11 de Dezembro de 2020,00h03
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Numa manhã fria de inverno, a chinesa Li Min, de 60 anos, segue o ritual que mantém há pelo menos seis meses: levar sacos de restos de comida para uma estação de lixo que fica próxima ao condomínio onde mora, na região de Jinsong, em Pequim. Ao entregar sua sacola, um funcionário pesa a bolsa e a recompensa com pontos.
“Ganhei quatrocentos ou quinhentos pontos e troquei por muitas coisas úteis, como papel higiênico, sabão em pó, almofadas e outras coisas”, disse em entrevista ao jornal China Dialogue.
O programa a qual se refere Li Min é uma tática criada para atender a uma norma governamental em relação à separação dos resíduos nas principais cidades chinesas. Desde 2017, uma política pública para a triagem obrigatória do lixo foi sancionada na China.
Para aumentar ainda mais a pressão sobre as municipalidades, em 2018, em visita a Xangai, o presidente da China, Xi Jinping, comunicou que implementaria uma nova política para a gestão de resíduos no país, olhando com mais importância para esse problema considerável.
Atualmente, o sistema de troca de pontos por resíduos tem sido testado em algumas cidades. Em outubro do ano passado, 104 desses municípios e 342 distritos e condados realizavam a coleta seletiva, segundo a empresa ambiental Environmental Compass.
A comunidade de Li Min, por exemplo, iniciou os testes da coleta seletiva em 2017. De acordo com o veículo de comunicação, Beijing Evening News, 73% dos 1.167 lares dessa região estão participando. Um quilograma de alimentos vale dois pontos e um quilo de recicláveis equivale a 10 pontos. Depois de acumular 30 pontos ou mais, a pessoa pode trocar por utensílios domésticos.
De acordo com outra moradora de Jinsong, a comerciante Zheng Hongmei, de 45 anos, o descarte correto dos resíduos, principalmente o de alimentos, tornou o local mais limpo.
Já no distrito Wuxing, na cidade de Hanghzou, a prática é trocar os resíduos por alimentos frescos, como ovos e vegetais, e também por produtos de limpeza. Apesar da praticidade do esquema de pontos, há críticas com relação ao mau cheiro no local.
“Uns criticam e querem que as estações sejam retiradas e outros falam que os locais de depósito estão muito longe de suas casas. Há também uma parcela de pessoas que não se atenta e mistura o lixo orgânico com o reciclável. É difícil agradar a todos”, disse o funcionário de uma dessas estações de coleta, Zhao Ming, ao China Dialogue.
Alguns aplicativos de recolhimento dos recicláveis podem ajudar na questão da distância das estações de recebimento de lixo. Li Min, porém, pondera que a ferramenta gera dificuldades para pessoas idosas, causando um abismo com essa parcela da população.
Apesar dos esforços governamentais, alguns especialistas do setor questionam o sistema de recompensas, argumentando que são insustentáveis em larga escala e falho ao incentivar as pessoas a reduzirem o desperdício.
É o caso de Chen Liwen, criadora da fundação China Zero Waste Alliance. Ela acredita que as recompensas por pontos podem incentivar a criação de mais resíduos a fim do bônus da troca, o que não ajuda a reduzir a quantidade.
Já Song Guojun, pesquisadora de políticas públicas ambientais da Universidade Renmin, acha que a prática não é tão eficiente quanto gostariam que fosse. “A separação precisa ser uma atividade em massa para alcançar grande escala e esses incentivos não fornecerão a cobertura necessária”.
Especialistas acreditam que um sistema de monitoramento e punição pode ser mais eficiente para a redução do lixo. Na cidade de Guangzhou, por exemplo, os regulamentos feitos pela municipalidade em julho de 2018 estabelecem que quem produz resíduos deve pagar por sua geração. São aplicadas multas de até 200 renminbi (moeda chinesa), cerca de 114 reais, para quem não separar corretamente. Na cidade de Shenzen, as pessoas serão multadas se violarem os regulamentos de separação de resíduos.
Práticas para a melhor gestão do lixo no país asiático são urgentes. Em 2016, as 214 cidades de médio e grande porte da China produziram cerca de 190 milhões de toneladas de resíduos, segundo o Ministério do Meio Ambiente. O transporte do lixo aumentou quase seis vezes nos últimos 30 anos.
“Os sistemas de transporte e os métodos de triagem existentes não são adequados para lidar com quantidades tão grandes e crescentes de resíduos, mas isso significa apenas que devemos agir rápido para solucionar essa questão”, explicou Chen Liwen.
A mídia chinesa tem feito seu papel para conscientizar a população quanto a importância de ações urgentes e efetivas para a boa gestão do lixo. Uma série de reportagens feita por uma TV chinesa mostrou um vale, na cidade de Hangzhou, que ao longo de uma década ficou repleto de resíduos. Hoje, esse local produz quase 4 mil toneladas de água poluída por dia.
Atualmente, Pequim possui incineradores que não conseguem acompanhar o ritmo do excesso de materiais enviados a eles. A criadora da fundação China Zero Waste Alliance, Chen Liwen e sua equipe, trabalham há anos para incentivar a coleta seletiva e redução de resíduos no país. Ela disse que 30% de materiais recicláveis prontos para serem transformados em novos produtos acabam indo para o mercado informal, deixando alimentos e outros resíduos serem coletados sem triagem e enviados para aterros sanitários ou para incineração.
Há anos a China tenta uma gestão de resíduos eficiente. Desde 1957, o jornal Beijing Daily anunciou que os materiais seriam classificados por tipo. A coleta seletiva foi vista na época como uma tentativa de promover a reciclagem no país e poupar os recursos naturais que já começavam a se apresentar escassos. Porém, o documento que norteava esse assunto não se tornou público até os anos 90. Em 1996, a cidade de Pequim fez vários testes para implementar a coleta seletiva. Em 2000, o governo anunciou tentativas em oitos municípios, incluindo Xangai, Hangzhou e Nanjing.
Essas tentativas iniciais não ganharam força e ainda fazem com o que a China figure como um dos países que mais geram lixo no mundo. Em 2015, uma avaliação acadêmica sobre a gestão de lixo doméstico apontou que as ações para a coleta seletiva não reduziram a quantidade de materiais enviados para aterros sanitários ou incineradoras. O documento apontou, por exemplo, que a taxa de reciclagem do papel era apenas de 25%, o que significa que há ainda um enorme espaço para melhorias. O novo plano do governo, feito em 2017, prevê uma meta de reciclagem de 35% até o final de 2020.
Fonte: Eco-business
Texto produzido em 21/11/2019
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