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Pequenas no tamanho, mas gigante nos estragos. Duas bitucas de cigarro lançadas no meio ambiente podem poluir tanto quanto um litro de esgoto doméstico, de acordo com estudos feitos pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Além disso, o cigarro também contém mais de 4,7 mil substâncias tóxicas e possui metais pesados, como o cádmio e o chumbo. O produto conta ainda com monóxido de carbono e até mesmo compostos radioativos, como polônio 14 e formol.
Por ter uma composição com agentes nocivos, o cigarro pode causar ao ser humano problemas no sistema respiratório, dependência e o desenvolvimento de doenças crônicas. De acordo com especialistas, o risco de morte é grande. A fumaça também pode prejudicar até mesmo aqueles que não fumam, os chamados fumantes passivos, pois ao inalá-la muitas vezes também estão sendo contaminados. Mas além dos riscos à saúde, o cigarro e suas bitucas causam danos ambientais enormes.
Em São Paulo, 14 milhões de bitucas são espalhadas pela cidade a cada 24 horas, de acordo com levantamento feito pela Câmara dos Vereadores de São Paulo, em 2020. É comum ver pessoas jogando bitucas nas ruas sem o menor constrangimento. Estima-se que 60% dos fumantes tenham o hábito de descartar, sem cuidado, esses microlixos. O dado é parte da pesquisa do Mundo SEM Bitucas, movimento que busca conscientizar fumantes e não fumantes sobre os impactos desse material no meio ambiente.
Mas os pertencentes a essa estatística não sabem que 95% dos filtros de cigarro são compostos por acetato de celulose, material de difícil degradação que pode levar cerca de 15 anos para se decompor.
“Esse resíduo ainda passa invisível no dia a dia das pessoas, mas é só olhar no chão que logo a gente encontra ao menos um pertinho de você”, afirma Natália Zafra Goettlicher, idealizadora e diretora geral do Mundo SEM Bitucas.
Mesmo pequeno e imperceptível, esse material é capaz de trazer graves consequências ao meio ambiente, como contaminação do solo, rios e córregos, entupimento de tubulações e bueiro, enchentes e incêndios entre as estações secas, provocando danos ambientais imensuráveis. Por isso, é fundamental que as bitucas sejam descartadas corretamente e passem pelo processo de reciclagem.
Parar de fumar poderia ser a solução ideal, pois além de poupar a saúde poderia ajudar com a diminuição de bitucas pelas ruas. Os últimos dados do Ministério da Saúde têm mostrado que o número de fumante está diminuindo nos últimos anos.
Em 2009, 2 dos 11 milhões de paulistanos eram fumantes. Já em 2017, o percentual de consumidores de cigarro caiu para 14,2%, cerca de 1,7 milhão de pessoas. Os dados são de um levantamento feito pelo Ministério da Saúde.
Entretanto, parar de fumar é um processo muito pessoal, mas existem outras maneiras de solucionar o excesso de bitucas pelas ruas e o principal deles é conscientização, seguida da mudança de comportamento.
Por exemplo, o hábito de jogar bitucas no chão não está no dia a dia da promotora de vendas Aline Cruz, 31 anos. Fumante há 16, a jovem evita consumir cigarro na rua enquanto se movimenta e sempre procura uma lixeira para descartar seus filtros. São cerca de 18 por dia, entre idas e vindas pelas livrarias, onde trabalha como representante de uma editora de livros.
A medida sustentável se deu na observação das pessoas ao seu redor, que costumavam descartar o resíduo em qualquer lugar.
“Um dia, olhei pra isso e pensei: ‘poxa, não é legal’. Se a gente não gosta que as pessoas joguem papel nas ruas, porque bituca pode? Foi então que resolvi mudar minha postura definitivamente”, conta.
Defensora do pensamento “a mudança começa por mim”, a jovem acredita que seu comportamento faça a diferença para as pessoas que andam com ela. “Creio que minha atitude influencia mais do que chamar a atenção ou dar bronca em alguma pessoa”.
Já o projeto Mundo sem Bituca mobiliza voluntários para recolher esses microlixos pelas ruas. Para se ter uma ideia, em uma das ações, 146 pessoas, em diferentes cidade, se dedicaram durante 817 minutos para recolher o resíduo. O resultado foi a coleta de 39 mil bitucas.
Outra solução seria o reaproveitamento dos filtros dos cigarros. O pesquisador Marco Duarte deu o pontapé inicial para o desenvolvimento do processo de reciclagem da bituca no mundo.
Com uma fábrica recicladora em Votorantim, no interior de São Paulo, o empresário recicla quase 750 mil filtros por mês, transformando-os em papéis prontos para o consumo.
A melhor orientação para o fumante é que ele procure pontos com coletores ou bituqueiras para descarte correto, ou prefira pelas lixeiras comuns. Antes de descartar, é importante apagar a bituca no próprio alumínio da boca da lixeira. “Assim, não corre o risco de provocar um incêndio caso a ponta do cigarro acesa entre em contato com algum material inflamável”, explica a ativista Natália, da ONG Mundo sem Bitucas.
Outra alternativa é carregar o próprio cinzeiro portátil, no caso da ausência de uma lixeira próxima. O movimento Mundo SEM Bitucas ensina em suas oficinas como fazer um com embalagens pós-uso e sem nenhum custo. Para quem quiser investir, há no mercado diversos modelos.
Texto produzido em 14/12/2020
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