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O que os Estados Unidos podem ensinar ao Brasil sobre reciclagem

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Reduzir o consumo do plástico foi a saída para conscientizar a população e evitar a poluição. Foto: Polina Tankilevitch / Pexels

Os Estados Unidos, assim como o Brasil, é um dos países que mais geram lixo no planeta. Enquanto estamos em quarto lugar, os americanos ficam na frente com a terceira posição, de acordo com dados do Banco Mundial. Apesar de grandes geradores de resíduos, os norte-americanos vêm implementando ações para reciclagem, coleta seletiva e práticas para minimizar as alterações climáticas causadas pela poluição.

As soluções criativas que dão resultados no país estão sendo alvo de estudos e discussão por parte de profissionais brasileiros, que pretendem tornar a reciclagem e as práticas sustentáveis mais eficientes. Entidades nacionais se mobilizaram e trouxeram especialistas ambientais dos Estados Unidos para palestrar e compartilhar as ações que executam.

As boas práticas foram compartilhadas no Seminário Internacional de Resíduos Sólidos – Intercâmbio Brasil X Estados Unidos, realizado em São Paulo. James Riley, vice-presidente da NWRA, associação que representa empresas de reciclagem norte-americanas, esteve no evento e enfatizou que a questão está na pauta americana desde os anos 60.

 “Em 1959, um rio no estado de Ohio estava tão poluído que pegou fogo. Isso foi impressionante e chamou a atenção do mundo sobre a importância de cuidar dos bens naturais”.

A partir deste episódio, políticos americanos foram criando leis e aplicando multas para frear a poluição ambiental. Essas atitudes ajudaram a fechar 19 mil lixões — locais que recebem resíduos indevidamente e sem nenhum tipo de cuidado — no período de 15 anos (saiba mais aqui). “O fechamento deu certo, pois diversos estados americanos aplicaram pesadas multas para aqueles que abriam ou mantinham esses lugares irregulares”, explicou Darrell Smith, presidente da NWRA. O executivo falou ainda sobre a implantação de aterros sanitários, áreas preparadas para receber os materiais de maneira ambientalmente correta (leia mais aqui).

O atual cenário dos Estados Unidos mostra que a sociedade está disposta a reciclar e diminuir a quantidade de resíduos que são enviados aos aterros sanitários. Alguns estados americanos já estão trabalhando com leis que incentivam essa realidade. A Califórnia é um deles. É nesse território que está situada a cidade de São Francisco, considerada a “capital verde” do país.

Kevin Drew, coordenador municipal de um programa chamado Resíduo Zero em São Francisco, esteve em São Paulo em 2019, convidado pelo Instituto Pólis, ONG que atua desde 1987 na construção de cidades sustentáveis, para explicar como o município conseguiu que mais de 85% de seus resíduos deixassem de seguir para os aterros.

Segundo o especialista, todos em São Francisco são obrigados a manter seus materiais recicláveis, orgânicos e rejeitos separados. Para ajudar a população com a separação dos resíduos, a Prefeitura colocou nas calçadas três grandes lixeiras nas cores azul (para recicláveis), verde (orgânicos) e preta (rejeitos).

 “A razão de separar o lixo em três é fazer com que as pessoas se forcem a pensar mais no que elas vão consumir e o que vão jogar nos contêineres”, contou Drew.

A cobrança de uma taxa para garantir a coleta e a reciclagem também foi, segundo ele, decisiva para que a população começasse a separar. Esse tributo serve para pagar o salário dos profissionais que lidam com os resíduos gerados pela sociedade.

Outra frente que tem sido explorada é a reciclagem dos orgânicos, realizada por meio da compostagem (método que transforma restos de frutas e outros tipos de alimentos em adubos). De acordo com Drew, o processo está sendo muito importante para o cultivo de hortifrúti livres de agrotóxicos nas fazendas próximas a São Francisco. “Nos últimos 20 anos, conseguimos produzir 700 mil toneladas de composto orgânico. Notamos que os alimentos ficaram mais saborosos”.

Estudos feitos pelo profissional e sua equipe têm mostrado que os solos que recebem esse adubo natural têm retirado mais CO2 da atmosfera. O composto químico está em excesso na superfície terrestre e, muitas vezes, é gerado por práticas poluentes como queima de combustíveis fósseis — petróleo. Ele pode ser o responsável pelo aumento da temperatura no planeta, que acarreta fenômenos climáticos inesperados, estações do ano indefinidas e outros acontecimentos. “No país, a Califórnia está à frente de todos os estados neste assunto e tem conseguido avançar em práticas para solucionar o aquecimento global”, disse.

Kevin admitiu que, apesar de ser exemplo na reciclagem, o estado não tem atuado da forma correta na reinserção desses produtos reciclados no mercado interno. Desde que a China parou de comprar os materiais, os Estados Unidos têm enfrentado uma crise no setor. Darrell Smith corroborou a fala do colega e aconselhou os brasileiros a diversificarem as opções de negócios no segmento. “Invistam em outras frentes, como usinas recicladoras para consumo próprio e em outros países compradores de recicláveis. É o que estamos tentando fazer agora”, disse.

Menos plástico

Outro desafio que vem sendo enfrentado pelos ambientalistas norte-americano é com relação à conscientização da população, estimulando o consumo de produtos que possam ser reciclados. “Explicamos para a população que nem todo resíduo é reaproveitável. Ao mesmo tempo, dialogamos com fabricantes para que não misturem substâncias diferentes em um único produto para facilitar o processo da reciclagem”, explicou Anne Germain, vice-presidente da NWRA.

Reduzir o consumo do plástico foi a saída para conscientizar a população e evitar a poluição. Kevin Drew compartilhou que até 2022 São Francisco não terá mais nenhum tipo de embalagem descartável de um “uso único” como canudinhos, copos e talheres.

Vizinha de São Francisco, a cidade de Berkeley, está seguindo seu exemplo e obrigando os munícipes a levarem seus próprios copos para restaurantes e lojas de fast-food. “Essas ações são para reeducar o cidadão a criar uma economia circular, aquela que reutiliza os materiais e mantém o meio ambiente intacto”, concluiu. 

Texto produzido em 10/09/2019


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