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Os caminhos do plástico

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Por que falamos tanto do plástico ultimamente? Afinal, esse produto que é tão abundante no mundo é bom ou ruim? Para responder a essas questões, precisamos compreender a história desse material. O plástico surgiu como um composto criado em laboratório que tinha como principal objetivo revolucionar a rotina, levando praticidade ao dia a dia das pessoas.

O nome escolhido para essa descoberta química foi “Plastikós”, originário do grego que significa “adequado a qualquer moldagem”. Realmente, ao longo do tempo seus usos foram sendo tão variáveis e para tantas utilidades que, por vezes, não percebemos a enorme quantidade de itens produzidos com esse material e que estão espalhados na nossa vida. Para se ter uma ideia, atualmente, até agulhas de metal para tirar sangue estão sendo substituídas pelo material. E há quem diga que o procedimento fica até menos dolorido.

Diante de tanta praticidade, qual o problema, afinal? A questão envolvendo o plástico passa diretamente pelos impactos negativos que ele causa ao meio ambiente, já que o material demora cerca de 400 anos para se decompor na natureza.

Imagina assistir o componente se decompondo nesse período. Morreríamos e ele ainda estaria lá, intacto. O experimento já existe: é possível acompanhar ao vivo a decomposição de uma garrafa PET. A ação foi lançada pelo WWF-Portugal (World Fund for Nature), ONG internacional comprometida com a preservação da natureza, no final de março de 2019. O live stream mais longo do mundo é uma ação para chamar a atenção do planeta sobre a poluição do plástico nos oceanos.

“O objetivo é incentivar as pessoas a assinarem uma petição, que está no portal do live stream, chamada Zero Plásticos na Natureza e, desta forma, queremos pressionar políticos para a necessidade de termos um novo acordo para a saúde da natureza e das pessoas”, contou ao Recicla Sampa, Angela Morgado, diretora-executiva do WWF-Portugal.

O WWF acredita que a crise provocada pela poluição desse componente pode ser encerrada numa única década se todos os setores mundiais se empenharem na salvação das águas e da vida marinha.

De acordo com a entidade, a situação dos nossos oceanos com o acúmulo de plástico é preocupante. Cerca de 8 milhões de toneladas de resíduos plásticos vão parar nos mares todos os anos causando a morte de animais marinhos que se asfixiam confundindo o material com comida ou se acidentam ao mínimo contato com o componente.

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O plástico demora cerca de 400 anos para se decompor na natureza. Foto: Freepik

Para o oceanógrafo Alexander Turra, referência no Brasil em pesquisas em lixo no mar e integrante do Instituto Oceanográfico da USP (Universidade de São Paulo), 20% dos itens (sendo a maioria plástico) encontrados no oceano são redes de pesca fantasma e outros 80% são materiais provenientes de atividades na terra.

“O hábito de jogar o resíduo fora da lixeira contribui com esse cenário alarmante”.

Em São Paulo e no Rio de Janeiro, por exemplo, onde tem ocorrido muitas chuvas, todo o plástico jogado indevidamente na rua pode parar nos rios e depois no oceano, de acordo com o acadêmico.

A quantidade de plástico depositada em locais impróprios é tão grande que a ONU já o considera o vilão número um do planeta. Desde os anos 50, quando começou a ser utilizado industrialmente, a produção do plástico aumentou duzentas vezes. Dados do WWF revelam que apenas em 2016 foram produzidas 396 milhões de toneladas do material no mundo.

A temática ganhou a atenção das maiores potências mundiais, que vêm se desdobrando para buscar opções que eliminem o plástico de uso único. Um dos gatilhos responsáveis por essa comoção foi a cena de uma tartaruga encontrada por pesquisadores com um canudinho plástico em sua narina. O vídeo soma hoje mais de 38 milhões de visualizações e potencializou discussões em torno do uso do material, motivando até campanhas de personalidades e marcas globais contra o produto.

No Brasil, o tema ganhou atenção do poder público, que passou a investir em leis para acabar com plásticos descartáveis e pela proibição da utilização de canudos plásticos em diversas cidades. Em São Paulo, até mesmo uma exposição de fotografia colocou o produto como tema central, propondo reflexões sobre seu consumo e descarte.

