08 de Novembro de 2019,12h00
Veja outros artigos relacionados a seguir
Elaborar iniciativas para desviar o excesso de lixo dos aterros sanitários. Foi com esse propósito que o salão do Mercado Municipal de São Paulo, no centro da capital, recebeu entre os dias 24 e 25 de outubro o Workshop “Desafios na gestão de resíduos”. O evento integra a agenda da Plataforma C40, rede global que incentiva a cooperação internacional de grandes cidades no combate às mudanças climáticas.
A ação contou com o apoio da Prefeitura de São Paulo, por meio da Amlurb (Autoridade Municipal de Limpeza Urbana), e teve como foco o resíduo orgânico, que representa 51% das 12 mil toneladas de materiais domiciliares gerados diariamente na capital.
O evento colocou frente a frente especialistas em resíduos de empresas ambientais brasileiras, autoridades e profissionais da Dinamarca, Suécia e Noruega, países referência na gestão de resíduos sólidos.
Ilan Cuperstein, vice-diretor regional da América Latina da rede C40, destacou que a instituição está apoiando a cidade de São Paulo na elaboração de um plano com ações climática de longo prazo. Ele prevê que até 2050 se neutralize a emissões de gases poluentes.
“Projetos de qualidade que saírem desse workshop darão subsídios para a elaboração desse projeto maior”, disse.
Para Edson Tomaz de Lima Filho, presidente da Amlurb, o evento é um incentivo para que São Paulo avance ainda mais na gestão dos resíduos.
"O intuito desse encontro é unir tecnologias que colaborem com a diminuição de lixo nos aterros.
Entre os projetos que foram debatidos, a criação de um Ecopark, que pretende solucionar o excesso de orgânicos nos aterros, ganhou destaque. “Os resíduos serão enviados para a biometanização, processo que os transforma em energia, e para compostagem”, destacou Túlio Rossetti, gerente de Informação e Pesquisa da Amlurb. Com a ação, a estimativa é que se trate, diariamente, mais de 1.250 toneladas de resíduos orgânicos.
Para Ricardo Viegas, secretário-adjunto do Verde e do Meio Ambiente da cidade, ideias como essas ajudam a reduzir a emissão de gases poluentes derivados dos resíduos orgânicos acumulados nos aterros. “São Paulo emite cerca de 17 milhões de CO2 (dióxido de carbono) e 15% é oriundo desse tipo de material”.
A redução da emissão de CO2 faz parte das metas da cidade. Helena Terzella, assistente técnica da diretoria de planejamento da Amlurb, aponta se tratar de um grande desafio. “É por isso que estamos contando com projetos criativos que serão debatidos nesse workshop”.
Combater o desperdício de alimentos esteve entre as iniciativas apresentadas pela secretária-adjunta de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Ana Carolina Lafemina. “Recolhemos frutas, legumes e verduras de feiras e sacolões municipais que estão em ótimas condições e encaminhamos para um Banco de Alimentos que distribui para 310 entidades socioassistenciais”.
Além das doações dos parceiros, o Banco recebe insumos arrecadados pelo Programa Municipal de Combate ao Desperdício e à Perda de Alimentos, responsável pela coleta de frutas, legumes e verduras nas feiras livres e mercados municipais da cidade que estão em boas condições de consumo, mas que seriam descartados por não possuírem valor comercial. A ação conta com a parceria de mercados e sacolões municipais, além das feiras livres espalhadas em toda a cidade.
Quando o alimento não está em condições de doação, ele segue para os pátios de compostagem da Prefeitura, onde se transforma em composto orgânico, espécie de adubo natural rico em nutrientes. A ação nesses locais chegou a ser uma das finalistas para a premiação internacional C40 Cities Bloomberg Philanthropies Awards.
Os participantes do evento tiveram a oportunidade de conhecer de perto a iniciativa a partir da visita ao Pátio de Compostagem da Sé, no centro da capital.
“Estou surpreso com o avanço da cidade nessa área. O que vi aqui foi além das minhas expetativas”, afirmou Scott Allison, gerente de projetos da Clean, empresa ambiental dinamarquesa.
Segundo a Amlurb, de agosto de 2015 a abril de 2019, foram reaproveitadas cerca de 9.300 toneladas de resíduos orgânicos que deram origem a 1.860 toneladas de adubo de qualidade. Além de figurar entre os cinco finalistas do C40, o modelo já recebeu apoio da Coalizão de Clima e Ar Limpos (CCAC), organização liderada pela Organização das Nações Unidas (ONU) que apoia ações em todo mundo.
O evento realizado pela C40, que chegou agora a São Paulo, já passou pelo Rio de Janeiro, em 2018, criando uma ponte importante entre a Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) e a empresa ambiental Methanum. Juntas, e com o desenvolvimento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), elas criaram um projeto piloto que extrai adubo e gás natural dos resíduos.
“Temos uma semelhança com a capital paulista. O Rio de Janeiro gera cerca de 6 mil toneladas de resíduos domiciliares, sendo que metade representa lixo orgânico. Como solução, criamos uma infraestrutura que transforma lixo orgânico em biogás”, explicou José Henrique Penido, coordenador de sustentabilidade da Comlurb, convidado do evento.
“A usina é o primeiro projeto piloto público da América Latina capaz de transformar 35 toneladas de lixo orgânico por dia em energia”, disse o engenheiro ambiental Felipe Colturato, diretor executivo da Methanum. A infraestrutura tem uma produção mensal de biogás com capacidade de abastecer uma frota de mil carros.
O evento possibilitou uma troca importante de conhecimento entre empresas, entidades, especialistas e acadêmicos do setor. Para os presentes, o balanço foi extremamente positivo.
“O workshop mostrou que existem novas técnicas para compostar, transformar materiais em energia e muitas outras soluções”, disse o gerente da Amlurb, Túlio Rossetti.
Todas as ideias propostas, como a criação de um Ecopark em São Paulo, serão avaliadas e discutidas pela equipe técnica da Amlurb. Em outra frente, o C40 buscará o apoio de empresas que possam se interessar pelos projetos.
“Como profissional de resíduos sólidos há mais de 20 anos, vejo que estamos trilhando um caminho para realmente colocar São Paulo na vanguarda da sustentabilidade”, finalizou Carlos Silva Filho, diretor executivo da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), uma das principais entidades do setor.
Texto produzido em 30/10/2019
Cooperativas relatam dificuldade em vender material e pontos de coleta foram desativados
Certificação coroa engajamento ambiental de alunos e professores da escola da zona leste
Prática afeta diretamente os catadores, cujas condições de trabalho se deterioram
Inserção permitirá que organizações do setor operem com menos burocracia