05 de Julho de 2019,17h30
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Com uma concentração significativa de bares e baladas, o bairro da Vila Madalena, na zona Oeste é conhecido como centro boêmio da capital paulista. Mas não é só a vida noturna que se destaca entre as ruas dessa charmosa região. Ali, também estão localizadas importantes galerias de arte contemporânea que dividem seus espaços com um interessante cenário artístico urbano, que agora servirá de alerta contra o maior desafio ambiental do século XXI: o plástico.
Isso porque, entre os dias 3 de julho e 4 de agosto, muros, tapumes, escolas, estúdios e comércios recebem imagens de 27 nomes da fotografia que denunciam o uso desenfreado do material. A iniciativa é parte da programação da 9ª edição da Mostra SP de Fotografia, que pela primeira vez tem um tema central. “A ideia surgiu de uma conversa com o vereador Xexéu Tripoli (PV), que me apresentou dados alarmantes. Comecei a estudar e vi que a coisa era realmente séria”, contou Fernando Costa Netto, idealizador do evento.
Partindo de duas pesquisas que apontam que o organismo humano já apresenta traços de plástico no sangue, Fernando entendeu que esse era um assunto que merecia atenção. E mais do que isso: a denúncia.
“A fotografia jornalística e documental, que está no meu DNA, é a que conta história, que derruba ditador e que abraça uma questão tão urgente como essa”, disse.
Os trabalhos presentes na Mostra propõem reflexões sobre o consumo e o descarte do plástico. O objetivo é o de conscientizar a população e incentivar a adoção de práticas sustentáveis também por parte do comércio local. “Na minha opinião, esse é o trabalho mais digno que a fotografia pode fazer, de estudo, de denúncia, de apontar soluções e mostrar o que está acontecendo”, explicou Fernando.
Surpreso pelo assunto ter se tornado tema da exposição, Xexéu Tripoli acredita que o evento poderá abrir os olhos da população para esse problema urgente e necessário. "Isso vai fazer com que muita gente que não tem proximidade com o assunto se aproprie da causa. E dessa forma, é muito mais tranquilo que a pessoa queira mudar seus hábitos do que com uma lei ou como uma obrigação, por exemplo", afirmou o vereador.
Interessada em assuntos ambientais, a pequena empreendedora Nathalia Pipino, 28 anos, esteve na abertura da exposição que aconteceu em 3 de julho, na Escola Britânica de Artes Criativas (EBAC), para prestigiar o trabalho da fotógrafa e amiga Michele Roth. Para a jovem, essa é uma ferramenta de conscientização principalmente para aqueles que frequentam o bairro.
"É uma forma de unir as pessoas que acreditam nisso para gerar uma cadeia de comunicação e fomentar o assunto. Daqui, saem várias pessoas que espalham a causa ", afirmou.
O prefeito Bruno Covas também esteve presente no evento e reforçou a necessidade de medidas urgentes para reduzir e anular o impacto ambiental. Segundo ele, ações como uma exposição que trata sobre o tema ajudam na conscientização da população, processo responsável por trazer uma mudança efetiva de comportamento.
“Essa mostra certamente vai ilustrar e botar luz em um problema que muitas vezes é deixado como secundário. Se, desde já, não enfrentarmos a realidade, certamente o lixo encontrado nos oceanos, nos rios e nos lagos, só irá aumentar”, disse. O prefeito também reafirmou o compromisso da cidade com a produção de políticas públicas e com a preservação da vida no planeta, destacando a responsabilidade com o futuro das gerações.
Os dados alarmantes da invasão plástica no planeta também despertaram a necessidade da Mostra SP de Fotografia em realizar debates sobre o assunto. Segundo a World Wide Fund for Nature (WWF), dois milhões e meio de toneladas do material são despejadas anualmente nos oito mil quilômetros da costa brasileira, e apenas 1% desse material é reciclado. Segundo o idealizador, esse é o momento da fotografia brasileira olhar para essa questão. "Ao longo deste mês, teremos oito mesas de conversas sobre o tema que procuram debater o assunto", disse Fernando.
Com curadoria da jornalista especializada em assuntos ambientais Paulina Chamorro, os ciclos de conversas trarão assuntos que vão desde paraísos plastificados, perpassando por rios e oceanos, até tratar sobre economia circular e soluções para cidades.
"Oitenta por cento do plástico que está nos rios e nos mares têm origem terrestre, portanto, essa deve ser uma discussão urbana", explicou.
Os debates contam com o apoio da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), da Liga das Mulheres pelos Oceanos, da empresa Grin, das ONGs WWF e Ecosurf e da campanha Mares Limpos, da Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ONU Meio Ambiente), que também propôs um compromisso aos proprietários de comércios da região. A programação completa dos encontros pode ser acessada aqui.
Com o intuito de ajudar a transformar a Vila Madalena em um bairro livre de plástico, a Mostra SP e a Mares Limpos lançaram uma espécie de carta-compromisso aos estabelecimentos do bairro. A proposta é um convite para que empresários optem por alternativas conectadas ao meio ambiente, se comprometendo a reduzir o uso do plástico no seu comércio.
Os estabelecimentos que aderirem à causa receberão uma placa com o endosso da ONU Meio Ambiente para disponibilizarem o compromisso ao público. Durante a abertura da exposição, o documento foi publicamente assinado pelo Coletivo Pura (Projeto Urbano de Reconexão com o Alimento), primeiro estabelecimento a se comprometer com a causa no Brasil. “Espero que até o final do mês a gente tenha cerca de 100 placas dessas assinadas, essa é a meta”, informou o idealizador, que acredita na proposta como um projeto-piloto para a cidade.
Para a próxima edição, a expectativa é de que a Mostra SP de Fotografia faça parte do calendário integrado da cidade, o chamado Agendão. Durante a abertura, o secretário de Cultura Alê Youssef destacou a necessidade de levar a proposta para equipamentos públicos municipais e para o espaço urbano da capital.
"O exemplo do envolvimento comunitário é maravilhoso. Aproximar as pessoas da discussão sobre o plástico e da discussão ambiental pode se replicar a outros bairros”.
Segundo o secretário, as medidas realizadas já colocam a capital na vanguarda, considerando as questões ambientais no Brasil e no mundo. Agora, a maior cidade do país precisa dar o exemplo. “Colocar o evento no Agendão é mostrar como a cidade de São Paulo é viva, produz cultura e quer ser cada vez mais conhecida como a capital mundial da cultura”, disse o prefeito Bruno Covas, que endossou a proposta.
Texto produzido em 04/07/2019
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