O cenário é ainda mais grave se considerarmos que até 2030 a tendência é crescer em 40% o volume desse material. Mais: de todo o plástico produzido na história, apenas 9% foi reciclado. O Brasil recicla apenas 2%.

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De todo o plástico produzido na história, apenas 9% foi reciclado. O Brasil recicla apenas 2%. Foto: Photogenia / Freepik

Apesar disso, segundo pesquisa encomendada pelo PICPlast (Plano de Incentivo a Cadeia do Plástico), o total de resinas pós-consumo recicladas em 2018 foi de 757,6 mil toneladas. O Plano de Incentivo tem como parceiros a ABIPLAST (Associação Brasileira da Indústria do Plástico) e a Braskem, companhia brasileira do ramo petroquímico.

“Com a reciclagem, foram atendidos diversos mercados, entre eles o de construção civil, na fabricação de molduras, conexões e mangueiras, o de utilidades domésticas, na fabricação de lixeiras, além do segmento de higiene pessoal e limpeza doméstica, na fabricação de embalagens, por exemplo”, conta José Ricardo Roriz Coelho, presidente da ABIPLAST.

Ainda de acordo com o representante da entidade, a maior dificuldade no Brasil para aumentar a reciclagem do plástico se refere à gestão de resíduos como um todo. “A ausência de coleta de materiais adequada e acessível a todos tem como resultado o baixo volume de resíduos que chegam aos recicladores. Somado a isso, temos um sistema tributário desatualizado, criando um efeito dominó e que impede o avanço da reciclagem desse item”.

Ainda dá tempo

A boa notícia é que o cenário não é irreversível e ainda há tempo de mudarmos hábitos e salvarmos o planeta. O primeiro passo é refletir sobre a real necessidade do uso desse material: realmente precisamos de tanto plástico assim? Reduzir a quantidade e consumir de forma mais consciente são etapas fundamentais para começarmos a mudar essa história.

Mas não podemos esquecer do passo seguinte: se não tivermos escolha e o uso do plástico for inevitável é preciso descartá-lo no local certo para garantir que a reciclagem seja feita.

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Realmente precisamos de tanto plástico assim? Foto: Jcomp / Freepik

A reciclagem do produto

Existem vários tipos de plásticos, mas os dois principais são: os termofixos, que são considerados de vida longa, ou seja, costumam permanecer mais tempo no nosso cotidiano e são utilizados na produção de TVs e celulares, por exemplo. E os termoplásticos, ou de vida curta, que compõem embalagens que descartamos após o uso. Estes representam mais de 30% de toda demanda de produção.

A reciclagem do plástico é considerada a mais complexa dentre todos os outros materiais (alumínio, papel, aço, entre outros). Isso porque sua composição é bastante variável, implicando com que alguns tipos possam ser reciclados apenas uma vez e outros várias vezes.

De acordo com o bioquímico Mateus Mendonça, o grupo mais fácil de se reciclar é o dos termoplásticos (garrafas PET, acrílico, etc.), porque eles não sofrem alteração na sua estrutura química durante o processo de aquecimento e podem passar pelo processo de reciclagem diversas vezes.

Já os termofixos são mais duros e resistentes e, dificilmente, será possível moldá-los no processo de reciclagem. Chinelos, brinquedos e cabos de panela são exemplos dessa categoria.

“O material é projetado para ser resistente e duradouro, por isso é muito difícil quebrar a estrutura que os compõem e fazer a reciclagem”, explica o especialista, que trabalha há 12 anos com o tema.

O plástico é um material tão abundante que já existem usinas e empresas recicladoras só para o material. Depois que o resíduo é separado em casa, ele é enviado a uma central mecanizada de triagem ou a uma cooperativa.

É o caso da Coopera, localizada no centro da capital paulista. Cerca de 65 colaboradores trabalham todos os dias para separar manualmente os materiais para reciclagem. "A Prefeitura deixa os resíduos aqui e eles são distribuídos para todos", explica o presidente do local, João Campos.

O ajudante geral da Coopere, Manuel Soares, explica que o plástico é separado por tipo (PET, PEAD e outros). "Separar facilita na hora que precisamos vender".

