Represa Guarapiranga. Foto: Recicla Sampa
14 de Marco de 2019,12h00
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É tanto lixo descartado de forma inadequada nas águas de rios e represas da cidade de São Paulo, que os resíduos chegam a comprometer o abastecimento hídrico da cidade. Na represa Guarapiranga, por exemplo, que abastece mais de 4 milhões de pessoas, são retirados por dia 10 metros cúbicos de lixo, o equivalente a uma caixa com mil litros de água. Para retirar todo esse lixo é necessário fazer uma parada de 3 a 4 horas só para remover os resíduos que ficam presos nas grades que levam água ao sistema de abastecimento.
Para realizar essa limpeza, a Sabesp conta com barcos, agentes ambientais e ecobarreiras (que barram a passagem do lixo na boca dos córregos que desaguam na represa). Mesmo com todo esse trabalho, o lixo chega ao gradeamento e, algumas vezes, fica depositado a até 12 metros de profundidade.
São nessas situações emergenciais que um time de profissionais de mergulho contratados pela Sabesp entra em ação para retirar os resíduos. O mais experiente deles é Marcelo Bonafé, que atua nessa função há mais de vinte anos.
Aos 53, ele diz que até hoje todo o trabalho de mergulho no manancial não é simples e que é preciso planejamento antes de entrar na água.
“O trabalho é feito de madrugada, no escuro e a única luz que contamos é a da lanterna, por isso planejar é importante”, conta.
Sob a água, a ação conta com a ajuda de um cesto gigante de 1 metro de altura por 2,5 metros de largura, que faz de quatro a cinco viagens. O tamanho é semelhante a um sofá de três lugares. “O cesto sempre retorna a superfície cheio de resíduos para o pessoal da Sabesp, que fica recebendo os lixos”, explica Marcelo.
O gerente hídrico da Sabesp, Osmar Rivelino, que contrata os serviços do mergulhador, desabafa: “gostaríamos que a população se conscientizasse ambientalmente. A represa é um bem natural. Ela poderia ser muito melhor aproveitada se não tivesse a questão do lixo. Para melhorar essa questão, basta fazer a coleta seletiva”, diz.
Como o lixo que não é destinado corretamente, Marcelo Bonafé conta que não só o abastecimento de água é comprometido com os resíduos, mas também o setor elétrico. O profissional revela que já foi chamado para retirar os lixos das grades das Usinas Elevatórias de Pedreira e Traição, ambas localizadas no rio Pinheiros. Elas também precisam ser limpas para captar a água e gerar energia para os paulistanos.
Bonafé também carrega no currículo mergulhos nesse manancial tão conhecido de São Paulo.
“Fui chamado para averiguar as tubulações de água pluvial, que desaguam no rio. Tinham pontos em que não conseguia mergulhar, pois fiquei ilhado com lixo”, revela.
Em uma outra grande operação no Rio Pinheiros, o profissional conta que uma equipe de mergulhadores de outro estado foi chamada para ajudar no serviço. Ele relembra que um mergulhador recém-formado não quis entrar no rio quando viu que o manancial estava poluído.
“Quando a gente sai do curso de mergulho, acha que vai começar a explorar o Caribe. Quando eu me formei em 1987, nunca imaginei que faria mergulhos para salvar as águas de São Paulo. Eu acho um trabalho muito importante e tenho muito orgulho disso”, finaliza Bonafé.
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