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Eletro Lixo

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Notebook, celulares, tablets, eletrodomésticos e televisão. Enumerar todos os tipos de eletroeletrônicos que existem no mundo pode gerar uma lista enorme, porém o que chama a atenção é a quantidade desses materiais que vem sendo descartada de forma incorreta. E isso tem até nome: lixo eletrônico, mais conhecido como e-lixo

Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), se nada for feito para aumentar a reciclagem desses materiais até 2050, cerca de 120 milhões de toneladas de lixo eletrônico ficarão espalhados pelo mundo. O que muita gente não sabe é que dentro da maioria desses produtos existe uma "mina de ouro". Isso porque esses materiais carregam consigo metais valiosos, como prata e ouro, que podem ser vendidos ou reciclados.

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Se nada for feito para aumentar a reciclagem desses materiais até 2050, cerca de 120 milhões de toneladas de lixo eletrônico ficarão espalhados pelo mundo. Foto: Nano Slavic / Pixabay

Tesouro eletrônico

De acordo com Henrique Eisi Toma, professor titular do departamento de química da Universidade de São Paulo (USP), uma tonelada de celular possui em torno de 340 gramas de ouro e 3 quilos de prata, o que equivalem respectivamente a 13.600 dólares e 21 mil dólares no mercado.

“Trezentos e cinquenta toneladas de celulares recolhidos na Europa somam aproximadamente 3 bilhões em ouro”, explica Henrique.

O exemplo europeu desperta possibilidades promissoras para o futuro da mineração urbana, já que os resíduos eletrônicos podem ser importantes fontes de recursos minerais, extinguindo a necessidade de realizar a extração de matéria-prima da natureza.

De acordo com o professor, ouro, paládio, platina e ródio, metais de alto valor comercial, por exemplo, são elementos que precisam ser tratados sob uma ótica mais estratégica para que possam ser reciclados sempre que possível. Henrique conta que já presta consultoria para alguns profissionais que estão trabalhando com a mineração urbana e utilizando esses metais preciosos para trabalhos em joalherias.

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A mineração urbana, onde ouro e prata são retirados dos aparelhos eletrônicos, é o novo futuro para a produção de joias. Foto: Daniel Kirsch / Pixabay

A iniciativa acontece no estado de São Paulo, mas ainda é muito pequena. “Apesar de ainda estar crescendo, acho que esse é o futuro da extração desses elementos. Ao reciclar, nós estamos recuperando a riqueza. Deixamos um futuro sustentável aos nossos filhos, netos, bisnetos e descendentes. Então, isso é algo muito importante”.

Essa ação, além de fazer com que o produto retorne ao ciclo produtivo, ainda poderia render ao Brasil uma recuperação de cerca de 4 bilhões de reais. Isso porque o país produziu em 2019 cerca de 2.143 toneladas de lixo eletrônico, sendo o quinto país que mais gerou esse tipo de resíduo no mundo. Os dados são do Global E-waste Monitor 2020, relatório internacional elaborado pela Universidade das Nações Unidas (UNU) e pela ISWA – International Solid Waste Association (Associação Internacional de Resíduos Sólidos), representada no país pela Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais).

Responsabilidade compartilhada

De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, lei brasileira que rege o manejo inadequado desses materiais, a responsabilidade por destinar o e-lixo corretamente é compartilhada. Isso significa que fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes precisam fazer sua parte para o descarte correto. Do contrário, eles podem se tornar um grave problema ambiental por possuírem materiais poluentes em sua composição.

Em São Paulo, a lei que criou normas e procedimentos para a reciclagem de resíduos eletrônicos produzidos no estado completou 10 anos em 2019. Ela determina que os componentes eletrônicos descartados recebam destinação final adequada para que não provoquem danos ou impactos negativos ao meio ambiente e à sociedade.

Acordo setorial

O governo brasileiro assinou no final do ano passado o “Acordo Setorial de Logística Reversa” com entidades representativas do setor. Essa assinatura (aguardada desde 2010), representa um importante avanço na Política Nacional de Resíduos Sólidos. A ação prevê duas fases: sendo a primeira dedicada à estruturação do sistema de logística reversa e a segunda à operacionalização e implementação.

Está previsto o aumento de 5 mil pontos de coleta em todo o país, abrangendo os 400 maiores municípios (com população superior a 80 mil habitantes) e o objetivo é enviar os materiais para a reciclagem, os reinserindo na cadeia produtiva.

Pontos de coletas obrigatórios

De acordo com Danilo Borges, gerente comercial da empresa recicladora GM&C, os fabricantes têm a obrigação de fazer a logística reversa desse tipo de material e disponibilizar pontos de coletas ao consumidor.

“A logística reversa nada mais é do que reaproveitar o aparelho obsoleto e inseri-lo no mercado produtivo. As indústrias de transformação farão com que esse produto se torne uma matéria-prima novamente”, conta.

