Recicla Sampa - Alumínio, orgulho nacional
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Alumínio, orgulho nacional

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“Pode ter certeza: um material que não é encontrado no aterro sanitário é a latinha”, conta Juliana da Silva. Com apenas 34 anos, a moça lidera uma equipe de 17 catadores de resíduos na Cooperativa Vitória do Belém, onde atua como vice-presidente. Além de cuidar da separação em papel branco, papel misto, sacolinhas e latinhas de alumínio no centro de triagem instalado na zona Leste de São Paulo, administra e coordena o espaço.

Criada com o apoio da ONG Reciclázaro, a Vitória do Belém é responsável por separar de 200 a 300 quilos de latinhas de alumínio por mês, quantidade que corresponde a 1.200 reais. O processo passa pela abertura dos sacos no transbordo, triagem com separação manual, prensa do material e venda para a indústria. A arrecadação representa cerca de 4% da renda mensal retirada pela cooperativa.

“O que recebemos do material hoje é muito pouco se você imaginar uma cidade com a grandiosidade de São Paulo. Mas isso é reflexo de um desemprego, que faz com que as pessoas, mesmo sem ligação com as cooperativas, façam a coleta desse material para terem seu sustento”, conta Juliana. 

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Alumínio é infinitamente reciclável. Foto: Recicla Sampa

A coleta do alumínio injetou R$ 1,2 bilhão na economia nacional, segundo os últimos dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas) e da Associação Brasileira do Alumínio (Abal). Cerca de 97,3% das embalagens vendidas, em 2017, retornaram ao ciclo produtivo, alcançando a marca de 295,8 mil toneladas de latinhas recicladas. Desde 2004, o Brasil mantém esse índice acima dos 90%, percentual que faz com que o país figure há anos entre os líderes mundiais em reciclagem de latas de alumínio para bebidas.

Motivo de orgulho para Juliana, o trabalho com a reciclagem de latinhas já lhe rendeu para além do sustento de suas três filhas adolescentes, uma reinserção social. "Quando eu puxava carroça, sofria discriminação, as pessoas me xingavam na rua. Hoje, não tem mais isso". Segundo a moça, a conscientização tem sido peça chave para que a população entenda a importância de um catador.

"Não é uma pessoa pegando lixo na rua, mas alguém fazendo um trabalho ambiental que todos deveriam fazer", conta.

Para chamar a atenção da sociedade para a reciclagem e sua importância, em 2015, ano em que o alumínio completava 25 anos de fabricação nacional, artistas plásticos pintaram quinze latas de alumínio com os rostos dos cooperados para mostrar que esse trabalho é responsável pelo sustento de muita gente. O projeto se tornou uma exposição, que rodou ruas da capital e outras cidades do Brasil. Hoje, os materiais criados enfeitam a entrada da Vitória do Belém.

A iniciativa contou com patrocínio da Novelis, maior produtora e recicladora de latas de alumínio do mundo, que há cinco anos compra os materiais da Cooperativa Vitória do Belém por um valor justo de mercado, garantindo a renda de milhares de famílias.

“A Novelis também nos apoia na parte de gestão e segurança do trabalho, oferecendo qualidade de vida para os cooperados”, explica Juliana.

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Cerca de 97,3% das embalagens vendidas retornam ao ciclo produtivo. Foto: Recicla Sampa

Líder na fabricação de laminados de alumínio e maior produtora de chapas para latas de bebidas do mundo, a empresa atua oferecendo qualificação e gerando maior produtividade em diversas cooperativas da cidade com projetos como o Gestão Solidária e o Crescimento Consciente.

Apenas entre 2018 e 2019, a Novelis desenvolveu iniciativas junto a dez entidades cadastradas pela Prefeitura de São Paulo: Caminho Certo, Mofarrej, Casa do Catador, Chico Mendes, Cooperpac, União, Associação 28, Parelheiros e Cooperleste. Em setembro de 2019, a empresa iniciou novo mapeamento para a criação de novas parcerias com cooperados que tenham interesse em participar de seus projetos.

Transformação em matéria-prima

Com atuação há 42 anos no segmento de reciclagem de alumínio, é na sua fábrica, localizada em Pindamonhangaba, interior de São Paulo, onde acontece o milagre da transformação das latas em bobina de alumínio. Com capacidade de reciclar mensalmente 300 mil toneladas de sucata, o espaço recebe material proveniente dos centros de coletas da empresa espalhados pelo país.