Depois de selecionado, o material é prensado e vendido para empresas recicladoras. Para se ter uma ideia do valor, uma tonelada de plástico PET está em torno de 2.800 reais no estado de São Paulo, de acordo com tabela do CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem).

Nas usinas recicladoras, o processo de reciclagem mais comum é a mecânica, onde o produto é fragmentado (separado mais uma vez por tipo para redução de volume), lavado, separado e secado.

A partir daí, ele segue para o processo de extrusão, por meio do qual uma máquina deixa o plástico em formato de “espaguete”. Depois de resfriado, os fragmentos são cortados por uma ferramenta chamada “granuladora” e adquire a forma de grãos, que são embalados e despachados para uma fábrica.

Para Carlos Henrique Cardoso, presidente da Neuplast, empresa recicladora, a qualidade de um plástico reciclado comparado com um virgem é muito próxima. “É possível fazer um produto 100% com material reciclado, porém alguns fabricantes misturam com um novo para ter uma eficiência e resultado melhores”, explica.

Na Certec, fabricante de objetos plástico, os grânulos são transformados. “Eles entram numa máquina que chamamos de injetora, derrete o material e transforma em um novo produto, como placas de sinalização”, conta Antônio Gonçalves, encarregado da produção.

Um mal necessário

Apesar da guerra empreendida contra o plástico, há especialistas que defendem o material.

“Encaramos as tentativas de banimento como o avesso da solução. Proibir a utilização não educa, não promove a mudança no hábito das pessoas no que diz respeito ao consumo responsável e ao descarte correto”, diz Miguel Bahiense, presidente da Plastivida (Instituto Socioambiental dos Plásticos).

De acordo com o profissional, hoje contamos com uma indústria de reciclagem de plásticos que trabalha com ociosidade por falta de material a ser reciclado. “Ou seja, precisamos incentivar a coleta seletiva para que os plásticos possam gerar emprego e renda mesmo depois do final da vida útil dos produtos”.

Para Daniela Lerário, CEO da Triciclos, empresa de economia circular que ajuda multinacionais e outros setores em busca de soluções, o uso do plástico não é algo ruim. “O que não é bom é a forma como o usamos, em excesso, e como o descartamos incorretamente”, afirma.

Desde sua concepção na fábrica, a embalagem tem que ser pensada de uma forma que não agrida o meio ambiente, seja biodegradável para se decompor rapidamente na natureza ou possa ser reutilizada. Segundo Luciana Pellegrino, diretora da Associação Brasileira de Embalagem (ABRE), os invólucros são os responsáveis por garantir à sociedade produtos apropriados para o consumo, por isso sua importância não pode ser diminuída.

“Tem material que não pode ter contato com a luz, ou com o oxigênio e tem produtos que liberam químicas, por exemplo. As embalagens servem exatamente para garantir a segurança dos itens”, explica. Para ela, o importante é repensar a forma de produção e, principalmente, de descarte. “A questão é o que vai ser feito com esse material para que ele encerre seu ciclo de vida”, aponta Luciana.

Já existem empresas que estão olhando para isso de forma mais séria e criando produtos que são de plástico biodegradável. Exemplo disso é a Choose Water, garrafa criada por um químico britânico que se decompõe ao ser deixada na natureza. Multinacionais também vêm se posicionando sobre o uso do material em seus produtos e tomando posturas diferentes, como a Nestlé, a Coca-Cola e a Starbucks.

Você pode ajudar!

O seu papel é fundamental para a redução no uso do material ou para seu reaproveitamento, evitando que seja descartado de maneira incorreta. Uma boa dica também é verificar se a produção é feita por meio de plástico reciclável. Para isso, basta procurar o símbolo da reciclagem (aquelas setinhas que apontam uma para outra em formato triangular). Finalmente, é muito importante que haja a separação dos resíduos, garantindo que o produto seja encaminhado para o processo de reciclagem.

“Dentro de casa, mesmo que esteja misturado – papel, plástico, alumínio, é importante deixar o lixo reciclável limpo e seco”, conta Mariana Furquim Brasiliano, moradora de São Paulo que pratica a coleta seletiva junto com sua família. 

Caso você ainda não pratique a coleta seletiva, aí estão algumas dicas para começar desde já!

Faça sua parte!

Texto produzido em 20/12/2019


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