uma esteira onde segue para um grande incinerador, para ser queimado.
“Para garantir que esses resíduos contaminantes tenham uma destinação segura, algumas empresas pedem para incinerar, antes de levarmos ao aterro”, conta o engenheiro ambiental da Silcon, Johnny Alves.
A fumaça gerada pela queima dos resíduos é tratada através de filtros nos equipamentos, que devolvem um vapor limpo para a atmosfera. As cinzas provenientes do que foi incinerado são colocadas em caminhões com revestimento hermético, totalmente vedado, específicos para o transporte do material e para evitar contato com o meio ambiente.
Os resíduos seguem para o aterro sanitário Essencis, localizado em Caieiras, que atende as regiões de São Paulo e Grande São Paulo. É um local específico que recebe apenas lixo oriundo de estabelecimentos de saúde. O caminhão descarrega as cinzas diretamente em uma espécie de vala.
O aterro possui um solo argiloso e impermeável, revestido com três camadas de PEAD, um plástico polietileno de alta densidade e resistente. É formado também por uma camada de tecido grosso e pedra rachão (usadas geralmente em calçamentos, muros e drenagens) para evitar qualquer contato dos resíduos tóxicos com o solo e não oferecer risco de contaminação.
A Anvisa permite que os estabelecimentos de saúde escolham tecnologias para desinfetar os materiais. Pode ser incineração ou esterilização. “Pela lei, o mais importante é matar o agente contaminante”, conta o coordenador da Abrelpe, Odair Segantini.
De acordo com dados da Abrelpe, em 2017, o estado de São Paulo tratou mais de 151 mil toneladas de resíduos de lixo de saúde, o que representa 58% da demanda nacional. Desse número, 124 mil toneladas dos lixos de saúde foram esterilizadas.
O saco de lixo com materiais de saúde como algodão sujo, agulhas, lâminas de bisturi, entre outros itens precisam ser armazenados em um lugar seguro dentro dos hospitais e estabelecimentos de saúde para que não fiquem em contato com os funcionários e os pacientes. A coleta deve ser feita a cada 48 horas pela empresas especializadas que atuam no tratamento desses resíduos.
Depois que são recolhidos, os sacos são transportados em caminhões baú até a sede da Silcon, onde são abertos e enviados para uma máquina que compactará os resíduos transformando-os em um bloco rígido. Em seguida, seguem por uma esteira até um grande forno que esterilizará os materiais e matará os microrganismos contaminantes, a uma temperatura superior a 120°C. Por fim, o bloco esterilizado passará por uma máquina que fará a trituração dos resíduos.
“O material triturado é colocado pelos profissionais da Silcon em uma caçamba metálica. Neste momento do processo, o resíduo tratado não representa mais riscos à saúde e ao meio ambiente e pode ser levado a um aterro sanitário comum para o descarte”, explica Odair.
Existem outros materiais utilizados no dia a dia de uma clínica ou hospital que não precisam seguir para o aterro sanitário e podem ser reutilizados diversas vezes. “Os instrumentos podem ser esterilizados pelo próprio estabelecimento, porém o que precisa ser descartado é a lâmina que faz parte de um bisturi ou a agulha de uma injeção de vidro”, finaliza.
Não são apenas os resíduos de saúde que merecem atenção. Medicamentos e itens de saúde vencidos ou sem uso também não devem ser descartados no lixo comum, e tão pouco dentro de vasos sanitários ou pias do banheiro como a maioria da população costuma fazer. Essa prática é errada e tem maior probabilidade de contaminar o solo e o lençol freático das cidades.
O correto é encaminhar os remédios em pontos de coleta específicos, que atuam realizando o trabalho de logística reversa como: farmácias, drogarias e unidades básicas de saúde da capital. Esses locais recebem e encaminham os medicamentos da forma correta e sem risco de contaminação. Faça a sua parte e procure um ponto de coleta mais próximo de sua casa.
Estações de Tratamento de Resíduos de Saúde
Silcon Ambiental
Rua Ruzzi, 440, bairro Sertãozinho, Mauá (SP)
Telefone: (11) 2128-5777
Contemar Ambiental
Avenida Georg Schaeffler, 1985, bairro Iporanga, Sorocaba (SP)
Telefone: (15) 3235-3700
Eppolix Tratamentos de Resíduos Especiais
Rua das Samambaias, 10, bairro Sombra do Ipê, Santana de Paranaíba (SP)
Telefone: (11) 4154-4526
Grupo Pioneira
Rua Marechal Rondon, 55, Suzano (SP)
Telefone: (11) 4748-2922
Stericycle
Avenida Geraldo Potyguara Silveira Franco, 1000, bairro Parque da Empresa, Mogi Mirim (SP)
Telefone: 3003-5300
Matéria produzida em 06/11/2018
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