Ao desembarcarem na fábrica, os fardos passam pelo processo de preparação, onde as latinhas são separadas. Com o auxílio de máquinas, as latas são levadas para uma etapa de retirada dos metálicos, onde sistemas mecanizados de sopro e uma peneira rotativa são responsáveis pela atividade. Após serem lavadas e ficarem livres de outros resíduos e do verniz utilizado na impressão dos rótulos, as latinhas são levadas ao forno em temperatura de 760°. Nesta etapa, são transformadas em alumínio líquido e, depois, em grandes placas.

O material é novamente aquecido e laminado por diversas vezes até ganhar uma espessura bastante fina (0,2 milímetros), permitindo que ele seja enrolado e transformado em bobinas de alumínio, um rolo gigante que pesa cerca de 13 toneladas com quase um quilômetro de extensão. Essas bobinas partirão para as fábricas de embalagens, onde serão transformadas em novas latinhas.

Segundo a empresa, o processo de reciclagem consome apenas 5% de energia elétrica e reduz em 94,5% as emissões de gases de efeito estufa se comparado ao processo com alumínio primário.

“Setenta por cento de toda a nossa matéria-prima vem da reciclagem do alumínio", conta Gustavo José de Faria, gerente de negócios da Novelis.

Fábrica de latas

Considerada a maior fabricante de latas de alumínio para bebidas do mundo, a produção da Ball Embalagens conta com 80% do material oriundo da reciclagem. O processo de fabricação das latinhas que vemos no mercado começa com a chegada dos rolos de alumínio à fábrica. Cada bobina pode dar origem a 1, 5 milhão de latas, segundo Marcos Rosa, gerente de produção da empresa.

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Multinacional fabrica 2.200 latas por minuto. Foto: Recicla Sampa

Envolvido por um óleo que facilita a prensa durante o processo, o material é transportado para máquinas que recebem o nome de body makers, responsáveis pelo formato de copo da lata e o corte do processo. Na próxima etapa, esse material passa por um estiramento, onde a lata é alongada e afinada, recebendo o fundo. Em seguida, o material é lavado. "Após essa etapa, a lata sai totalmente pronta para ser impressa. São 2.200 latas por minuto", explica Marcos.

Devidamente sinalizadas, as latinhas passam pela chamada paletização, onde são formados os pacotes que serão direcionados às empresas de envasamento. Enquanto não saem para seu destino final, elas são depositadas no armazém da Ball Embalagens, com capacidade para 100 milhões de latas.

"Todo dia que eu olho isso e fico impressionado", diz Marcos em frente às pilhas de materiais.

Depois que o alumínio ganha forma de latinha, é distribuído para diversas indústrias de bebidas do país.

O envasamento

Cerca de 15 milhões de latas embalam, por mês, mais de 170 produtos na NewAge, indústria de bebidas. Entre bebidas energéticas, cervejas premium, sucos, chás e refrigerantes, a empresa envasa 250 mil litros por dia, o que representa cerca de meio milhão de latas. Segundo Gilmar Aparecido, coordenador de qualidade da empresa, a primeira etapa desse processo de envasamento de bebidas é a despaletização, onde as latinhas são separadas para passarem pela lavagem, na máquina chamada de rinser.

Em seguida, o material segue para a área de envasamento, onde é preenchido pela bebida que corresponde à sua embalagem. Após serem recravadas, método que coloca a tampa dentro da latinha, o processo ainda conta com as etapas de secagem, codificação, inspeção de nível e paletização para, assim, seguirem ao consumidor final.

Reciclagem de sucesso

Presente na vida dos brasileiros há quase três décadas, a latinha de alumínio mudou o cenário do mercado de bebidas. Dados da Abralatas indicam aumento no consumo da embalagem em 2018, com acréscimo de 8,5% nas vendas, o que representa um número recorde de 26 bilhões de unidades comercializadas no ano. A expectativa da Associação para o ano de 2019 é um crescimento de 5% nas vendas.

Empresas do setor também apostam na expansão. A Novelis, por exemplo, estima repetir o desempenho do ano anterior que representou para a empresa alta de 15,7%. O investimento na expansão da fábrica também está entre os planos, com aumento da capacidade de produção de chapas em 100 mil toneladas e de reciclagem em 60 mil toneladas ao ano, o que resultaria em uma capacidade total de reciclagem da empresa de 450 mil toneladas.

Os dados revelam que todo trabalho realizado representa um verdadeiro orgulho nacional. Além de contribuir para a economia, o ciclo de reciclagem do alumínio faz parte de um grande processo de preservação do meio ambiente, que diminui o volume de resíduos que poderiam ir para aterros sanitários. Sem falar do estímulo que representa para a reciclagem de outros materiais. A melhor notícia é que, além de ser atóxico e resistente, o alumínio pode ser reciclado infinitamente.

 

Texto produzido em 03/07/2019


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