Outra empresa recicladora, a Sinctronics, gerencia mais de 400 pontos de coleta no território nacional onde recebe em torno de 450 toneladas de materiais eletrônicos por mês. “Isso representa menos de 2% de produtos que as marcas colocam no mercado”, diz Mileide Alves Cubo, gerente de operação da companhia.

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A recicladora Sinctronics recebe em torno de 450 toneladas de materiais eletrônicos por mês. Isso representa menos de 2% de produtos que as marcas colocam no mercado. Foto: Recicla Sampa

Boas práticas

Exemplos de boas práticas não faltam. Atendendo à crescente demanda de empresas, do governo e da sociedade para criar alternativas para a coleta e tratamento adequado dos eletrônicos no final de sua vida útil, a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) criou em 2016 a entidade Green Eletron (Gestora para Logística Reversa de Equipamentos Eletrônicos).

A Green criou um sistema coletivo para otimizar a logística reversa das empresas participantes da associação de forma mais rápida, econômica e eficiente. A iniciativa não é limitada apenas às companhias que fazem parte da Abinee. Qualquer empresa brasileira que atue na produção, importação ou comercialização de equipamentos eletrônicos pode participar.

Apesar disso, a entidade ainda encontra dificuldades em convencer a maioria das companhias a participarem da logística reversa. Hoje, ela conta com 228 Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) em 75 cidades do Estado de São Paulo e um no Distrito Federal.

“Disponibilizamos PEVs em lojas do varejo, shopping centers, instituições empresariais, entidades de ensino, e contamos principalmente com a participação dos consumidores para descartar seus produtos e darmos um destino ambientalmente adequado”, diz Ademir Brescansin, gerente executivo da Green Eletron.

Desde o início das operações da Green Eletron, em 2017, a entidade conseguiu destinar para a reciclagem cerca de 445 toneladas de materiais eletrônicos. Em 2019, foi possível o reaproveitamento de aproximadamente 100 toneladas de metais ferrosos (ferro fundido, aço e suas ligas) e não-ferrosos (cobre, estanho, zinco, chumbo, e outros) pela indústria siderúrgica, diminuindo a necessidade da extração de matérias-primas virgens da natureza. Aproximadamente, 47,5 toneladas de plástico foram recicladas, fazendo com que 69 toneladas de CO2 deixassem de ser emitidas.

“Atualmente, a Green Eletron conta com dois parceiros que fazem a desmontagem e destinação correta dos aparelhos eletroeletrônicos, a Sinctronics e a GM&C. Os operadores são especialistas no manuseio dos produtos e na transformação em matéria-prima para o setor industrial”, conta Brescanin.

Processo de reciclagem

Para se ter uma ideia da operação da logística reversa da Green Eletron, todos os itens descartados nos coletores da gestora são transportados para a Sinctronics e a GM&C. Os eletroeletrônicos chegam nas instalações em big bags, caixas de papelão ou em bombonas plásticas.

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Big bags com lixo eletrônico que será reciclado. Foto: Green Eletron

Os produtos passam por uma separação. A equipe que participa do processo realiza a triagem por tipos de materiais, em que os eletrônicos, de acordo com suas especificidades, são separados das demais impurezas. Cada componente terá a sua destinação correta, mas serão processados em grupos diferentes. 

Após a triagem, uma máquina de última geração faz automaticamente a trituração e separação dos materiais presentes nos eletroeletrônicos.

 

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O resultado da trituração dos metais presentes em celulares. Foto: Green Eletron

A tecnologia para fazer a reutilização dos metais preciosos, ainda é ínfima no Brasil. Por isso, as recicladoras, geralmente, as encaminha para empresas europeias para que sejam reutilizadas em outras indústrias, como por exemplo as de joias.

Com as matérias-primas separadas e trituradas, é hora de levá-las para as indústrias que vão produzir novas mercadorias, que variam desde novos eletroeletrônicos até assoalhos e cimento.  

São Paulo

A cidade de São Paulo abriga outra boa prática que recicla eletroeletrônicos, a Coopermiti, uma das principais referências brasileiras na área da logística reversa no setor. “Fomos a primeira cooperativa brasileira a ter licenciamento ambiental da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) para receber os equipamentos e desmontá-los para a reciclagem”, explica Alexandre Luiz Pereira, presidente e idealizador da cooperativa de materiais eletrônicos.

"É muito comum as pessoas associarem lixo eletrônico só com computador e com celular. Esquecem que secador de cabelo, liquidificadores e sanduicheiras são lixos e-lixos também. Tudo que funciona com eletricidade, inclusive com pilhas e baterias, entram nessa categoria".

Caso você tenha em sua casa aparelhos eletrônicos que precisam ser descartados, não deixe de procurar a Coopermiti, que fica na rua João Rudge, 366, na Casa Verde Baixa, zona Norte da capital. Você também pode encontrar um local mais próximo que receba esses materiais aqui.

Confira os pontos de descarte de lixo eletrônico na capital paulista. Clique aqui.

Texto produzido em 19/12/2019


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