Foto: Thiago Mucci
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A Associação 28 – Comunidade Esperança é exemplo do potencial do cooperativismo em promover a inclusão social e transformar a realidade ou a microeconomia de um bairro.
Localizada no número 28.000 da avenida Sapopemba, num galpão situado em uma comunidade no bairro do Jardim Adutora, no extremo da zona leste paulistana, a entidade surgiu com a missão não apenas de dar renda aos 70 catadores e mais cerca de 10 profissionais que vivem direta ou indiretamente de suas atividades econômicas. “Meu sonho é que esse projeto ajudasse a transformar o bairro, que não tem saneamento nem rua asfaltada”, resume a presidente da entidade Marlene Maria Ramos, de 60 anos.
O galpão onde a cooperativa está localizada fica em um terreno que pertencia à família do esposo de Marlene, Josué, e onde no passado funcionava uma serralheria da família.
Como nas demais entidades, os recursos que sobram da coleta seletiva são divididos entre os associados. “Dá cerca de R$ 1.000 por associado, mas nós temos nos esforçado para que chegue a R$ 1.500, porque R$ 1.000 é muito pouco para viver dignamente”, diz Marlene, uma paulista de Ribeirão Preto que já foi dona de restaurante.
Marlene não tem papas na língua. É direta tanto ao expor seus objetivos quanto na questão salarial e ao abordar as dificuldades da entidade – criada em 2016 e, portanto, bem mais nova que as cooperativas mais antigas, que hoje variam entre 15 e 20 anos de vida.
Para começar, ela acha que as cooperativas deveriam ser mais bem remuneradas pelo que fazem dentro da cadeia da logística reversa. Seja por meio de contratos com o poder público, seja por meio das indústrias. “O que nós fazemos aqui, embora as pessoas não saibam, é empregar pessoas e reciclar um material que deixará de poluir o meio ambiente”, justifica, dizendo receber menos do que deveria dos entes públicos e da iniciativa privada, ecoando pesquisa recente que aponta o desconhecimento da população sobre reciclagem.
“Este trabalho ajuda a garantir o oxigênio e a água das próximas gerações.”
Por ser nova, e só ter formalizado um termo de cooperação com a Amlurb no ano passado, a Associação 28 quase não recebe subsídios diretos. As contas são pagas pela entidade.
Marlene, de fato, luta com poucas armas. Não tem esteiras e a separação dos materiais que vêm do lixo é feita manualmente. A entidade atua com prensas emprestadas e custeia fretes de caminhões para coletar resíduos autonomamente.
Mesmo assim, segundo Marlene, chega a processar mensalmente 70 toneladas de recicláveis, das quais 50 são encaminhadas pelos caminhões da coleta seletiva da Ecourbis (concessionária da limpeza urbana que atua naquela região da cidade) e o restante por empresas parceiras e por meio de um ponto de coleta situado num hipermercado da região.
“Vamos chegar a 100 em agosto porque estamos fechando uma parceria com o Pão de Açúcar”, diz a presidente.
Além dos 70 cooperados, a entidade dá emprego a mais 10 pessoas. Oito delas são provenientes de uma sublocação do espaço da entidade, uma maneira que Marlene encontrou para fugir dos prejuízos.
A sublocação surgiu para que a entidade conseguisse dar destino ao plástico duro, categoria que abarca uma gama de mais de 50 variedades do polímero encontrada em tampos de televisores, cabides e peças automotivas e acrílicas, entre outros produtos.
“É um material difícil de vender e que a maioria das cooperativas acaba descartando, mas eu não quis fazer isso para não aumentar a poluição”.
A solução encontrada foi sublocar o espaço ao microempresário José do Sacramento, de 60 anos, que começou a entender de plástico em São Mateus ao enfrentar as enchentes, há cerca de 15 anos. “Minha casa enchia quando o rio Aricanduva transbordava por causa do plástico. Eu retirava e o plástico era mandado de volta para o rio.”
Revoltado, Sacramento foi estudar. Aprendeu a diferenciar os plásticos raspando-os e até usando fogo. “Pelo cheiro ou pelo som que o plástico faz ao cair, eu consigo dizer a qualidade e para que ele serve”
Desde 2016, ele atua pegando as sobras de plástico duro que chegam à cooperativa. Como tem os canais diretos com quem vende para a indústria, acaba facilitando a vida da Associação 28 e ainda emprega 8 pessoas, numa espécie de cooperativa dentro da cooperativa.
“Não deu para ficar rico, mas estamos ajudando o planeta e conseguindo sobreviver.”
O terreno da Associação 28 fica em uma rua de terra batida que não consta no Google Maps. Para os caminhões lá descarregarem, precisam passar por uma viela estreita, que dá acesso à Avenida Sapopemba.
O galpão está incrustrado numa “comunidade” composta por casas que foram construídas a partir de invasões, como em boa parte das periferias brasileiras.
A maioria dos associados é do sexo feminino. São 55 mulheres para 15 homens. “A maior parte são pais e mães, que os maridos abandonaram”, diz Marlene, corroborando uma realidade comum a muitas cooperativas.
A associação tem uma meta ambiciosa. Tornar-se conhecida para fazer com que o trabalho chame a atenção para a necessidade de urbanizar o bairro. “Se estas pessoas não tiverem trabalho, posto de saúde e renda, não adianta reclamar do ladrão amanhã, porque ninguém nasce ladrão”.
Uma das ideias de Marlene – não executada por falta de dinheiro – é fazer propaganda nos bairros nobres para agradecer às pessoas de alto poder aquisitivo que colaboram na coleta seletiva. “O lixo destas pessoas serve para que nosso pessoal compre arroz e feijão, e não camarão, mas quem colabora com a coleta não conhece nossa realidade.”
Para Marlene, o conhecimento é fundamental.
“O lixo é da sociedade e ela deve saber que a coleta seletiva diminui os custos dos aterros sanitários.”
A cooperativa Associação 28 está localizada na Rua Boa Esperança, 78 – Jardim Adutora.
Telefone: (11) 95041-1777
Materiais reciclados: papel, plásticos (todos), vidros, metais comuns e papelão
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