03 de Junho de 2019,12h00
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Medidas simples no dia a dia podem ajudar a reduzir as 20 mil toneladas de resíduos gerados na cidade de São Paulo. É com essa intenção que o Instituto Lixo Zero, organização sem fins lucrativos, em parceria com a Casa Causa, consultoria para pessoas e empresas que desejam gerar menos lixo, reuniu o setor público, privado, especialistas e associações na Unibes Cultural, zona Oeste de São Paulo, em 28 de maio.
O chamado Encontro Lixo Zero 2019 chegou à sua terceira edição com o tema "O lixo nosso de cada dia", reunindo cerca de mil pessoas que transitaram entre o teatro e o terraço da instituição, a fim de participarem de painéis e rodas de conversas que discutiram, entre diversos temas, soluções para o lixo na capital, economia circular e como as tecnologias podem mudar o cenário dos resíduos.
A megalópole paulista produz, todos os dias, 12 mil toneladas de resíduos domiciliares, o equivalente a 3,6 milhões de toneladas por ano. Apenas 7% desse volume é reciclado. Esses dados deram a tônica da discussão de abertura do evento sobre a questão do lixo na cidade, no Painel 1 – São Paulo: Soluções para a cidade e seus cidadãos.
Representado por Felipe Soutello, o Movimento Recicla Sampa esteve presente na mesa e defendeu a conscientização por meio do acesso à informação. “É preciso que as pessoas acreditem que ao separar o lixo em casa, o material será efetivamente reciclado”, disse Felipe. “Por isso, decidimos investir na construção de conteúdos voltados ao assunto”.
Também integrante do debate, o líder comunitário Ionilton Aragão, criador do projeto Varre Vila, defendeu que para resolver a questão do excesso de lixo na cidade é preciso mudar o jeito de pensar. Natural de Ibiquera, na Bahia, percebeu uma grande diferença entre a maneira como o paulistano lida com seu lixo.
“Se entendêssemos que todos nós precisamos cuidar do lixo que está na porta da nossa casa, em cinco minutos poderíamos limpar e mudar uma vila, ou melhor, uma vida”, disse.
O painel também contou com a presença de Roberto Fernandes, assessor parlamentar do vereador Reginaldo Tripoli, representando o poder público. De acordo com Roberto, “uma lei pode mudar uma cidade”. O exemplo foi a urgência da aplicação da lei que proíbe o uso de canudos plásticos na cidade. A Câmara de Vereadores de São Paulo acaba de aprovar a proibição do fornecimento desses materiais em estabelecimentos comerciais como restaurantes, bares, padarias e hotéis da cidade. O texto segue agora para sanção do prefeito Bruno Covas, do PSDB.
Presente na abertura do evento, Covas destacou medidas que demonstram que a capital está na vanguarda da sustentabilidade, como a assinatura do Compromisso Global da Nova Economia do Plástico, o maior plano de ações para reverter a crise do consumo plástico no planeta. “Só neste ano, vamos investir mais de 16 milhões de reais na ampliação da coleta seletiva e avançar na capacitação dos cooperados que ajudam nesse trabalho. Nosso compromisso é chegarmos até o fim da administração com 100% dos distritos com coleta seletiva”, disse.
Considerada um novo modelo de negócio no mundo, a economia circular é a melhor opção para unir fabricação de produtos sustentáveis com empreendedorismo sem poluir o meio ambiente. O assunto foi tema do Painel 2 – Economia Circular: muito além da reciclagem e reuniu empreendedores que apresentaram cases para essa nova economia.
Ao lado de seus sócios, o carioca Marcelo Ebert, CEO da YVY, empresa de produtos naturais para limpar a casa, criou cápsulas de limpeza por assinatura em que a pessoa recebe um novo material todo o mês. É só reabastecer a embalagem grande com o que vem pelo correio. A aposta é conhecida como o “Nespresso da Limpeza” no mercado. “O design já foi pensado junto com a logística reversa”, conta o empreendedor.
Claudia Leite, profissional da Nespresso, compartilhou que a empresa investe 5 milhões de reais na reciclagem das cápsulas no Brasil. Além disso, ela explicou que as máquinas também podem ir para reciclagem ou serem devolvidas na empresa, pois são feitas com plástico reciclável. “Descobrimos que nossos clientes são pessoas que defendem a logística reversa, pois mais de 80% têm acesso à reciclagem”, disse.
Desenvolvimento e modernização foi o tema do Painel 3 – Inovação: Como as novas tecnologias mudam o cenário dos resíduos. Para acelerar a logística reversa na cidade de São Paulo, o empresário Henrique Ruiz criou o Cataki. Conhecido como Tinder da Reciclagem, o aplicativo conecta catadores a qualquer pessoa que deseja descartar o material reciclável. A solução rendeu premiações internacionais.
Considerado uma das 10 maiores inovações tecnológicas do planeta por um observatório independente, que estuda os impactos das tecnologias digitais, o aplicativo tem parceria com a Unesco, o orgão da ONU para a Educação, Ciência e Cultura. “Entre catadores e interessados em que os recicláveis sejam recolhidos, o Cataki tem mais de 70 mil usuários”, disse Henrique.
De catador a empresário, a história de Luis Fernando Ussuhi, criador do Anjos de Prata, também é um exemplo de empreendedorismo. O profissional recolhia latinhas pela cidade de São Paulo, principalmente em restaurantes, mas não detinha tecnologia para prensar o material antes de vendê-lo. Pensando em solucionar a questão, ele idealizou um equipamento que é acoplado às lixeiras de estabelecimentos comerciais, em formato de caixa, que amassa de forma automática o material. “Parece simples, mas isso facilitou a vida de muito cooperado”, disse à plateia.
Diferente dos demais participantes da mesa, Salvador Iglecias, da Saveadd, atua como consultor em empresas desde o início. “Atuamos para que o empresário não gere resíduos desnecessários”, destacou. Na consultoria, Salvador faz um forte trabalho de prevenção. O intuito é que a companhia economize no seu modelo de administração.
Já a empresa de Raphael Guiguer, a Greening, ajuda empresas a gerar soluções criativas, sustentáveis e inovadoras de economia circular por meio do gerenciamento de resíduos focando na redução de custos operacionais e garantia de aumento nas receitas. “Com nossos clientes, queremos reduzir a geração de resíduos e garantir que a destinação seja sempre adequada”, completou Raphael.
A urgência em apresentar soluções aos resíduos sólidos é de maior interesse da sociedade e o aumento de quórum no terceiro ano de realização do evento comprovou isso. Os três painéis de discussão contaram com lotação máxima e as rodas de conversa sempre com pessoas em pé, mais do que o esperado pela organização, que ficou bastante satisfeita com o resultado. “Na primeira edição, em 2017, contamos com poucas pessoas em uma sala de biblioteca”, disse Flávia Cunha, embaixadora do Instituto Lixo Zero e organizadora da ação.
Além dos painéis de discussão, o Encontro contou com a exposição de produtos naturais de beleza, soluções para bitucas de cigarro e produtos inusitados feitos a partir de material reciclado, como pranchas de surf. O local também reuniu interessados em discutir abertamente sobre resíduos gerados pelo mercado de cosméticos; empreendedores que mudaram suas vidas para atuar com resíduos; catadores e movimentos periféricos, para quem o resíduo é solução; e estratégias de engajamento para sustentabilidade e regeneração do planeta.
Texto produzido em 03/06/2019
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