11 de Marco de 2020,12h00
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Indispensável para a humanidade até mesmo antes de Cristo, os esmaltes enfeitam as mãos da sociedade desde 3.500 a.C. Há registros históricos de que os egípcios pintavam-se com hennas e as paletas mais vibrantes eram da realeza. Cleópatra, por exemplo, tinha preferência por tons vermelhos. Foi somente na década de 1920 que foram descobertas fórmulas que se parecem com os produtos atuais. Das mais variadas cores e marcas, a maioria dos esmaltes é fabricado com substâncias plásticas que mantém a durabilidade.
O problema é que os químicos contidos neles são nocivos à natureza e precisam ser descartados corretamente. Em qualquer lançamento indevido no ecossistema, o produto pode contaminar a água e, se incinerados, podem se transformar em gases tóxicos.
Gerados em grandes quantidades nos salões de beleza e esmalterias, esses materiais deveriam ser descartados da maneira adequada por esses locais, mas muitas vezes eles são jogados no lixo comum.
Em São Paulo, já existe um programa chamado Beleza Verde, da empresa de reciclagem Dinâmica Ambiental, que recolhe os esmaltes gerados pelos estabelecimentos de estética e realiza o processo de reciclagem, inclusive os líquidos que sobram no vidro. A iniciativa possui 30 clientes que pagam uma mensalidade para que esses produtos sejam reciclados.
Entre esses clientes está o salão Studio Lorena, no bairro Jardins, zona Oeste da cidade. Com 12 manicures na operação, desde setembro de 2017, o espaço armazena os esmaltes para reciclagem.
“Acreditamos que cada um precisa contribuir com a natureza e, como somos um salão de beleza, essa é nossa forma de ajudar o meio ambiente”, conta a coordenadora administrativa, Lídia Callado.
Além de armazenar o que consome internamente, o salão também recebe os produtos dos frequentadores, consumidos fora do estabelecimento.
Ao serem recolhidos pelo programa Beleza Verde, os esmaltes do Studio são encaminhados para a Dinâmica Ambiental. Situada em Diadema, na região do ABC paulista, a empresa colocará os esmaltes em uma espécie de centrífuga que, com o movimento, descolará o líquido restante do vidro.
“Não utilizamos nenhuma química, é só a força de movimento da máquina”, conta Márcio Mattana, coordenador da iniciativa.
O esmalte restante possui tolueno, um solvente que não deixa o produto endurecer. Esse composto pode ser reciclado e virará tinta para pintar peças de alumínio e metais. O vidro e o plástico que compõem a embalagem são enviados para as cooperativas de reciclagem.
Se algum esmalte vencido não for descartado e ainda estiver em uso nos salões, órgãos fiscalizadores podem multar o estabelecimento de beleza. De acordo com a dermatologista, Ana Paula Rodrigues, produtos fora do prazo de validade podem causar irritações, alergias, coceiras e escamações na pele.
“Geralmente, os incômodos não aparecem nas unhas e sim na cutícula, no rosto, principalmente na pálpebra dos olhos, no pescoço e outros lugares que a pessoa tocou”, explica a médica.
Caso o Procon-SP encontre esmaltes vencidos, os salões de beleza serão notificados e têm prazo de até 15 dias para apresentar a defesa. Se o argumento não for aceito, o estabelecimento pode ser multado entre R$ 600 e R$ 9 milhões, dependendo da gravidade da infração.
Para os salões que não possuem condições financeiras para manter um programa de reciclagem, o esmalte vencido pode ser descartado derramando todo o líquido em uma folha de papel.
É necessário esperar alguns minutos até que a química evapore, assim, o papel poderá ser descartado no lixo comum. Como o esmalte já estará seco, seu conteúdo evaporará. Se o produto estiver duro, coloque um pouco de removedor dentro do vidro e mexa até dissolver e depois faça o descarte.
Com o vidro e o plástico da tampa que sobram, pode-se levar até o ponto de coleta mais próximo ou descartar na lixeira da coleta seletiva.
Existe um grupo de pessoas que são conscientes da composição química do esmalte, que pode ser nociva ao meio ambiente, e optam em não usar mais o produto. Entre esses adeptos, está a influenciadora e consultora de moda, Giovanna Nader.
Ela relata que há meses se libertou da rotina semanal de fazer as unhas e tem preferido deixá-las de modo natural. Para ela, os esmaltes são cheios de componentes químicos cancerígenos e com substâncias que não são biodegradáveis.
“Isso significa que tudo que ele toca ficará nesse mundão por milhares e milhares de anos, como o algodão que usamos para removê-lo, o palitinho para limpá-lo e até o vidrinho que, se contaminado pelo esmalte, não pode ser reciclado”, postou em seu Instagram.
Na mesma postagem, apesar de publicar sobre os efeitos nocivos dos esmaltes, ela relata que é difícil aderir a essa atitude radical. Para as pessoas que ainda gostam de pintar as unhas, ela indica procurar por salões que possuem o selo do programa Beleza Verde, pois têm garantia que os produtos serão levados para reciclagem.
Beleza Verde
(11) 99747-7931/ 4056-5999
Salão Studio Lorena
Alameda Lorena, 1998, Jardins, São Paulo
(11) 3016-8899
Texto produzido em 08/01/2020
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