Recicla Sampa - Cooperativa transforma reciclagem em instrumento de inclusão social
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Cooperativa transforma reciclagem em instrumento de inclusão social

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Foto: Thiago Mucci

Se em parte do cooperativismo paulistano existe uma tendência de considerar a reciclagem e o trabalho dos catadores como um negócio, esta lógica não se aplica na Cooperativa Caminho Certo, que funciona na Vila Nova Curuçá, Zona Leste da Capital.

A cooperativa foi criada em 2002, com auxílio da Prefeitura e por um grupo de 26 desempregados que não tinham histórico de coletar lixo nas ruas. Eles apostam no trabalho como meio de reinserção social. “Se aqui fosse uma empresa, não poderíamos tirar as pessoas da rua, não poderíamos atender àqueles que bebem, que usam drogas e são ex-presidiários”, resume Vandairis Lopes dos Santos, de 59 anos, conhecida como Vanda e atual presidente da cooperativa. 

Vanda é uma das fundadoras da Caminho Certo. Natural de Vitória da Conquista (BA), sempre foi o pilar financeiro da família. Trabalhava como comerciária e gerente de lojas, mas já sentiu na pele o que é estar desempregada e inapta ao mercado de trabalho. Era 2002 e Vanda estava separada do marido e sem emprego para sustentar as duas filhas.

Foi nessa época que soube de alguns cursos desenvolvidos pela Prefeitura, que apostavam no cooperativismo para geração de empregos. Foi daí que surgiu a ideia da reciclagem. Diferentemente de outras cooperativas, como a Coopercaps ou a Reciclázaro, na Caminho Certo não havia catadores dentre os 26 integrantes. “Eram mecânicos, pedreiros, auxiliares e desempregados”.

O começo da cooperativa foi difícil. De imediato, foi necessário encontrar um terreno, o que aconteceu rapidamente. Max Miano, um dos membros e futuro presidente da entidade sugeriu um campo de malha que não era mais usado pela comunidade. O terreno do campo estava localizado na rua Jequirana de Goiás, 113. Era uma área exposta, sem cobertura, mas na época a Prefeitura concordou em ceder o local por comodato.

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Financiamento

No início, cada integrante do grupo conseguia arrecadar somente R$ 29 por mês com o trabalho. Nesse período, Vanda e seus colegas descobriram que a Universidade Cruzeiro do Sul, que tem um campus na Zona Leste, havia aberto um concurso para projetos sociais.

O melhor projeto inscrito por alunos, professores ou pela comunidade obteria um financiamento de R$ 20 mil. “Havia projetos melhores, mas o nosso era o único que tinha continuidade”, lembra Vanda. “Não sei como, mas ganhamos e fizemos o galpão”, conta.

As obras foram tocadas em regime de mutirão. Max Miano, então presidente da entidade, era pedreiro e chegava a trabalhar 20 horas por dia. A Unicsul, ao ver o empenho da turma, concedeu mais R$ 30 mil para investimentos em maquinários e na compra de um caminhão Ford usado. “O que era R$ 29, saltou para R$ 150, dinheiro com o qual as pessoas viviam naquela época".

Hoje cada um dos atuais 30 cooperados, alguns remanescentes dos primeiros tempos, ganham R$ 1.500 – valor acima da média de várias cooperativas visitadas pelo Recicla Sampa.

A Caminho Certo processa 40 toneladas por mês de resíduos. “E olha que, neste mês, perdemos 22 toneladas porque era material comum, que não era reciclável”. Para a triagem, a cooperativa conta com os caminhões da coleta seletiva da Ecourbis, uma das empresas de limpeza urbana da capital, e com parceiros que enviam materiais prontos para a reciclagem, como lojas e repartições públicas.

Pessoas recrutadas nas ruas

Apesar da crise temporária, Vanda não se preocupa somente com o volume financeiro. Seu objetivo é tirar as pessoas das ruas e dar emprego aos excluídos. “Temos que trabalhar, mas nossa missão é resgatar pessoas da fome e da miséria".

Ela conta que há alguns anos encontrou um bêbado no bairro e o convidou para trabalhar. “Era um alcoolista que não tinha forças. Tivemos que alimentá-lo”. Ele passou por tratamento com uma psicóloga voluntária que atua na cooperativa e, hoje, se livrou do álcool, se casou e arrumou um emprego melhor.

Dentre tantas outras histórias da Caminho Certo, Vanda se recorda de uma que ainda está em andamento. É a de um presidiário que começou a atuar na cooperativa e era procurado pela Justiça, por conta de uma condenação criminal. “Convenci aquele senhor a se entregar. Ele acabou pegando uma pena menor do que esperava, de 10 meses”, diz Vanda. “Ele vai sair no próximo mês e tem uma vaga aqui esperando por ele”.

As apostas feitas por Vanda em pessoas viciadas ou ex-presidiários raramente desapontam. “Com o acompanhamento certo, por psicólogos, eles viram ótimos profissionais”. Segundo a Caminho Certo, o salário de R$ 1.500 pago a cada um dos 30 cooperados sustenta em torno de 150 pessoas. “Tenho uma moça aqui que sustenta, só ela, oito pessoas”.

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Vandairis Lopes dos Santos, presidente da cooperativa. Foto: Thiago Mucci

Uma nova política de RH

Na Caminho Certo, todos são incentivados a estudar. Thayna Pereira dos Santos tem 20 anos e apenas 7 meses de cooperativa. Ela ajuda na secretaria e foi incentivada a cursar faculdade. “Faço Recursos Humanos, com metade da bolsa paga pela faculdade e com auxílio financeiro da cooperativa”. Ela estava desempregada e soube da possibilidade de trabalho pelo marido, Juan Herbert Santos Oliveira, de 21 anos, que atua na entidade há cinco.

Em poucos meses de faculdade, Thayna já entendeu que o mercado de trabalho adota políticas de RH diferentes das usadas pelas cooperativas, mas pretende levar o legado da Caminho Certo após se formar. “Aqui você aprende que as pessoas, mesmo quando cometem erros, merecem uma segunda chance, porque elas podem ser competentes".

A cooperativa Caminho Certo está localizada na Rua Jequirana de Goiás, 113 – Jardim Santo Antonio

Telefone: (11) 2016-0708

Materiais reciclados: papel, plásticos (todos), vidros, metais comuns e papelão


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